No estado do Rio de Janeiro, a
cidade de Nova Friburgo é considerada o berço da colonização alemã no Brasil.
Imigrantes chegaram na região em busca das prometidas terras férteis. Na época,
1824, o Imperador Dom Pedro I, incentivou as autoridades para os levar para a
região. Os alemães pagaram suas passagens de vinda para o Brasil, foram para
Nova Friburgo, porém não receberam qualquer ajuda de qualquer governo ou
autoridade. Custearam suas vidas durante um grande tempo, quando, enfim, receberam
os lotes de terra prometidos. Estavam sem dinheiro, em situação adversa, mas se
ergueram com a força de seu povo e de seu trabalho. Iniciava-se, oficialmente,
a imigração germânica no país.
Os grupos de alemães que aportaram
no Brasil no século XIX, tinham uma notável diversidade. Vieram para povoar as
colônias do Sul e Sudeste.
No sul, a experiência começou na cidade
de São Leopoldo, a primeira experiência de povoamento do Sul, tendo se
transformado num dos grandes sucessos da política de colonização do governo
imperial. As cidades de São Pedro de Alcântara e Mafra, no estado de Santa
Catarina, e Rio Negro no estado do Paraná, são outro exemplo de colônias
estabelecidas pelo governo imperial.
Os colonos alemães expandiram-se
pelo território brasileiro e levaram consigo esse sistema de colonização para
além da Região Sul, para os estados Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia. Porém
entraram e se dispersaram entre a população brasileira, marcando e
influenciando fortemente determinadas áreas. Um traço dessa expansão são
construções das igrejas luteranas, que acabaram influenciando alguns aspectos
dos rituais católicos.
Também podemos encontrar influência
na arquitetura das cidades por onde se estabeleceram.
Na agricultura introduziram o
cultivo do trigo e a criação de suínos.
No estado de Santa Catarina, com
mais de 180 anos de história, tudo começou no município de Dona Emma, uma
cidade com menos de 4.000 habitantes, onde podemos encontrar a “Casa do
Imigrante”, da família AX, construída na típica arquitetura enxaimel. Lá a
família mantém um acervo de fotos, documentos, objetos, moveis e louças. A casa
é aberta para visitação.
Localizada, também, no estado de Santa
Catarina, a cidade de Pomerode é considerada a mais germânica das cidades
brasileiras, onde se comemora o Festival de inverno de Pomerode, o Pomeroder
Winterfest. Lá o visitante assiste às danças folclóricas, saboreia pratos
típicos e aprecia o artesanato típico germânico entre eles a pintura Bauer, uma
técnica de pintura que vem desde o século XVII, aplicada em móveis, objetos
decorativos, utilitários, e o Quebra Nozes que, ao invés do Papei Noel, é o símbolo
do Natal Alemão.
No estado do Espirito Santo, a
cidade de Domingos Martins, foi fundada por imigrantes alemães do século XIX. Em
1846 chegaram os imigrantes pomeranos, que ajudaram na colonização e acabaram influenciando
a cultura alemã local. Lá se encontra o “Museu Histórico da Colonização Alemã”,
criado para preservar e valorizar a cultura através da história dos imigrantes.
No museu pode-se encontrar uma variedade imensa de objetos, livros, moveis,
cenários, documentos, culinária típica e até aula de pomerano. Uma curiosidade:
o gramofone, alternativa para quem quisesse ouvir música no século IXI, foi uma
invenção de um alemão, Emil Berliner, em 1887. Na região se fala 4 línguas: o português,
o italiano, o pomerano e o hunsrück, uma espécie de dialeto alemão. Ainda em Domingos
Martins, encontramos o grupo de danças folclóricas alemãs Bergfreunde de
Campinho.
A primeira comunidade luterana no
Brasil foi a dos alemães chegados em Nova Friburgo que, em 1827, construíram o
primeiro templo luterano do país. Porém as autoridades, na época, mandaram
demolir.
A gastronomia alemã utiliza as
carnes de porco, bovina e de aves sendo a suína, a mais usada e popular, tanto
que o assado de porco, quase sempre a perna, é a refeição de domingo ou em dias
festivos, em muitas regiões da Alemanha.
Um outro prato típico é o porco frito
com rodelas de limão. A carne é muitas vezes comida em forma de salsicha,
sendo que no país são produzidos mais de 1.500 tipos diferentes de salsichas.
Outros pratos são a salada de batata,
conhecida como Kartoffelsalat, popular por todo o país; o
chucrute ou Sauerkraut, prato típico da culinária alemã, comido no mundo todo,
sendo uma conserva de repolho fermentado. Ainda destacamos a batata Rosti
Recheada; o joelho de porco ou Eisbein;o Spatzle, uma massinha de batata, semelhante a um inhoque que pode ser
servida como acompanhamento de carnes; o Goulash com Batata, um guisado de
carne de vaca.
