Nem bem clareia já me
encontro chimarreando
Ao pé do fogo que
aquenta as madrugadas
Daqui um poquito o sol
desponta no horizonte
“Tô desde ontonte co’as
idéia engarrafada”
Pra o parapeito do galpão
arrasto as “garra”
Bucal na mão vou
“tiflando” pra mangueira
Meu sestrosa me
cuidando a matungada
Vem da invernada e
fica “flor de caborteira”
Mas que me importa
pois me levantei aluado
Cano virado das minhas
botas garroneiras
Toda segunda tem bagual
de lombo inchado
Adivinhando que passei
de “borracheira”
Junto as “argola” do
cinchão no osso do peito
“precuro” um jeito
busco a volta e me enforquilho
Depois que “munto” e
atiro o “caixão” pra trás
Só Deus com um gancho
pra me “saca” do lombilho
Me dá vontade de “prende”
o buçal na cara
Deste picaço que
esqueceu como se forma
Mas eu garanto que
embaixo dos meus “arreio”
Conhece o ferio e aprende
a “respeitá as norma”
Pego-lhe o grito
“tacho os ferro” na paleta
De boca aberta o
queixo-roxo vende garra
Lida baguala que
em muitos mete medo
Meu xucro ofício que
por vício eu fiz de farra.
“Xucro
Ofício”
Os Serranos
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O Fogo de Chão e a Roda de Chimarrão
De tradição indígena, os fogos de chão eram feitos próximos das ocas, compartilhados por famílias inteiras que, no aconchego da luz, encontravam uma forma de reunir-se, socializar-se, trocar vivências e se abrigarem do frio da região dos pampas.
O gaúcho campeiro tem por tradição trazida desses índios, se reunir a noite com os amigos e colegas, em volta do fogo, feito no chão, para confraternizar, trocar ideias sobre a lida no campo, tomar o chimarrão de forma compartilhada, comer um churrasco, contar causos, estórias e lendas. É contado pelos gaúchos, que em volta do fogo de chão foram tomadas grandes decisões na história do Rio Grande do Sul.
Esse ato de confraternização proporciona a manutenção de uma sociedade tradicionalista gaúcha, dando um sentido de coletividade, de pertencimento a algo maior, de fazer parte de um grupo coeso e que tem tradição e raízes, dando sentido para sua história. Para eles o fogo representa a força e a alma da sociedade gauchesca.
O fogo de chão está associado também à chama crioula, considerada um dos símbolos mais estimados pelos gaúchos. Acesa pela primeira vez em 7 de setembro de 1947, a meia noite, por Joao Carlos D´Avila Paixão Cortes, Ciro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, três jovens, que retiram da Pira da Pátria, na cidade de Porto Alegre, a centelha que iria constituir a primeira chama crioula de inúmeras outras, uma tradição mantida até hoje no estado todo, repetindo-se todos os anos.
Este fogo simbólico é distribuído a representantes das 30 Regiões Tradicionalistas do estado, por mais de 50.00 cavaleiros. Trata-se de um símbolo das comemorações da Semana Farroupilha, que acontece na segunda quinzena do mês de setembro e envolve o estado todo em festejos públicos. A Semana Farroupilha relembra a Guerra dos Farrapos contra o império, de 1835 a 1845, sendo a mais longa batalha do Brasil.
Para os gaúchos, o fogo de chão significa liberdade, amor à natureza, ao cavalo, sempre presente, ao encontro regado com muita música, cantoria, churrasco, fandango e muita alegria noite a dentro.
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O chimarrão ou mate, que não pode faltar nas rodas dos gaúchos, é uma bebida típica da América do Sul e consiste num chá de erva, tomado dentro de uma cuia de cabaça, por intermédio de uma bomba de bambu, metal ou prata, onde se acrescenta agua quente. A pessoa se serve da água, toma o chá até o final, enche novamente a cuia e oferece para a pessoa seguinte da roda, e assim vai. Um ato de paz, amizade, confiança e cortesia. O hábito de tomar o chimarrão, ou chimarrear, é típico do gaúcho que o consome todos os dias, de manhã até a noite.
O fogo de chão é de fato tão tradicional e importante para a cultura gaúcha, que uma fazenda localizada em São Sepé, há 265 km de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, mantém aceso um fogo de chão, desde 1918. A fazenda possui status de patrimônio histórico e cultural, e já recebeu milhares de visitante de todo o Brasil, tornando-se centro de romarias nativistas de tradicionalistas. O fogo é mantido aceso por toras de madeira de lei chamadas de guarda-fogo, que ficam armazenadas num galpão, que mantem sua forma original desde o começo do século XIX. Durante os festejos da Semana Farroupilha, muito cavaleiros passaram pelo galpão para acender a chama crioula, levando a tradição do fogo de chão para todas as cidades do Rio Grande do Sul.
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Por Lu Paternostro
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