Peça da Exposição “Histórias do Universo dos Falantes”. Visite!

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FaladoresPara onde vão as palavras?

Estava um dia com alguns amigos e, por um breve momento, como costumava fazer quando era jovem, sai fora de mim por um instante. Desta forma, pude observar um pouco mais de longe, o modo como todos conversávamos.

Falávamos todos ao mesmo tempo. Abríamos nossas bocas sem cerimônia alguma.

Tinha a impressão de ver os pensamentos, em forma de palavras, pulando de nossos tubos bocais, em constante movimento. Era um blablabá desbocado e sem regras.

A agudeza de algumas vozes penetrava em meus ouvidos sentidos. Pareciam como pequenas setinhas pontiagudas, ardidas, fininhas.

Sentia meus ouvidos ou tímpanos como tambores e isso parecia tudo muito esdrúxulo: “Não é assim, não é?”. Pensei comigo.

De tudo falávamos: futebol, manchas na pele, vida alheia, filho alheio, dores da vida, vida das coisas. Mas uma palavra se destacava demais e, de forma rítmica, pontuava a eloquência das vozes.

A palavra era “eu sempre”…“eu quero”…“eu não gosto”…“eu gosto”…. “eu estou”…

Parei de falar e passei a ouvir. Eram tantos “eus”, que a minha mente começou a transformá-los em carneirinhos.

Então pensei em contá-los. Não consegui. Tentei encontrar um padrão escondido em sua cadência. Mas logo me perdia, pois me envolvia com o som que as vozes iam produzindo em suas cantorias febris.

Vozes, sentimentos, palavras, carneirinhos, misturavam-se de forma frenética. Uma  grande torneira de onde jorravam formas e cores, numa marcha impressionante e vertiginosa.

Pensei, filosofando boba: “Acho que falamos tanto “eu”, pois precisamos sentir que existimos, nem que seja em forma de carneirinhos e por um momento que seja”.

Continuando meu devaneio – devaneio vindo de um corpo que era apenas dois ouvidos e um meio cérebro – comecei a pensar: “Para onde estão indo as palavras que falamos? Será que voam e saem pelas janelas abertas? Se evaporam, tornam-se o que?”.

“Será que um dia poderão ser úteis para o universo? Ou será que poderemos, no futuro, transformá-las em energia renovável?”.

“Ou será que caem no chão, transparentes ficam lá, e a gente vai pisando nelas?”.

“Podem ter cheiros e algumas têm. Será que nos ouvem?”.

Parei um pouco, olhei para o chão como que me certificando de que não estavam lá, pois não queria pisar nelas!

“Coitadas! Será que são seres vivos e conscientes? “. Não sei ao certo se voam, ouvem, pulam ou se são seres. Única coisa que eu sei é que carregam em sua forma de ser, grandes poderes.

Por Lu Paternostro