Nos doces encontramos o típico Bolo
Floresta Negra, que leva cerejas em seu recheio; o Strudel, de maçã que pode
ser servida com chantili; a cuca alemã; o Rote Gruetze, sagu de vinho com creme
de baunilha; os Pretzel, famosos
pãezinhos tradicionais, feitos em formato de pequeno nó: o milho brot,
feito com batata doce, cará e fubá de milho branco, cozidos em folhas de
bananeira ao forno.
Nas bebidas, apesar do vinho estar se tornando
mais popular, a bebida alcoólica nacional é a cerveja.
As variedades de cerveja incluem a Alt, Bock, Dunkel, Kölsch, Lager,
Malzbier, Pils e Weizenbier.
A contribuição na música e na dança, uma herança da cultura alemã, são as bandas: os alemães tocavam, por tradição, instrumentos de metais de sopro, sempre em grupos, um som bem tradicional das festas alemães.
A Dança Volkstanz
Nesta imagem fiz um destaque para a cerveja, um produto que o brasileiro ama e aprecia em festas e feiras típicas alemães. O trigo faz a decoração do fundo onde vemos a bandeira da Alemanha.
Na frente, o casal dança a Volkstanz, uma dança folclórica, provavelmente com origem no século XII.
Os primeiros registros das danças folclóricas alemães aparecem no século XII. Eram dirigidas por um dançarino e sua parceira, com cantos e gestos que eram imitados pelas pessoas ao redor. Muitas danças tinham o caráter cômico imitando os cavaleiros em suas conquistas e nas batalhas.
Um dançarino e sua parceira se cortejam durante a dança intercalando com um ou mais dançarinos que representam cenas cômicas de cavalheiros em suas batalhas. As vestimentas são simples, lembrando camponeses.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores.
Ilustração “Povos Africanos”, da série “Imigrantes do Brasil”. Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Povos Africanos
A construção da identidade do povo
brasileiro passa pela contribuição dos povos africanos que chegaram ao Brasil
como escravos enraizando, na forma de ser do brasileiro, sua rica e variada
cultura.
O continente africano é
caracterizado pela diversidade de culturas e línguas. Só na África fala-se cerca
de 2 mil línguas, com seus dialetos. Esta diversidade é encontrada também em
cada país, em cada região.
Durante 400 anos a África passou
por um processo muito cruel de violência e discriminação que foi a escravidão e
o colonialismo. Mas a alma deste povo continua florescendo em seu território e
no mundo todo através de seus ritmos, danças, gastronomia, religião.
Foram cerca de 11 milhões de
africanos que chegaram nas Américas, no maior processo de imigração forçada da
história humana, sendo que vieram para o Brasil, trazidos pelos portugueses, 4
milhões desse “comércio infame”. Vieram como escravos, trazidos para as lavouras
de cana de açúcar, tabaco, algodão, cacau, café, diamantes e outros para a
construção de igrejas, casa, ferrovias.
Vieram para o Brasil em navios
negreiros ou tumbeiros. A maioria deles eram jovens de 8 a 25 anos, mas nos
navios vinham de tudo: cego, manco, surdos, chefes religiosos, príncipes,
mulheres gravidas, mulheres com bebes.
Atravessaram o Atlântico em
condições mínimas de higiene, vivendo em estado de sofrimento com os mals
tratos de uma tripulação sem escrúpulos.
Vinham confinados em porões, junto a comidas podres. Neste tétrico
cenário, pegavam doenças, morriam e seus corpos, jogados no mar. Muitos se
matavam, jogando-se dos navios, num ato de desespero pelo sofrimento.
O negro tem marcado em sua forma de
ser, a força. Resistiam, lutavam contra os colonos, criavam os quilombos, comunidades
próprias dos negros, onde viviam suas culturas sem a arbitrariedade dos
brancos. O Quilombo dos Palmares, cujo o líder era Zumbi, era o mais famoso, símbolo
da resistência negra no Brasil.
Embora a proibição do trafego de
escravos tenha partido da Europa, por puro interesse próprio, a escravidão no
Brasil terminou muito tarde, num longo processo de proibições em leis que não
eram cumpridas, pois a mão de obra barata dos escravos, gerava muito lucro aos
senhores de terra. Com as sanções e proibições da Europa, o Brasil começou a
comercializar escravos internamente: estes vinham do nordeste para os estados
de São Paulo e Minas Gerais.
No dia 13 de Maio de 1888, a filha
de Dom Pedro II, a Princesa Isabel, que assumiu o trono por conta de uma viagem
de seu pai à Europa por motivo de saúde, assina a Lei Aurea, abolindo
totalmente escravidão. Os escravos foram soltos, porém sem nenhuma indenização,
deixando-os rivalizados, sem leis e proteção. Desta forma foram largados, sem
educação, moradia, em estado de sub existência.
