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Ilustração “Japoneses e a dança Ruykyo Buyo”, da série “Imigrantes do Brasil”.
Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
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Eles foram para o Oeste do Estado de São Paulo, onde ficavam e formavam comunidades que eram um pedacinho intacto do Japão.

Japoneses

Em meado do século XX, o Japão era um país fechado, feudal, pobre. O governo, então, começou a incentivar que os japoneses saíssem do país, rumando para o Havaí, Estados Unidos, Peru e Canadá. Nesta época o Brasil estava, embora de forma tardia, tentando se acostumar com o fim da escravatura e iniciando uma política de incentivo para atrair mão de obra imigrante, a fim de substituir a mão de obra do escravo negro, principalmente nas lavouras de café do Brasil.

Os primeiros japoneses chegaram, então, no porto de Santos, em 17 de junho de 1908, vindos no navio Kasato Maru. De trem subiam a serra e iam para a hospedaria de imigrantes, hoje o Museu do Imigrante, localizado no bairro do Brás, na cidade de São Paulo.  De lá migraram para as cidades do interior de São Paulo.

Vieram acreditando que iam para um local prospero, um paraíso, que iam ficar ricos e voltar para o Japão. Aqui se depararam com uma cultura hostil, comidas muito diferentes, isolados e sem nenhuma terra.

Mas não recuaram. Trabalharam, utilizaram espaços de terra desprezados pelos brasileiros e logo começaram a mudar a paisagem das regiões por onde passavam. Sabiam que somente unidos sairiam da pobreza. Para vencer as dificuldades de produção e comercialização, os japoneses se organizaram.

Em 1913 entraram mais 30 famílias no Brasil e se instalaram ente a cidade de Santos e Juquiá. Vieram formando vilas e, posteriormente, as cidades. Muitos foram para a atual cidade de Registro, no sul do estado.

Quando chegaram em Registro, as terras já estavam separadas em lotes de 10 a 15 alqueires, com a finalidade de desenvolvimento do local. Havia uma única casa de imigração, onde os imigrantes tinham de ficar e esperar. Não tinha nada da cidade. Os lotes eram comprados, tinham de se virar com uma terra mais seca, em morros. Tentaram várias culturas, mas o chá foi o que mais se adequou a região, que cresceu muito até os anos 1980, onde começou sua decadência. Na cidade existe a Associação Cultural Nipo-Brasileira de Registro.

Com o esgotamento das terras, muitos saíram de Registro e foram para outras cidades como São Miguel, Itapetininga, norte do Estado do Paraná e por todo o Brasil.

A cidade de Bastos, também no estado de São Paulo, fundada por japoneses, um dos principais redutos desta cultura, hoje é a maior produtora de ovos do Brasil. O município tem também a maior fábrica do mundo de fio do bicho da seda, outra atividade dos japoneses. A cooperativa exporta 80% da produção. Grifes europeias famosas só compram da cooperativa.

Único na América latina e localizado em Alvares Machado, o Cemitério da Colônia Japonesa, foi tombado, em 1980, pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. São 854 túmulos de japoneses, dentre eles 200 crianças vítimas da febre amarela, sepultadas no local.  Nos túmulos encontramos inscrições em ideogramas japoneses.

Na cidade de Mogi das Cruzes, um local de clima ameno, os japoneses transformaram a região num grande cinturão verde, que abastece todo o Estado. Hoje Mogi das Cruzes é o maior produtor nacional de caqui.



Já na capital paulista, na cidade de São Paulo, o bairro da Liberdade é o local mais oriental do Brasil, o reduto da cultura japonese. Lá o visitante pode encontrar de tudo, desde pastel, até limpadores de língua de bambu, uma imensa e única variedade de produtos japoneses a objetos de rituais, de vida cotidiana, armas, quimonos, restaurantes de todo o tipo, centros de cultura e ainda, aos domingos, a famosa Feira da Liberdade, com barracas de comidas típicas e artesanato. No bairro da Liberdade encontramos o Museu da Imigração Japonesa, preservando e transferindo a história deste povo para as futuras gerações.

Na Amazônia os japoneses marcaram presença também. Na década de 1920, onde a borracha deixa de ser o “ouro negro”, haviam terras de sobra para se plantar. Em 1931, imigrantes do Japão fundaram, no meio da floresta, um lugar chamado Vila Amazônia, uma comunidade rural da cidade brasileira de Parintins, no estado do Amazonas. Lá plantaram a juta.

A sociedade japonesa era patriarcal. O papel da mulher era dentro da família, no privado. Andavam atrás dos homens na rua.

As gerações têm nomes como Issei, a primeira geração, os japoneses nascidos no Japão. Os filhos desses imigrantes, a primeira geração nascida no Brasil, são os Nisseis. A terceira geração, os Sanseis, a quarta geração, Ionsei, depois Gossei.  

A cultura japonesa é uma cultura estética em sua essência: todas as formas artísticas são embasadas na espiritualidade budista.

Como a cerimônia do chá, um culto, um ritual que busca a transcendência. Ela deve ocorrer num espaço de 4 tatames e meio. Nada pode ser perdido, nem uma gota de chá. Não pode haver nenhuma excitação ou precipitação dos gestos. Nada mais tem importância, somente este momento, este encontro. É um culto de paz, de vivencia presente.

