Ilustração "Ingleses", da série "Imigrantes do Brasil". 
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Ingleses”, da série “Imigrantes do Brasil”.
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Ingleses

Os ingleses começaram a chegar ao Brasil muito antes da abertura dos portos às nações amigas, decretada pelo príncipe regente D. João VI, em janeiro de 1808, após sua chegada à cidade de Salvador. Nesse contexto, sua presença em terras brasileiras não era como imigrantes, mas “sob a forma de piratas, aventureiros e negociantes”, que desembarcavam nas praias descobertas por portugueses. O decreto promulgado pelo príncipe português na Colônia, marcou o início da imigração e fundação de colônias inglesas no Brasil, que acabou influenciando não só a economia, como também a vida social e cultural do povo local.

Foram, então, dados alguns direitos, dentre eles o direito de construir cemitérios e templos protestantes, direitos que favoreceram o aumento da influência econômica dos ingleses no comércio e, posteriormente, no processo industrial brasileiro, possibilitando a criação das primeiras fundições modernas, primeiras estradas de ferro, primeiros telégrafos, primeiras moendas de engenho moderno de açúcar, primeira iluminação a gás. O Brasil recebeu uma comunidade expatriada de britânicos que vieram como investidores, bancários e industriais.

Segundo Gilberto Freire, um dos mais importantes sociólogos do século XX, a comunidade britânica mantinha-se nas zonas costeiras, intermediando as relações comerciais do Brasil monárquico, e cita como influência da cultura britânica no Brasil, o terno branco, o chá, a cerveja, o uísque, bife com batatas, o rosbife, o pijama de dormir, o tênis, a capa de borracha, os piqueniques, o escotismo, o lanche e o sanduíche.

Isso sem contar as inúmeras palavras inglesas inseridas à nossa língua. São ingleses o croque, o turfe, o iate, o esnobe, o rum, o cheque, o alô, o pudim, o revolver. As festas de fechar ruas são também típicas dos ingleses

Também foi um brasileiro de ascendência inglesa chamado Charles Miller quem trouxe o futebol para o Brasil. Na mala ele trouxe duas bolas usadas, um par de chuteiras, um livro com as regras do jogo, uma bomba de encher bolas e alguns uniformes usados.

No estado de São Paulo, o primeiro projeto para a construção de uma estrada de ferro foi feito por um inglês, o engenheiro Robert Stephenson, filho de George Stephenson, que foi o inventor da primeira locomotiva e construtor da ferrovia que liga Manchester a Liverpool, precursora das estradas de ferro no mundo. O projeto parado, por conta da complexidade do local para se implantar uma ferrovia, sendo retomado 20 anos depois por José Evangelista de Souza ou, como é mais conhecido, o Barão de Mauá.



De construção do difícil e quase intransponível trecho de serra, foram chamados técnicos reconhecidamente capacitados como engenheiro ferroviário inglês James Brunlees e o engenheiro, Daniel Makinson Fox, responsável pela construção de ferrovias nas montanhas ao Norte do País de Gales e nas encostas dos Pireneus. Foi iniciada, então, depois de dois anos de estudos, em 1860, a construção da São Paulo Railway Company. Em 1946 foi incorporada ao patrimônio da União, com o nome de Estrada de Ferro Santos – Jundiaí e, em 1950, a rede passa a unir-se à Rede Ferroviária Federal.

Em 1874 foi inaugurada a Estação do Alto da Serra, que, mais tarde, seria denominada Paranapiacaba. Para acompanhar as obras foi criada a Vila Ferroviária de Paranapiacaba, localizada na cidade de Santo André, também no estado de São Paulo.

A Vila Ferroviária de Paranapiacaba, era o centro de controle operacional e residência para os funcionários da companhia inglesa de trens São Paulo Railway, que tinham a função de manter os funcionários próximos aos locais de trabalho e, ao mesmo tempo sob supervisão da chefia. A vila e seu entorno formam uma porção de território de grande importância histórica e ambiental, que registra uma época da influência da cultura inglesa, com destaque para a arquitetura e a tecnologia, sendo tombada pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Nacional, em 2008.