Porém, sendo um povo de tradição
nas lutas, “seus tambores nunca se calaram” e continuaram firmes e fortes
levando, ao longo dos anos, sua rica cultura para cada canto do Brasil, desde
as religiões afro-brasileiras, as danças, a música, a culinária e o idioma.
Gastronomia
Na gastronomia, a África deu sua
contribuição na construção de nossa identidade brasileira. Encontramos na
culinária africana um grande universo de modos de fazer, temperos,
ingredientes, utensílios, sabores, história, religião, todos aspectos que influenciaram
nossa mesa.
De todas as culturas do mundo, a
africana é a mais representativa da junção destes fatores. De norte a sul da
África encontramos pratos com influência mediterrânea, das tribos locais,
asiáticas, mulçumanas, árabes. E quando vieram para o Brasil, trouxeram uma
rica sabedoria culinária.
O Azeite de Dendê é um exemplo emblemático. Outro
exemplo, fruto da adaptação do negro diante das condições desumanas em que eram
submetidos, foi a feijoada, feita com as sobras das carnes dos seus senhores,
processadas pelo modo africano de cozinhar.
O Acarajé, uma especialidade
gastronômica da culinária afro-brasileira, um bolinho de massa de feijão
fradinho, cebola e sal, frito em azeite-de-dendê,
oferecidos no Candomblé para Xangô e Iansã. A forma de fazer e comercializar, o
“Oficio das Baianas de Acarajé”, é registrado como “Bem Cultural de Natureza
Imaterial”, inscrito no “Livro dos Saberes” do IPHAN – Instituto do Patrimônio
Histórico, Artístico Nacional.
Sua receita tem origens no Golfo do Benim, na África Ocidental, tendo sido
trazidos ao Brasil pelos escravos que vieram dessa região.
No caso da culinária brasileira,
que leva a influência dos indígenas e europeus também, os africanos trouxeram outros
quitutes e pratos bem típicos: o Abará, um bolinho de origem africana feito com
a massa do feijão fradinho, camarão seco, azeite de dendê e temperos, enrolados
em folha de bananeira, cozidos em água, sendo, no candomblé, comida de santo,
oferecido para Obá e Ibeji; o Aberém, um bolinho feito de milho, arroz moído na
pedra, macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas, sendo
também, comida de santo no Candomblé, oferecidos a Omulu e Oxumaré; o Quibebe,
um prato típico nordestino de origem africana, feito de carne, caruru, mocotó.
O Aluá é uma bebida feita de milho,
de arroz ou casca de abacaxi, fermentados com açúcar ou rapadura, usada como
oferenda em festas de orixás. Da cultura africana adquirimos o habito de se
comer camarão seco, utilizar panelas de barro e a colher de pau, dentre outras.
Religião
A religião africana, apesar de ser
considerada herege pela Igreja Católica na época da escravidão, influenciou os
rituais e as crenças do povo brasileiro.
Os escravos que vieram para o
Brasil entre os séculos XVI e XIX, trouxeram o Candomblé, considerado
feitiçaria pelos colonos portugueses que reprimiu seus rituais de forma brutal.
Para continuar existindo, se transmutou e tornou-se a maior representação do
sincretismo religioso afro-brasileiro. Para cada orixá, ou deuses africanos, há
um corresponde santo católico, uma forma criativa que os escravos encontraram
para esconder suas devoções com as “vestes católicas”, enganando, assim, seus
senhores.
Alguns exemplos de sincretismos são:
o orixá Oxalá seria representado na religião católica por Jesus Cristo e Senhor
do Bonfim; Xangô, São Jerônimo e São Pedro; Ogun, São Sebastião na Bahia e São Jorge
no Rio de Janeiro; Oxóssi, São Sebastião no Rio de Janeiro e São Jorge na Bahia;
Obaluaiê, São Lazaro e São Roque; Oxum are, São Bartolomeu; Logun Edé; Santo
Expedito e São Miguel Arcanjo; Ibeji, São Cosme e São Damião; Exu, Santo
Antônio e, erroneamente, o Diabo; Ewá, Nossa Senhora das Neves; Nanã, Santa
Ana, mãe de Maria; Iemanjá, Nossa
Senhora da Glória e Nossa Senhora dos Navegantes; Oxum, Nossa Senhora da
Conceição no Rio de Janeiro e Nossa Senhora das Candeias na Bahia; Iansã, Santa
Bárbara; Obá, Santa Catarina; Xangô, São Jerônimo, Santo Antônio, São Pedro,
São João Batista, São José e São Francisco de Assis.
A lavagem das escadarias do Senhor
do Bonfim, ritual que acontece todos os anos desde 1754, em Salvador, capital
do estado da Bahia, é um dos exemplos da fusão religiosa do catolicismo com o Candomblé.
O cortejo é comandado pelas baianas com seus ricos trajes típicos. Carregam
vasos com águas de cheiro. Atrás delas vêm os Filhos de Gandhi e uma multidão
de fiéis, todos vestidos de branco, a cor de Oxalá, o deus Yoruba, sincretizado
com o Senhor do Bonfim.
