Povos Africanos
A construção da identidade do povo brasileiro passa pela contribuição dos povos africanos que chegaram ao Brasil como escravos enraizando, na forma de ser do brasileiro, sua rica e variada cultura.
O continente africano é caracterizado pela diversidade de culturas e línguas. Só na África fala-se cerca de 2 mil línguas, com seus dialetos. Esta diversidade é encontrada também em cada país, em cada região.
Durante 400 anos a África passou por um processo muito cruel de violência e discriminação que foi a escravidão e o colonialismo. Mas a alma deste povo continua florescendo em seu território e no mundo todo através de seus ritmos, danças, gastronomia, religião.
Foram cerca de 11 milhões de africanos que chegaram nas Américas, no maior processo de imigração forçada da história humana, sendo que vieram para o Brasil, trazidos pelos portugueses, 4 milhões desse “comércio infame”. Vieram como escravos, trazidos para as lavouras de cana de açúcar, tabaco, algodão, cacau, café, diamantes e outros para a construção de igrejas, casa, ferrovias.
Vieram para o Brasil em navios negreiros ou tumbeiros. A maioria deles eram jovens de 8 a 25 anos, mas nos navios vinham de tudo: cego, manco, surdos, chefes religiosos, príncipes, mulheres gravidas, mulheres com bebes.
Atravessaram o Atlântico em condições mínimas de higiene, vivendo em estado de sofrimento com os mals tratos de uma tripulação sem escrúpulos. Vinham confinados em porões, junto a comidas podres. Neste tétrico cenário, pegavam doenças, morriam e seus corpos, jogados no mar. Muitos se matavam, jogando-se dos navios, num ato de desespero pelo sofrimento.
O negro tem marcado em sua forma de ser, a força. Resistiam, lutavam contra os colonos, criavam os quilombos, comunidades próprias dos negros, onde viviam suas culturas sem a arbitrariedade dos brancos. O Quilombo dos Palmares, cujo o líder era Zumbi, era o mais famoso, símbolo da resistência negra no Brasil.
Embora a proibição do trafego de escravos tenha partido da Europa, por puro interesse próprio, a escravidão no Brasil terminou muito tarde, num longo processo de proibições em leis que não eram cumpridas, pois a mão de obra barata dos escravos, gerava muito lucro aos senhores de terra. Com as sanções e proibições da Europa, o Brasil começou a comercializar escravos internamente: estes vinham do nordeste para os estados de São Paulo e Minas Gerais.
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No dia 13 de Maio de 1888, a filha de Dom Pedro II, a Princesa Isabel, que assumiu o trono por conta de uma viagem de seu pai à Europa por motivo de saúde, assina a Lei Aurea, abolindo totalmente escravidão. Os escravos foram soltos, porém sem nenhuma indenização, deixando-os rivalizados, sem leis e proteção. Desta forma foram largados, sem educação, moradia, em estado de sub existência.
Porém, sendo um povo de tradição nas lutas, “seus tambores nunca se calaram” e continuaram firmes e fortes levando, ao longo dos anos, sua rica cultura para cada canto do Brasil, desde as religiões afro-brasileiras, as danças, a música, a culinária e o idioma.
Gastronomia
Na gastronomia, a África deu sua contribuição na construção de nossa identidade brasileira. Encontramos na culinária africana um grande universo de modos de fazer, temperos, ingredientes, utensílios, sabores, história, religião, todos aspectos que influenciaram nossa mesa.
De todas as culturas do mundo, a africana é a mais representativa da junção destes fatores. De norte a sul da África encontramos pratos com influência mediterrânea, das tribos locais, asiáticas, mulçumanas, árabes. E quando vieram para o Brasil, trouxeram uma rica sabedoria culinária.
O Azeite de Dendê é um exemplo emblemático. Outro exemplo, fruto da adaptação do negro diante das condições desumanas em que eram submetidos, foi a feijoada, feita com as sobras das carnes dos seus senhores, processadas pelo modo africano de cozinhar.
O Acarajé, uma especialidade
gastronômica da culinária afro-brasileira, um bolinho de massa de feijão
fradinho, cebola e sal, frito em azeite-de-dendê,
oferecidos no Candomblé para Xangô e Iansã. A forma de fazer e comercializar, o
“Oficio das Baianas de Acarajé”, é registrado como “Bem Cultural de Natureza
Imaterial”, inscrito no “Livro dos Saberes” do IPHAN – Instituto do Patrimônio
Histórico, Artístico Nacional.
Sua receita tem origens no Golfo do Benim, na África Ocidental, tendo sido
trazidos ao Brasil pelos escravos que vieram dessa região.
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No caso da culinária brasileira, que leva a influência dos indígenas e europeus também, os africanos trouxeram outros quitutes e pratos bem típicos: o Abará, um bolinho de origem africana feito com a massa do feijão fradinho, camarão seco, azeite de dendê e temperos, enrolados em folha de bananeira, cozidos em água, sendo, no candomblé, comida de santo, oferecido para Obá e Ibeji; o Aberém, um bolinho feito de milho, arroz moído na pedra, macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas, sendo também, comida de santo no Candomblé, oferecidos a Omulu e Oxumaré; o Quibebe, um prato típico nordestino de origem africana, feito de carne, caruru, mocotó.
O Aluá é uma bebida feita de milho, de arroz ou casca de abacaxi, fermentados com açúcar ou rapadura, usada como oferenda em festas de orixás. Da cultura africana adquirimos o habito de se comer camarão seco, utilizar panelas de barro e a colher de pau, dentre outras.
