Ilustração "O Gaúcho", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “O Gaúcho”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros”
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Brotei de um tempo onde a pátria axucrada
Trouxe entonada na pua o timbre de galo
E à picumã eu retovei este galpão
Do coração pra ser portal de algum regalo

Minha raiz traduz na sua própria estampa
Toda esta pampa que o gaúcho idolatra
Com meus pesuelos trago a saudade gaviona
Que repechona vem tropeando a culatra

(Dentro do peito corcoveia uma doutrina
Estirpe e sina palanqueando a tradição
Sou como o rio, que vai legando mil caminhos
Tirando espinhos em cada aperto de mão)

De onde vim eu trouxe herança galponeira
Velha bandeira de um atavismo curtido
Mesclando campo com o sabor desta querência
Reminiscência do meu pago mais querido

Os horizontes que eu repontei a cavalo
Mastigam pealos deste amor que retempera
Não tem um quera que more aqui no Rio Grande
Que o seu sangue não valha a sua terra

Doutrina de Gaúcho
Os Serranos

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Gaúchos

Gaúcho é uma denominação dada aos vaqueiros das regiões dos pampas da Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai e Brasil. As características típicas do seu modo de vida no campo, fizeram com que o gaúcho tivesse uma cultura própria sua, derivada do amálgama da cultura ibérica, principalmente espanhóis, e indígena. Usa-se, também, o termo para identificar os habitantes nascidos no estado Rio Grande do Sul.

Pelo seu modo de ser, falar e se vestir, o gaúcho forma um tipo folclórico que sintetiza um conjunto de tradições. Por exemplo, sua maneira tradicional de se vestir é bastante característica.

Grande parte da população gaúcha rural usa as vestimentas tradicionais por serem adaptadas à vida campeira. Os avios do chimarrão ou os apetrechos usados para a preparação e consumo da erva-mate, os utensílios de encilha tradicionais para o cavalo, incluindo as esporas do cavaleiro, junto com as vestimentas, fazem a definição de pilcha, o Gaúcho Pilchado, montado com sua vestimenta típica.



Usam roupas de origem indígena como o poncho ou capa campeira, vestimenta tradicional da América do Sul, usado para protege-los do frio e do vento, usado sobre a vestimenta do dia a dia, normalmente feitos em teares utilizando a lá da ovelha como matéria prima; o lenço colorado; a pala, também um tipo de poncho, de lá ou de seda, utilizado para climas mais amenos; o chiripá, tecido que é colocado em volta da cintura, formando um avental com uma amarração muito bonita, hoje em dia usado pelos grupos folclóricos de danças típicas; a guaiaca, termo de origem aimará (wayaqa), uma cinturão com bolsas, feitos de couro, propicio para guardar pequenos objetos, como moedas, palhas e fumo e, mais tarde, cédulas de dinheiro, relógio e até pistola.

Ainda em suas vestimentas típicas, porém com influência europeia, encontramos a camisa de tecido; o colete; a blusa campeira; o chapéu de copa baixa e abas largas; o lenço do pescoço atado por um nó que pode ser feito de oito maneiras diferentes, sendo as cores branco e vermelho as mais tradicionais; a bota campeira e a bombacha.


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A bombacha são as calças típicas usadas pelos gaúchos, largas em cima e abotoadas no tornozelo. O nome foi adotado do termo espanhol “bombacho”, que significa “calças largas” e pode ser feita de brim, linho, tergal, algodão ou de outros tecidos, em padrão liso, listrado ou xadrez discreto. A bombacha é muito utilizada nas regiões da campanha, da fronteira oeste e dos campos de cima da serra. Porém, nas cidades maiores, ainda é possível perceber alguns gaúchos pilchados ou montados com suas vestimentas típicas, gaúchos que participam de grupos tradicionalistas ou simples mantenedores da cultura tradicional.

A vestimenta feminina segue regras bem definidas pela tradição gaúcha para seu uso. A prenda ou a mulher gaúcha, usa um vestido de uma peça inteira ou em duas peças, saia e blusa, com ou sem um casaquinho, que pode ser usado pelas prendas adultas e senhoras. As saias podem ser variadas, porém o comprimento delas não ultrapassa o peito do pé. Suas vestimentas não podem ser pretas (luto) ou brancas (noivas e debutantes), nem conter as cores da bandeira do estado do Rio Grande do Sul. Devem ser discretas e simples, não podendo ser decotadas, expor os ombros ou os seios. Podem apresentar enfeites de diversos tipos. A mangas não podem ser bufantes e podem ser compridas ou até os cotovelos. Usa-se meias que devem ser longas, brancas ou beges para as moças e as senhoras, e de tonalidades escuras paras as mulheres idosas. Os sapatos podem ser pretos, brancos ou beges e o salto 5 ou meio salto, com uma tira sobre o peito do pé e que abotoe do lado de fora. Cabelo semi-presos, presos ou em trança, com algum enfeito de flores bem discreto se a pessoa quiser.

O chimarrão ou mate, bebida característica do sul do país, tomado em uma cuia feita de porongo, é amplamente consumido pelos gaúchos em todas as estações do ano. Nos dias mais frios, não raro, se vê uma variedade chamada “mate doce”, onde se usa mel e cascas de bergamota, geralmente, para temperar o mate.

O fogo de chão é uma tradição entre os gaúchos, que se reúnem e se aquecem em volta de fogueiras feitas no chão, passando o chimarrão de mão em mão e contando suas histórias.

Na cidade de São Sepé, no estado do Rio Grande do Sul, está localizada a fazenda Boqueirão onde a família mantém, desde o início do século XIX, há 200 anos, um fogo de chão aceso, alimentado por toras de madeira de lei chamadas guarda-fogo. A fazenda é um centro de romarias nativistas e tradicionalistas que cultuam este fogo, que nunca se apaga.  

Na culinária gaúcha, curiosamente, não existe relação com a culinária de origem portuguesa, indígena ou castelhana. O forte vento minuano que atravessa o estado do Rio Grande do Sul no inverno, chega ser tão forte, que congela os pampas. Por conta do clima, a alimentação tradicional é repleta de carnes gordas, sopas quentes que dão mais alegria para enfrentar o frio. O churrasco e o arroz “carreteiro” são os pratos mais típicos do gaúcho.

Fazem parte da culinária rio-grandense o feijão mexido, feijão misturado com farinha de mandioca; o quibebe, purê de abóbora moranga; a “roupa velha”, prato feito com sobras de carnes e ovos mexidos; o feijão campeiro; o charque com mandioca; a paçoca de pinhão com carne assada; a couve refogada; o arroz com galinha; o “puchero”, um cozido de carne com legumes e o peixe.



Dia 20 de setembro é comemorado o dia do Gaúcho. E durante todo o mês, os gaúchos comemoram a Semana Farroupilha, período em que a Província de São Pedro, atual estado do Rio Grande do Sul, declarou guerra contra o império por causa dos altos impostos cobrados pelo charque.

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Por Lu Paternostro
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