Peça da Exposição “Histórias do Universo dos Falantes”. Visite!

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O mágico desenho de um café: Carpem Diem
Os Tranquilões.

Numa manhã gostosa e ensolarada de inverno, muito cedo, um sabiá bem próximo contava
as nostálgicas histórias de muito tempo, me dirigi a um pequeno café. O café localizava-se no centro de uma cidade grande, muito barulhenta e movimentada.

Sentei-me em uma mesa próxima à porta para poder ver “o lá fora”, quando algo lá dentro me chamou a atenção: pessoas tomavam café, num canto distante, meio escuro. Pareciam diáfanas e emanavam uma estranha serenidade.

Falavam pouco ou quase nada.

Encantada, mas um pouco sonolenta, pensei: “Gozado…”, e olhando melhor, reparei que se movimentavam num outro ritmo, como se seus gestos fluíssem em câmera lenta, deixando um rastro de luz suave!

 “VIxe! Será que eu morri? Devo estar sonhando, sei lá!” Uhhhhhiii! Fiquei gelada com este pensamento!

Olhei em volta e tudo parecia uma ilusão, pois as pessoas que serviam no pequeno café, movimentavam-se normalmente.

Para me certificar, olhei para outros lados, para fora do café, para ver o que se manifestava na tal realidade lá fora. Olhei novamente, um pouco mais. Olhei para mim também: Eu estava lá. Bem, pelo menos é o que parecia.

O mais estranho, é que quando acabavam de tomar seus cafés, chás, chocolates, não sei bem, pediam outro e mais outro, num ritmo constante e alucinantemente lento!

As xícaras vinham e eles vertiam seus líquidos para dentro de si lentamente, constante, confortáveis e presentes na sequência lenta dos seus momentos. Fechavam os olhos deleitando-se com que faziam.  Eu olhava, sem perceber que olhava tudo. Mantinha meus olhos levemente fechados, semicerrados. 

Enquanto isso, iam xícaras, voltavam xícaras num ritmo constante e tão contínuo, que pareciam formar traços de desenhos no espaço. Os líquidos, os brilhos, a fumaça, formavam mais linhas que se misturavam com as bocas também desenhadas em linhas; tudo era como o interminável gesto de um desenhista, gestos que se entrecruzavam lentamente diante de mim e sumiam… Um sumi-ê que sumia!   

O mundo estava lá fora e eu lá, assistia um desenho dinâmico feito por caras, bocas, xícaras, mãos, um desenho perfeito, que se formava e desvanecia continuamente, infinitamente efêmero, tudo dentro daquele pequeno café. Um desenho que existia porque eu estava lá, vendo e sendo apenas enquanto eu via.

Será que era eu quem desenhava tudo aquilo …?

Um desenho pode estar se formando aí, agora, algo mágico, transiente, fugaz.

Um presente, presente no presente.

Então….Carpe diem!

Por Lu Paternostro