A Umbanda, é uma religião
brasileira, formada por elementos de outras religiões como o catolicismo e o espiritismo,
juntando elementos das culturas indígenas e africanas. A palavra significa
“Curandeiro” em banto, língua falada em Angola. Tem origem nas senzalas, onde
os escravos vindos da África, louvavam e incorporavam seus deuses através de
danças e cantos acompanhados de atabaques.
Incorporados, também, da cultura
africana, estão as superstições, os talismãs, os amuletos e outros objetos onde
se atribui um valor de encantamento e proteção. Eram objetos usados pelos
escravos vindos para o Brasil. Entre ao mais conhecidos, encontramos as pencas
de balangandãs, símbolo típico da Bahia, as figas, antigos objetos de proteção
e sorte. Os patuás, já utilizados pelos etruscos, foram incorporados na cultura
africana. Os patuás são pequenos saquinhos de plástico ou tecido contendo
orações, terra santa, ervas e tantos outros preenchimentos, voltados para a
proteção de quem os carrega.
Outro aspecto dos cultos
africanistas é a leitura de Búzios, uma arte adivinhatória, utilizados nas religiões
tradicionais da África.
Em Salvador, no estado da Bahia,
encontramos a festa de São Roque, desde 1737, uma manifestação de sincretismo
Afro-católico. Além da missa católica que acontece na Igreja de São Lázaro, o
povo da tradição Candomblé oferece rituais de banho de pipoca para os
visitantes, para limpar o corpo e espantar o mal olhado, além de diversas
outras atividades, gastronomia, etc.
Festas e Danças
As festas e tradições populares
brasileiras de origem, ou que tiveram influências africanas, marcam nosso
calendário. Normalmente feitas em comunidade carregam ritmos variados, coreografias
que envolvem a coletividade, muita alegria, formas e cores. Com enredos ou não,
os participantes cantam, tocam e dançam juntos, muitas vezes em ritmos rápidos
e enérgicos, outros sensuais, muitas vezes quase em estado de transe.
Podemos citar como típicas da
cultura afro-brasileira o Maracatu, a Congada, a Festa de Iemanjá,
manifestações de devoção a São Benedito, o santo negro, dentre inúmeras outras.
Música
Os ritmos da África influenciaram a
música do planeta. Aqui no Brasil, praticamente toda nossa música popular
brasileira tem um toque dos ritmos africanos, tornando-se uma mistura de
influencias da música africana com elementos da música portuguesa.
As expressões das músicas
afro-brasileira mais conhecidas são o Samba; o Maculelê, uma dança afro-indígena;
o Maracatu, ritmo tradicional do nordeste do Brasil, nascido nas cidades de Recife e Olinda, no estado de Pernambuco; o
Ijexá, um ritmo musical suave, de batida e cadência marcadas de grande beleza,
no ritmo e na dança, sendo o “Afoxé Filhos de
Gandhi” do estado da Bahia, o mais persistente dos grupos culturais
brasileiros na preservação desse ritmo. Temos ainda o Coco, o Jongo, o Carimbó,
a Lambada, o Maxixe, o Samba Reggae, Axé, o Lundu, o Cafezal, o Caxambú, e
tantos outros ritmos.
Destacamos a Roda de Capoeira, que une luta e dança tornando-se um símbolo da resistência da cultura africana, com os ritmos típicos do berimbau, instrumento musical de origem angolana. A Roda de Capoeira recebeu o título de “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade” da “Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura” (Unesco).
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “Os Jangadeiros”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros” Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
O sol nasce no horizonte Entre as florestas e os monte, despertando o Jangadeiro. Homem que não teme a morte Jangadeiro do norte trabalha nos enterros Solta a jangada no mar, vai remando devagar. Vai ficando a branca areia. Fica as mata e os palmiteiro, diz adeus ao jangadeiro. Suas folhas balanceia.
Por ter sua devoção, não tira o pé do chão. Ele faz sua oração para se arretirar. Ai, ai, pra enfrentar as ondas do mar.
Eu sô um pobre pescador, ajudai ó meu senhor. Manda um anjo protetor para o meu barco guardar Ai, ai, pras ondas não me tragar.
E o sol já se despedindo, sobre as águas vai sumindo. E as estrelas vão surgindo, fica as estrelas e o luar. Ai, ai, sol, ele, Deus e o mar.
Ele volta carregado, o seu corpo já cansado. Seu amor desesperado, no seu ranchinho a esperar. Ai, ai, ela se põe a rezar.
Lá vem o meu pescador, luto com força e vigor. Agradeço ao meu senhor, por essa benção me dar. Ai, ai, já voltou para o meu lar.
