“Pô, cara, mas que coisa é essa????”, gritou Mauricio André de sua cama.
Olhou para o lado e viu um monte de pedaços de corpos de gente: era nariz, umbigo, bumbum, calcanhar, boca, pedaços de costas, alguns dedos, coisas bem esquisitas e em pedacinhos.
Mauricio André ficou olhando aquilo embasbacado. Passavam peitões femininos, um olho que piscava, aliás, vários olhos, carecas. Até a sua gorducha sereia de estimação acordou e ficou na espreita aguardando o Mauricio Andre, que resolveu fechar os olhos para não ver nada. Mas ouvia! É mesmo, ele ouvia milhões de vozinhas que saiam destes pequenos pedaços de corpos. As vozinhas agradeciam, pediam, imploravam.
Descobriu, posteriormente, que se tratava de ex-votos, aquelas pequenas esculturas de pedaços de corpos, que as pessoas oferecem quando conseguem uma cura ou um milagre para sanar suas doenças ou infortúnios físicos.
No dia seguinte, contou aos seus amigos o ocorrido e que conseguiu vencer a todos eles com a coragem de um grande herói. E sabe como? Gritando para todos “Calem suas bocas podres, seus energúmenos!”
O dia passou e de noite já na cama, um pequeno nariz veio ao seu encontro e lhe disse: “Oi, por gentileza, aonde é a toalete?”
Mauricio Andre ficou olhando, olhando e acho que desmaiou, pois ninguém nunca contou o final desta história direito.
Tentam entrar nos cérebros, agora mais fechados e pequenos dos seres, jogando pensamentos alegres. Mas os seres permanecem angustiados.
Ficam escondidos vendo os que gritam, esbravejam, pisam em padres e mestres e que fazem até voar cabeças de indignação.
Plantam minhocas de cores lindas e sementes douradas, mas nada!
Dançam peladinhos, viram mulas sem cabeça, e com cabeça também, aparecendo do nada e nada.
Plantam sóis, plantam cara-cools para ficar do teu lado dando “puns de talco”. E só assim, envoltos pelos puns dos palhaços, dos puns de talco, você os viu!
Um dia, eu estava dormindo gostoso na minha fofa cama, cheia de edredons azuis da nuvem e do céu, uma fronha amarelinha de flores brancas, e quando abri meus olhos me deparei com eles, os Ois.
Os Ois são amigos próximos e quase a mesma coisa que os Sois.
São todos ligados e trabalham juntos.
Fechei os olhos, pois estava com um sono danado e quando abri de novo, mais um pouco deles. Agora eram 4. Ficavam me olhando mudos e simpáticos.
Dormi mil vezes e abri mil vezes os olhos e eles sempre estavam lá.
Um dia, abri os olhos e não estava mais no meu quarto. Mas abri os olhos e vi mais deles lá, me olhando.
Eu morri, eles estavam lá. Eu vivi, eles estavam lá me dando oi!
No meio desse vai e volta, as consciências observam que a pipa nunca vira flor e a flor nunca vira pipa.
Ou que a flor possa, um dia, ser a pipa dos sonhos de uma criança ou a criança ser o sonho de voar da pipa. Ou a flor virar a esperança de um coração amargo.
Todos habitam o mesmo universo uno na essência e separados em suas formas.
Será que um vira o outro um dia?
“Venha, vamos observar as pipas, as flores e os garotos soltando pipa para descobrir!”
Não gritem, não rosnem. Eles estão aí, circulando, próximos.
Pois é!
Os caras estão sempre vibrando mais alto, pensando em coisas boas como bules com café ou chocolate quente. Sonham com flores gravitando em tudo, em todos os lugares. Mandam flores para todos indiscriminadamente! São flores-pensamentos e elas saem de sua barriga, peito e cabeça! Às vezes saem mais flores, às vezes menos. Se deitam em redes, as flores rolam soltas.
Quando uma determinada pessoa faz algo que ele sente como triste ou ruim, as flores cessam. E eles ficam duros. Eles sentem falta de doar as flores. Quando eles respiram e sentem a esperança, as flores brotam e voam!
Quem encontram com eles, os sentem. É até estranho!
Eles adoram encher de flores astrais aquelas pessoas que “falam” cobras e lagartos! Aliás, eles amam isso! Imaginam as cobras ficando coloridas e vibrantes, e as fazem voar da boca da figura, para o céu, lá longe!