Religião
A religião africana, apesar de ser considerada herege pela Igreja Católica na época da escravidão, influenciou os rituais e as crenças do povo brasileiro.
Os escravos que vieram para o Brasil entre os séculos XVI e XIX, trouxeram o Candomblé, considerado feitiçaria pelos colonos portugueses que reprimiu seus rituais de forma brutal. Para continuar existindo, se transmutou e tornou-se a maior representação do sincretismo religioso afro-brasileiro. Para cada orixá, ou deuses africanos, há um corresponde santo católico, uma forma criativa que os escravos encontraram para esconder suas devoções com as “vestes católicas”, enganando, assim, seus senhores.
Alguns exemplos de sincretismos são: o orixá Oxalá seria representado na religião católica por Jesus Cristo e Senhor do Bonfim; Xangô, São Jerônimo e São Pedro; Ogun, São Sebastião na Bahia e São Jorge no Rio de Janeiro; Oxóssi, São Sebastião no Rio de Janeiro e São Jorge na Bahia; Obaluaiê, São Lazaro e São Roque; Oxum are, São Bartolomeu; Logun Edé; Santo Expedito e São Miguel Arcanjo; Ibeji, São Cosme e São Damião; Exu, Santo Antônio e, erroneamente, o Diabo; Ewá, Nossa Senhora das Neves; Nanã, Santa Ana, mãe de Maria; Iemanjá, Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora dos Navegantes; Oxum, Nossa Senhora da Conceição no Rio de Janeiro e Nossa Senhora das Candeias na Bahia; Iansã, Santa Bárbara; Obá, Santa Catarina; Xangô, São Jerônimo, Santo Antônio, São Pedro, São João Batista, São José e São Francisco de Assis.
A lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim, ritual que acontece todos os anos desde 1754, em Salvador, capital do estado da Bahia, é um dos exemplos da fusão religiosa do catolicismo com o Candomblé. O cortejo é comandado pelas baianas com seus ricos trajes típicos. Carregam vasos com águas de cheiro. Atrás delas vêm os Filhos de Gandhi e uma multidão de fiéis, todos vestidos de branco, a cor de Oxalá, o deus Yoruba, sincretizado com o Senhor do Bonfim.
A Umbanda, é uma religião brasileira, formada por elementos de outras religiões como o catolicismo e o espiritismo, juntando elementos das culturas indígenas e africanas. A palavra significa “Curandeiro” em banto, língua falada em Angola. Tem origem nas senzalas, onde os escravos vindos da África, louvavam e incorporavam seus deuses através de danças e cantos acompanhados de atabaques.
Incorporados, também, da cultura africana, estão as superstições, os talismãs, os amuletos e outros objetos onde se atribui um valor de encantamento e proteção. Eram objetos usados pelos escravos vindos para o Brasil. Entre ao mais conhecidos, encontramos as pencas de balangandãs, símbolo típico da Bahia, as figas, antigos objetos de proteção e sorte. Os patuás, já utilizados pelos etruscos, foram incorporados na cultura africana. Os patuás são pequenos saquinhos de plástico ou tecido contendo orações, terra santa, ervas e tantos outros preenchimentos, voltados para a proteção de quem os carrega.
Outro aspecto dos cultos africanistas é a leitura de Búzios, uma arte adivinhatória, utilizados nas religiões tradicionais da África.
Em Salvador, no estado da Bahia, encontramos a festa de São Roque, desde 1737, uma manifestação de sincretismo Afro-católico. Além da missa católica que acontece na Igreja de São Lázaro, o povo da tradição Candomblé oferece rituais de banho de pipoca para os visitantes, para limpar o corpo e espantar o mal olhado, além de diversas outras atividades, gastronomia, etc.
Festas e Danças
As festas e tradições populares brasileiras de origem, ou que tiveram influências africanas, marcam nosso calendário. Normalmente feitas em comunidade carregam ritmos variados, coreografias que envolvem a coletividade, muita alegria, formas e cores. Com enredos ou não, os participantes cantam, tocam e dançam juntos, muitas vezes em ritmos rápidos e enérgicos, outros sensuais, muitas vezes quase em estado de transe.
Podemos citar como típicas da cultura afro-brasileira o Maracatu, a Congada, a Festa de Iemanjá, manifestações de devoção a São Benedito, o santo negro, dentre inúmeras outras.
Música
Os ritmos da África influenciaram a música do planeta. Aqui no Brasil, praticamente toda nossa música popular brasileira tem um toque dos ritmos africanos, tornando-se uma mistura de influencias da música africana com elementos da música portuguesa.
As expressões das músicas afro-brasileira mais conhecidas são o Samba; o Maculelê, uma dança afro-indígena; o Maracatu, ritmo tradicional do nordeste do Brasil, nascido nas cidades de Recife e Olinda, no estado de Pernambuco; o Ijexá, um ritmo musical suave, de batida e cadência marcadas de grande beleza, no ritmo e na dança, sendo o “Afoxé Filhos de Gandhi” do estado da Bahia, o mais persistente dos grupos culturais brasileiros na preservação desse ritmo. Temos ainda o Coco, o Jongo, o Carimbó, a Lambada, o Maxixe, o Samba Reggae, Axé, o Lundu, o Cafezal, o Caxambú, e tantos outros ritmos.
Destacamos a Roda de Capoeira, que une luta e dança tornando-se um símbolo da resistência da cultura africana, com os ritmos típicos do berimbau, instrumento musical de origem angolana. A Roda de Capoeira recebeu o título de “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade” da “Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura” (Unesco).
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Por Lu Paternostro
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