Ainda no estado de São Paulo, temos a cidade de Santos que, por ser uma vila portuária, recebeu piratas, comerciantes, aventureiros e viajantes escritores ingleses, que gravaram em seus livros a descrição sobre a região. A estação da “Inglesinha” ou a Estação do Valongo, inaugurada em 1867 pela São Paulo Railway, ainda conserva em sua fachada os três leões importados da Inglaterra, para a inauguração da ferrovia. 


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Na capital de São Paulo, dentre outros, encontramos a Vila do Ingleses, um conjunto de 28 sobrados, localizada no bairro da Luz, construído em 1918, e que eram alugados aos operários inglese como moradia para engenheiros que construíram a estação da Luz e a estrada de ferro Santos-Jundiaí.  A vila está localizada numa travessa da Rua Mauá e é um dos principais remanescentes do tipo de construção vitoriana, bastante popular na capital paulista no século XX. Com o passar dos anos a mão de obra que vinha da Inglaterra diminuiu e, em 1930, a vila passou a ser ocupada por famílias paulistanas. 

A Estação da Luz, erguida próxima ao jardim da Luz, reflete o momento histórico em que foi construída, evidenciando o poder do café na trajetória de expansão da cidade. Por décadas a sua torre dominou parte da paisagem central paulistana, sendo o seu relógio, a principal referencial para acerto dos relógios da cidade. Seu estilo arquitetônico é inglês e foi construído pela empresa inglesa que foi a dona da E. F. Santos a Jundiaí desde a sua construção, nos anos 1860 até 1946.

No Estado do Paraná, em 1925, o inglês Lord Lovat criou a companhia de Terras Norte do Paraná, no norte do estado do Paraná, cujo objetivo era iniciar um trabalho de colonização orientado pelos ingleses. Na região havia uma neblina, um fog, muito semelhante ao que é encontrado em Londres. Como homenagem deram o nome da região de Londrina, que significa “originária de Londres”, também conhecida como a Capital Mundial do Café.

Com a proclamação da República, em 1889, Manaus é elevada a capital do Estado do Amazonas, época em que a borracha, o ouro negro, matéria-prima da indústria mundial, era cada vez mais requisitada. Era o chamado Período Áureo da Borracha, que aconteceu em 1890-1910. Por meio dela, o Norte do Brasil se tornou um eixo econômico, possibilitando ao país, embora temporariamente, uma supremacia econômica mundial.



A cidade, então, passou a receber brasileiros e estrangeiros como ingleses, franceses, judeus, gregos, portugueses, italianos e espanhóis. Esse crescimento demográfico gerou mudanças significativas na cultura local e na cidade. A riqueza gerada pela exploração da borracha trouxe da Europa vários arquitetos e paisagistas para a execução de um ambicioso plano urbanístico, que resultaria em uma cidade com perfil arquitetônico europeu, embora dentro da selva.

A Praça Dom Pedro II possui um coreto em ferro, concluído em 1888, feito pela empresa inglesa Francis Morton & Cia. Limited Engineer, de Liverpool, e um chafariz também de ferro. Outra construção que leva a marca dos ingleses em Manaus, é o prédio da Biblioteca Publica do Estado. Em sua arquitetura de estilo eclético, com predominância de elementos clássicos, destaca-se a escadaria interna, de ferro forjado em rendilhado, procedente de Liverpool, Inglaterra. No prédio do “Centro de Artes Chaminé” funcionou a antiga estação de tratamento de esgotos, sob responsabilidade da empresa inglesa Manaos Improvements Limited Company. Sua construção foi concluída em 1910. Em 1993, tornou-se o “Centro de Artes Chaminé”.

A ilustração representa a dança chamada Strathspey. 

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Por Lu Paternostro
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