Você já imaginou sua vida assim, sendo brindada todos os dias por seres chamados “brindadores”?
É! Estes caras existem, mas não o percebemos, pois temos as nossas cabeças meio cheias de coisas, muuitas coisas, muuuito importantes de verdade. Nem vou contestar isso….
Mas estão aí.
São essencialmente alegres e gostam de agradecer a vida, a cada dia.
Não sei ao certo se vão durar muito tempo.
Porém, esta é apenas uma lembrança que eles ainda existem.
Mauricio Andre ficou olhando, olhando e acho que desmaiou, pois ninguém nunca contou o final desta história direito.
Convivendo comigo mesma todos os dias, percebi umas coisas estranhas que parecem conhecer minha mente como ninguém, mais do que eu mesma.
Sugerem, pensam, cogitam, interpretam, dão forma, geram conceitos em mim. Se eu ficar olhando o passarinho “Sorriso”, que mora no planeta Marte… Pronto… Quando olho para mim de novo, meu cérebro está outro: eles dão forma a tudo o que passa pelo que passo a pensar.
São como peixes abissais, iluminando e vivendo nas dobras mais profundas do meu cérebro pensante, esperando a hora de brotar, agir e sumir. Manifestam-se nas mais inusitadas situações, criando até novas cabeças em mim.
Quietos, sabem esperar, sua arma para manterem-se vivos. Ficam assim, por um tempo, pois, também por um tempo, aprendi a espreitá-los.
Despertam ativos nos diálogos humanos pulando, abelhudos, das frases, das palavras incautas, a qualquer dia, hora, minuto. Agora mesmo estão aí, aqui e acolá.
Se iluminá-los, somem por um tempo, mas sempre se fortificam e não morrem jamais.
São tão sagazes e agem tão bem que, um dia, se não ficarmos bem atentos, nos tornamos eles, achando que somos nós que estamos aqui.
Ouvi um cara falando. Falava muito. Putz!… Como fala e fala e fala.
“Meu Deus”, pensei, “Será que ele tem consciência do dessabor matinal que ele provoca agora?”
De sua glote barulhenta saia um mundaréu de palavras…. Conseguia vê-las voando, caindo no chão, desmontando-se desoladas, em seu próprio desprezo. Alquebradas, eram palavras-zumbis.
Levantei-me meio zonza, olhei pela janela e consegui focalizar um sujeito que, encerrado em seu mundo, era como um trombone, mas desconfigurado. A boca aberta, em movimentos constantes, simplesmente não parava. Os olhos estavam enfiados na face e longes, muito longes. Percebi que nem os olhos, nem o homem, não estavam mais lá. A única coisa presente era sua boca.
Então pensei: “Mundos e mundos, cada um está no seu. Eu cá, o cara lá, o outro ali, perto. As vezes bem perto. E assim vamos indo, todos juntos-separados, indo”.
Larguei o reclamão lá fora. Melhor, fora de mim.
Fechei os olhos e daquele monte de adubos vocabulares, flores começaram a nascer em meus ouvidos.