Um dia acordei de sopetão, abrindo os olhos bem grandão e pensei: vou sair por ai plantando cabeças!
Tomei café da manhã, comi bastante pão, recuperei minhas energias e pensei: e aonde eu arrumo as sementes?
Resolvi dar a volta ao mundo, com as pantufas fofas de dormir, procurando, pelos países que passava, cabeças que valiam a pena plantar.
Andei pelos quatro cantos do mundo, respirei enxofre, dormi sobre árvores ancestrais, me diverti em rodas gigantes gigantescas que delas, dava para ver o espaço.
Voei com dragões iluminados, cai na lama de um lago morto, conversei com líderes, mestres e hippies!
Abri livros ancestrais e li numa tacada só, naveguei nas letras de uma enorme biblioteca, encontrei cabeças em quadros e iluminuras, desenhos de crianças, de adultos, de artistas famosos. Entrei em templos, museus, e não encontrei uma única cabeça que pudesse plantar em meu jardim ensolarado.
Voltei para minha casa e me sentei em minha cama, olhando para minhas pantufas azuis, depois pela minha janela, vendo o sol brilhando lá fora.
Percebi as folhas iluminadas, o vento batendo, olhei para mim e me vi, cabeçuda como uma árvore enorme. A única cabeça que podia plantar, pelos jardins ensolarados da minha terra, era a minha própria.
Descobri que criamos minhocas em nossa cabeça, você sabia?
Criamos e azucrinamos nosso dia a dia com elas.
As minhocas são cultivadas com humor, no líquido cerebral.
Nascem provocadas pelo movimento peristáltico contínuo de nossos pensamentos, no cérebro intestino. Brotam em pequenos talos finos e, sobre eles, pululam cabecinhas. Cabecinhas cheias de um material viscoso leve. Possuem olhos e estes são bem atentos e estão bem abertos. Olham tudo!
Elas nascem, saem, voam e voltam para dentro de nossas cabeças. Quando voam, feito as abelhas, sugam uma espécie de néctar das coisas que encontram. E ao entrarem novamente em nossas cabeças, fabricam um negrume xorumento, com características de um piche grudento, que o tempo calcifica e esculpe a nós mesmos por dentro. E nos tornamos isso.
Criamos minhocas o tempo todo, você já reparou?
Em todo lugar que estamos e ficamos tem minhocas brotando. Ah! Elas falam, viu?
Elas são criadas na mente com palavras, por isso falam muito.
Às vezes é de endoidecer.
Dá vontade de dar um tiro na cabeça, matá-las e, finalmente, vê-las morrer.
Eles decidiram esquecer o mundo real e deixaram suas cabeças voarem, tornando-se “inúteis” sonhadores.
Girafas metafísicas que tem suas cabeças lá longe! Aonde? Não sei…
Em suas buscas incessantes, costumam encontrar-se com seres fantásticos que se escondem nas paredes meditabumdas de cômodos sombrios.
Gostam de ver as linhas das perspectivas que se formam nos móveis, no momento de um olhar atento a eles.
Transformam os rostos humanos em formas e traços, cores em movimento.
Envolvem-se e deixam-se levar por histórias tão fantásticas, mesmo sendo apenas um fato corriqueiro da vida cotidiana.
Quando nos olham ou ouvem estão, em verdade, olhando o infinito mágico que se deslumbra naquele momento.
Sabem ver nossos olhos e as fontes de energia radiante que brotam dos corações imersos na verdade.
Sonham acordados e vivem sonhadores criando não um, mas diversos mundos paralelos.
Sonham com caracóis que sonham com sonhadores que sonham com caracóis coloridos. Um sonho total.
Doidejam e vivem criando, e criando, curam suas loucuras abarrotadas.
Veem de tudo…
Sabem que existem seres em constante movimento que estão em nossa volta e que plantam pequeninas sementes em uns buraquinhos que existem em nossas cabeças. Na cabeça deles estas sementes brotam e dos buraquinhos nascem cabeças e mais cabeças…
E assim vão indo, entumecidos de ideias e outros mundos de mais cabeças.
E assim, desprendem-se de sua origem essencial e voam longe e mais longe, explorando novos lugares, criando novas sementes, prontas para serem plantadas em novas cabeças.
Tudo vai se repetindo, pois criar é um ato infindável de fazer nascer cabeças sementes que, sem a mente, mentem sobre o real.