Jangadeiro Cearense Tião Carreiro e Pardinho
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Jangadeiro
Os jangadeiros são populações
tradicionais marítimas que vivem no litoral nordestino, na faixa costeira entre
o Ceará e o sul da Bahia. Muito retratado, é figura típica do litoral
Nordestino. Escasso agrupamento litorâneo, seus hábitos são ligados
estritamente ao mar. Moram em casas simples de telhados de palmas de coqueiro
ou casas de palha.
Com coragem
descomunal, saem pelo oceano, ainda de madrugada, tripulando tradicionais
jangadas de pau piúba, embarcações simples, em busca da pesca. Vão longe. Chegam
a cruzar com embarcações grandes. Em jangadas vão pescar os peixes que vendem
nos portos e mercados.
As jangadas têm
sua origem nas balsas, o mais primitivo dos barcos, composto de paus amarrados
entre si. São embarcações de madeira, típicas, usadas pelos pescadores
artesanais do Nordeste do Brasil. Luiz Câmara Cascudo afirma que a palavra
jangada é de origem asiática, presumivelmente da Malásia.
As jangadas são compostas
de materiais como a madeira de flutuação, tecidos e cordas. As tradicionais não
possuem nenhum elemento de metal para prender os componentes, apenas encaixes e
amarração com cordas de fibras selvagens.
A jangada é
construída com cinco ou seis troncos de piúva (ipê) ou de jangadeira
apeíba (Tibourbou, aUBL.), conhecida também por
pau-de-janga.
Possui uma vela
triangular, também conhecida como vela latina, presa a um mastro, que permite
navegar contra o vento. A vela está intimamente ligada à presença do navegante,
atento todo momento ao movimento do vento.
Encontramos
também objetos e apetrechos como o samburá, cesto feito de cipó ou taquara, com
uma boca estreita, onde se armazena os peixes pescados no mar; a quimanga, vasilha na qual levam
os alimentos dos jangadeiros como a farinha, a banana, a rapadura, o peixe
assado; um barrilote para armazenar a água; o remo de governo em forma de
grande pá, utilizado como leme e dois outros pequenos para propulsão; a bolina, prancha de madeira
fixada no centro da jangada, próximo ao mastro; o tauaçu, a âncora do jangadeiro,
composta de uma pedra, envolta de paus
fortes que a seguram, presas ao barco por uma corda. Da vela ao tauaçu, todos
os elementos da jangada tradicional são feitos artesanalmente.
Sua tripulação
pode ser de três a cinco pessoas que ficam um tanto quanto apertadas sobre a
embarcação.
Os pescadores tradicionais
respeitam a natureza: obedecem as marés, o regime de ventos, das correntes.
Podem ficar muito tempo ao mar dependendo do tipo de pesca. Antigamente iam
para o mar alto, chegando até a 120 quilômetros da costa. Hoje não se afastam
tanto, chegando a cerca de 50 quilômetros.
Na enseada de Mucuripe,
na cidade de Fortaleza, estado do Ceará, acontece o Circuito Cearense de
Jangadas, que compõe o calendário turístico nacional do Ministério do Turismo,
uma homenagem a força dos homens que trabalham nos 573 quilômetros da costa
marítima cearense. As principais colônias de pesca do estado se envolvem na
competição. Dias antes do evento, os jangadeiros reformam suas jangadas,
costuram os tecidos e pintam as estruturas do barco, garantindo a beleza e a segurança
de suas embarcações.
O
conhecimento da construção dessa família de embarcações artesanais está em
extinção: embora ainda haja colônias de pescadores remanescentes das primeiras
comunidades que ocuparam o litoral brasileiro, sobretudo no litoral do estado
do Ceará e do Rio Grande do Norte, praticamente não se constrói mais a jangada
tradicional, com troncos de madeira de flutuação, as jangadas de troncos. As
atuais jangadas são feitas em pranchas de madeira industrializada ou utilizando
instrumentos de corte mecanizado, as chamadas jangadas de tábuas.
As comunidades de jangadeiros são muito importantes no
litoral do Ceará para a pesca da lagosta e na costa do estado do rio Grande do
Norte onde pesca-se a lagosta e outros peixes com redes. Hoje sofrem a
concorrência dos pescadores de botes motorizados e do turismo, que adquirem
terras para a construção de estabelecimento hoteleiro nas praias.
O jangadeiro constitui um tipo original no nordeste, típico de sua paisagem. Vemos as jangadas e seus pescadores, pequenas e frágeis, lá longe, no alto mar. O jangadeiro é consagrado em canções, versos, poesia, cheios de lendas e histórias fantásticas para ouvirmos, lermos e imaginarmos.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “Danças Gaúchas”, da série “Manifestações da Cultura Brasileira. Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Tão bela flor, Quero-Mana,
Quero-Mana lá de fora,
Foi um gaúcho que trouxe,
Na roseta da espora, ai!
Minha terra, minha terra,
ela lá e eu aqui, ai,
Por muito bem que me tratem
Não esqueço onde eu nasci
Tão bela flor, Quero-Mana,
Tão bela flor, é verdade,
Do que é ruim ninguém se lembra,
do que é bom se tem saudade, ai!