A cultura japonesa está inserida na cultura brasileira, porém mantendo e preservando parte de sua identidade.  O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional aprovou o tombamento de quatorze bens culturais do Vale do Ribeira, representações características da colonização japonesa em território brasileiro, no litoral paulista.
Algumas atividades, como a gincana esportiva undokai, a prática de ginástica matinal, judô, danças típicas, o uso do bumbo japonês e do taiko, ou o grande tambor que, tradicionalmente, dava o ritmo ao avanço das tropas e animava os guerreiros à luta. Comemoram anualmente a Festa do sushi, o Obon odori, um festejo religioso praticado durante o mês de agosto. e o Toro Nagashi, uma celebração em homenagem à alma dos antepassados e entes queridos.


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Na gastronomia podemos encontrar mais de 30 ingredientes que foram introduzidos no Brasil pelos japoneses como o chá preto, o caqui, a pimenta do reino, além do aprimoramento do cultivo de inúmeras frutas e legumes.

A culinária japonesa se destaca pelo seu preparo, tipo de sabores, na forma de apresentar os pratos. Tem os pescados com presença forte nos pratos. Na comida cotidiana usa-se o peixe seco como um tempero, também em caldos. O shoyo, molho de soja salgado, o missô, pasta de soja para caldos e o wasabi, uma raiz forte japonesa, além do peixe cru, são sabores que ficaram bastante conhecidos como típicos dos suhis, muito apreciados pelos brasileiros.

Outros pratos típicos que conhecemos em nossa culinária são o Korokke ou croquete, um purê de batata e vegetais cremosos com recheio de frutos do mar; Kushiage, espeto de carnes fritas; o Tempurá, vegetais em pedaços, frutos do mar e outros envoltos em massa e posteriormente fritos; o Gyoza, bolinhos com recheio de carne de porco; o Kushiyak ou  espetos de carne e vegetais; o Omu-raisu, um omelete de arroz; o Teriyaki, carne de peixe, frango ou vegetais passados no molho de soja doce; o Yakisoba, macarrão frito ao estilo japonês; o Sukiyaki cozido feito com mistura de massas, carne de vaca picada, ovo e vegetais.

Os sashimis são carnes ou peixes comidos crus como Fugu, o peixe-balão, peixe venenoso, fatiado e o Tataki, atum grelhado no carvão ou cru, cortado fino. Há os famosos e apreciados sushis, os bolinhos de arroz recheados como o makizushi, sushi enrolado no nori ou folha de alga desidratada, em forma de cilindro; o Nigirizushi, sushi modelado a mão; o Oshizushi ou sushi moldado em prensa e o Temakizushi, sushi enrolado a mão, corresponde a um cone composto por uma folha de alga seca preenchida com arroz e outros ingredientes que se come com a mão.

O saquê é uma bebida japonesa, fabricada pela fermentação do arroz, tomada geralmente quente e em grandes comemorações. A primeira produção de saquê que se tem notícia data do século III e ocorreu em Nara, antiga capital japonesa.

Nas artes, encontramos o teatro vivo mais antigo do mundo ou Teatro Noh, um teatro simbólico com importância primordial dada ao ritual e à insinuação, o Teatro Kabuki e os teatros de bonecos ou Bunraku.

Muito apreciada também é o Ikebana, a arte do arranjo floral e o Sumi-ê, arte de se pintar a essência de paisagens com traços em pincel; a caligrafia japonesa; o jardim japonês.

Encontramos também as revistas de Mangá as chamadas “Mangás de histórias”, ou publicações ilustradas no formato de histórias em quadrinhos.



Dança Ruykyo Buyo

Uma das imagens que mais gostei. Inspirada no Buyôo ou buyou, dança tradicional japonesa, tem sua origem na magia, nas invocações dos espíritos dos mortos e preces para o descanso das almas.

Dança tradicional de Okinawa que revela a alegria e a criatividade desse povo em suas vestimentas coloridas e movimentos corporais, Surgiu para homenagear os deuses e reis, e também servia para entretenimento das delegações chinesas que, frequentemente, visitavam o Reino de Ruykyo, como era chamada a região de Okinawa até o início da era Meiji (1868)

Trata-se de uma dança lenta, com cânticos e sons longos, movimentos calculados, onde tudo parece ser pensado e calculado antes de se fazer ou se gastar energia para fazer. A figura principal leva nas mãos um leque fechado. Ela parece e leva a atenção para a figura do fundo. O que será que ela pensa?



A figura ao fundo,  uma mulher toca o Shamisen, um dos mais conhecidos instrumentos musicais do Japão. Tem três cordas e é feito de pele de cobra ou gato. Também, um instrumento tocado pelas gueixas.


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Á organicidade das figuras, seus silêncios eternos e quietudes típicos, eu quis contrapor com um fundo reto, racional, de cores vivas que contrastam com a tradição japonesa. As flores e outros elementos servem para “quebrar” a rigidez da tradição, mas de forma divertida e mais “brasileira”.

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Por Lu Paternostro
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