Quero-Mana Música da dança tradicional gaucha
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Danças Gaúchas
As danças gaúchas são marcadas pela influencia da cultura espanhola, portuguesa e francesa. Em todas elas vê-se o espírito da fidalguia e do respeito à mulher. Outras vezes a dança é mercada por sapateados fortes, ritmados, uma apresentação de perícia de seus dançarinos.
Várias são as cantigas típicas gaúchas dançadas aos pares, onde há sempre o cortejo entre homem e mulher, como o Anú, Balaio, Chimarrita, Pezinho, Cana Verde. As danças gaúchas são ricas e profusas.
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As danças gaúchas são marcadas pela influencia da cultura espanhola,
portuguesa e francesa. Em todas elas vê-se o espírito da fidalguia e do
respeito à mulher. Outras vezes a dança é mercada por sapateados fortes,
ritmados, uma apresentação de perícia de seus dançarinos.
O fandango, que significa de forma mais universal, baile, vem da dança
espanhola cantada, acompanhada por castanholas, violão, uma dança ritmada e
forte, uma dança popular. Também, remete a uma dança portuguesa, mas sem o
canto, um baile popular onde se toca sanfona, se executam varias danças de roda
e sapateados.
O primeiro fandango gaúcho veio de uma mistura dos lundus africanos com
as danças dos espanhóis que vinham para as cidades sul-americanas, resultando
numa série de sapateados misturados com as cantigas brasileiras, que se uniram
aos cantos europeus. Algumas destas cantigas eram o Tatu, o Anu, Quero-mana,
etc. Os sapateados vinham da Península Ibérica. Sumiu dos bailes a sua forma
tradicional, passando a ser de par enlaçado.
Várias são as cantigas típicas gaúchas dançadas aos pares, onde há
sempre o cortejo entre homem e mulher.
O Anú divide-se em duas partes: uma para ser cantada, um passeio
cerimonioso e cortes dos pares, e a outra para ser sapateada onde podemos
encontrar evoluções do sapateado bastante marcantes. Em sua origem era de pares
soltos, mas não independentes.
O Balaio é originário do Nordeste, com influencias dos Lundus. É uma
dança de sapateado e ao mesmo tempo de conjunto. O sapateado vem das danças
originais de sapateado e as de rodas, vêm das quadrilhas que se encontra em
muitas danças do ocidente.
A Chimarrita tem origem no arquipélago de Açores e na Ilha da Madeira. Foi
trazida pelos colonos portugueses ao Rio Grande do Sul, em meados do século
XVIII. Tradicionalmente a dança é de pares, em fileiras opostas, e lembram as
danças típicas portuguesas.
O Pezinho, cuja melodia é muito popular nos Açores e em Portugal, é uma
dança onde todos os dançarinos, obrigatoriamente, cantam durante toda a
evolução e coreografia. Há a marcação de pés e, posteriormente, os pares giram
em redor de si próprios, tomados pelos braços, uma dança que reflete a ternura
entre seus praticantes, muito apreciada pelos tradicionalistas rio-grandenses.
As danças gaúchas são ricas e profusas. Há ainda a Cana Verde, o Chamamé,
o Maçanico, o Caranguejo, onde sua dança representa o cumprimento entre os
dançarinos e os balanceios, uma evolução que se originou da quadrilha europeia;
a Tirana do Lenço, o Xote Carreirinha, a Valsa, o Chote, a Milonga, a Vanera, o
Bugio, uma dança típica de peões com as chinas indígenas
A Chula já é uma dança de desafio, praticada apenas por homens. Ao som da gaita gaúcha os homens sapateiam sobre uma vara de quatro metros, numa incrível sequência coreográfica.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “Carnaval”, da série “Manifestações da Cultura Brasileira. Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta-feira sempre desce o pano
Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta-feira sempre desce o pano
Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade
No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança
Sonho de um Carnaval Chico Buarque Música e poesia
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Carnaval
O Carnaval é uma das maiores festas populares do país. Tem origem na
Grécia, onde o povo fazia festas em agradecimento à fertilidade dos solos.
Porém sua origem no Brasil vem do entrudo português, uma festa pagã europeia,
uma série de jogos e brincadeiras populares, que chegou aqui no século XVII.
O entrudo acontecia antes da Quaresma e tinha um significado de
liberdade para seus participantes. Esse espírito alimentou suas origens e o
modo de ser típicos do carnaval brasileiro.
Cada cidade brasileira tem sua forma típica de manifestar o carnaval
No Rio de Janeiro e em São Paulo são os desfiles de escolas de samba. Em
Recife e Olinda, blocos de rua, marchinhas carnavalescas e os bonecões ou
bonecos gigantes. Nas cidades do Nordeste do Brasil encontramos o frevo, que
nasceu em Pernambuco, e o Maracatu. Em Salvador podemos encontrar os trios
elétricos e os blocos negros como Olodum, o Ileayê, Afoxé Filhos de Gandhi e
Timbalada.
Pelo Brasil, durante todo o ano, há os carnavais fora de época ou as
chamadas “Micaretas”.
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O Carnaval é uma das maiores festas populares do país. Tem origem na
Grécia, onde o povo fazia festas em agradecimento à fertilidade dos solos.
Porém sua origem no Brasil vem do entrudo português, uma festa pagã europeia, uma
série de jogos e brincadeiras populares, que chegou aqui no século XVII.
O entrudo acontecia antes da Quaresma e tinha um significado de
liberdade para seus participantes. Esse espírito alimentou suas origens e o
modo de ser típicos do carnaval brasileiro. Na Itália e na França eram comuns
as máscaras e os desfiles urbanos que também influenciaram e forma de brincar o
carnaval aqui no Brasil.
Somente no final do século XIX começam a aparecer os primeiros blocos
carnavalescos, os cordões e quando, no inicio do século XX, surgem os primeiros
automóveis, aparecem nas ruas os “corsos”, onde as pessoas se fantasiavam e
saiam às ruas com seus carros decorados com motivos carnavalescos. Daí se
originaram os famosos carros alegóricos que vemos brilhar nos desfiles de
carnaval das principais cidades brasileiras.
A alegria das pessoas em participar foi crescendo com a entrada das marchinhas
carnavalescas, que animavam as festas de rua e davam uma grandiosidade para
esta manifestação.
Cada cidade brasileira tem sua forma típica de manifestar o carnaval. No
Rio de Janeiro e em São Paulo temos os desfiles de carnaval famosos por suas
alegorias cada vez mais fantásticas e tecnologicamente elaboradas. Em Recife e
Olinda, cidades históricas do Estado do Pernambuco, o carnaval manteve suas
tradições com os blocos de rua, marchinhas carnavalescas e os bonecões ou
bonecos gigantes que dançam e caminham pelas ruas das cidades junto aos
foliões. Encontramos também nas cidades do Nordeste do Brasil o frevo, que
nasceu em Pernambuco, e o Maracatu. Já em Salvador podemos encontrar os trios
elétricos, os blocos negros como Olodum, o Ileayê, Afoxé Filhos de Gandhi e
Timbalada.
As Escolas de Samba competem entre si e assim, com alegorias cada vez
mais elaboradas, exportam o Carnaval Brasileiro para o mundo todo. Dentre os
personagens destes grandiosos desfiles encontramos o Diretor de Bateria ou
Mestre de Bateria, o maestro das baterias; a Rainha de Bateria ou madrinhas,
musas ou princesas, normalmente ocupado por pessoas famosas que ficam á frente
das baterias; a tradicional Ala das Baianas; a Velha-Guarda, grupos de
sambistas idosos; o Interprete ou Puxador, o profissional responsável pelo
andamento do samba enredo durante o desfile. Há também o Mestre Sala e a Porta
Bandeira, figuras que chamam a atenção por suas ricas coreografias e cortejos e
a beleza de suas fantasias. A comissão de frente, um pequeno grupo de pessoas,
fazem uma coreografia que introduz o enredo. É o primeiro grupo de integrantes
a desfilar. O Carnavalesco cria todas as alegorias do desfile.
Pelo Brasil, durante todo o ano, há os carnavais fora de época ou as chamadas “Micaretas”.
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Por Lu Paternosto NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “Pescadores Artesanais”, da série “Manifestações da Cultura Brasileira. Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer
Adeus, adeus
Pescador não esqueça de mim
Vou rezar pra ter bom tempo, meu nêgo
Pra não ter tempo ruim
Vou fazer sua caminha macia
Perfumada com alecrim
Suíte do Pescador Dorival Caymmi
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Pescadores Artesanais
Há 250 anos, o litoral era dos índios e, posteriormente, dos açorianos,
um povo com muita experiência com o mar. Unindo aos escravos negros, o litoral
brasileiro foi se tornando fortemente povoado por pescadores, que, unido ao
recorte favorável de nosso litoral, impulsionou o desenvolvimento da pesca
artesanal por todo o país. Por isso, o Brasil é o país da pesca artesanal.
A pesca artesanal, dá sustento a milhares de brasileiros e abastece
diversos municípios e comunidades. Feita em pequena escala e de forma
sustentável, representa mais da metade do que é consumido internamente no país.
Por todo o litoral, de norte a sul do Brasil, em cerca de 8.000 quilômetros de
praias, bahias, ilhas, recôncavos, verdadeiros berçários naturais, encontramos
embarcações pequenas, de vários tipos, espalhadas pela orla, próxima as costas,
que acaba caracterizando as paisagens do litoral brasileiro.
Trabalham perto de casa, primeiro para suprir o consumo da família, da
sua comunidade e depois do mercado, quando os peixes são comercializados. Nas
vilas de pescadores podemos encontra-los ao lado de suas redes, tecendo,
concertando-as para a próxima pesca.
A rotina destes pescadores é muito semelhante e normalmente a atividade
é feita pelos homens, embora existem mulheres nesta atividade.
Os pescadores de pesca artesanal se caracterizam por utilizarem
embarcações simples e de pequeno porte. As vezes trabalham sem embarcações como
aqueles que capturam moluscos nas costas. A mão de obra é familiar e o serviço
no mar começa muito cedo.
A pesca local, mais comum, é realizada em rios, lagoas e lagos que
localizam-se próximas ao litoral. Desta forma as embarcações ficam próximas das
costas.
Utilizam vária
técnicas para pescas e capturar como o arrastão; a tarrafa, uma rede
de pesca circular, com pequenos
pesos distribuídos em torno de toda a circunferência dela, arremessada com as
mãos pelo pescador; linha e anzol; armadilhas; a rede de cerco, uma rede
que possui argolas por onde passa um cabo que ao fechar a rede por baixo,
prende os peixes dentro dela; redes de emalhar, um tipo de pesca passiva, em
que peixes e crustáceos, por causa de seus próprios movimentos, ficam presos nas
malhas destas redes.
Também fazem a
pesca artesanal os povos ribeirinhos, uma população tradicional que reside nas
proximidades de rios e têm a pesca e a caça como principal atividade de
sobrevivência. Cultivam pequenos roçados para consumo próprio e também podem
praticar atividades extrativistas. Suas casas
são construídas em madeira, podendo ser palafitas. As palafitas são casas de
madeira localizadas em regiões alagadiças, com a função de evitar que as casas
sejam arrastadas pela correnteza dos rios. Encontramos palafitas nas margens
dos rios da Amazônia, áreas da baixada fluminense e no Pantanal.
Para os ribeirinhos o rio é essencial. Usam-no como via de transporte
para jangadas e barcos. É nele também que os ribeirinhos executam uma das
principais atividades que lhes proporciona fonte de renda e de sobrevivência: a
pesca.
O contato profundo dos ribeirinhos com a natureza, os faz grandes
conhecedores da fauna, da flora, da floresta, dos peixes, dos cardumes, das
fases da lua, do uso de remédios naturais, das condições da maré, do caminho
das águas, dos sons da mata, o
manejo dos instrumentos de pesca, etc.
Este conjunto de conhecimentos fazem parte dos saberes relacionados à
pesca artesanal e alimenta a cultura e os saberes transmitidos através das
gerações. Toda a confiança na hora de
sair para o alto mar vem dos conhecimentos que possuem, sendo assim, se não
adquirem esses saberes, chamados de tradicionais, por serem passados de geração
em geração, podem sofrer consequências sérias na pescaria
A poluição das águas, a destruição dos habitats naturais, especulação
imobiliária, a especulação do pescado, a falta de respeito dos próprios
pescadores com as normas de pesca que servem para regularizar a atividade
tornando-a sustentável, a falta de fiscalização, a falta de respeito ao defeso,
o período de crescimento de camarões, peixes, o crescimento da globalização e
da pesca industrial, estão, Infelizmente prejudicando as atividades no país. Desta
forma, os ambientes marinhos estão cada vez mais ameaçados.
No mundo todo é sabido que devemos preservar e proteger as populações
tradicionais, os ambientes naturais e marinhos e a pesca artesanal sustentável,
mesmo porque a pesca artesanal é responsável por mais da metade do peixe
consumido no país. Os modelos de reservas extrativistas (Resex) é uma saída,
embora a falta de fiscalização leve a invasão dessas reservas pelos barcos de
pesca industrial ou predatória, que brigam de forma desleal com os pescadores
artesanais.
Estes barcos de pesca industrial muito próximos ao litoral, praticamente
aonde estão os pescadores artesanais, utilizam redes de malha fina, que pescam
também os filhotes.
A natureza é o meio de trabalho dos pescadores artesanais. Calcula-se
que mais de 2 milhões de pessoas seja envolvida nesta atividade. Infelizmente
estas comunidades ribeirinhas convivem com o isolamento econômico e social,
ficando à margem de uma série de políticas públicas e mecanismos de controle da
qualidade de vida. A situação geográfica de muitas dessas comunidades é um dos
principais fatores limitantes de acesso aos serviços básicos de saúde e
educação.
A pesca artesanal sustenta, da alimento e dinheiro para inúmeras
gerações de famílias. A maneira como ela é feita, protege a natureza. Infelizmente
a atividade está sendo prejudicada no país.
O Decreto nº 6.040, de 07 de fevereiro de 2007, reconheceu a existência dos povos e comunidades tradicionais, dentre os quais estão os ribeirinhos, instituindo uma política nacional voltada para as necessidades específicas desses povos, a Política Nacional de Desenvolvimento dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT).
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores