No mundo são mais de 60 milhões de descendentes de italianos, dos quais a metade está no Brasil. Com 31 milhões de pessoas descendentes, o Brasil desponta como o maior país com raízes italianas no mundo. Esses imigrantes contribuíram e influenciaram em muito a formação da identidade brasileira.


Ilustração "Italianos e a Tarantela", da série "Imigrantes do Brasil". 
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Italianos e a Tarantela”, da série “Imigrantes do Brasil”.
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Italianos

Os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais foram os principais destinos dos italianos. Chegaram e foram para o Rio Grande do Sul trabalhar, nas terras altas. Nas cidades paulistas, trabalharam também em outras atividades, principalmente como operários da construção e da indústria têxtil. Na capital de São Paulo, bairros como Bixiga, Brás e Mooca são tradicionalmente relacionados à colônia italiana.

Encontramos a influência do povo italiano no Brasil em toda parte: na culinária, em personalidades, no modo de falar (principalmente do paulistano), nas expressões, na música, na ciência e nas artes sendo, as principais, as festas de igrejas, comilança de Natal, os presépios, massas como macarronada e pizzas, os vinhos gaúchos, capelinhas, a reza do terço, os cruzeiros de beira de estrada, as procissões, os ex-votos e tantas outras. Um povo que tem como principal característica, o amor pelo trabalho e pela família.

Ao chegarem no Brasil, se instalaram em condições adversas, trabalhando principalmente na agricultura.  Lutavam para sobreviver e manter suas tradições e costumes, como a forma de preparar seus alimentos, servir, mantendo a diversidade e a fartura. Como vieram para o sul do Brasil, instalaram-se em terras altas e muito frias, conservando a cultura de se comer pratos tradicionais como a Fortaia, uma omelete forte feita com linguiça e outros ingredientes, a galinha ao molho, animais de caça e caldos, dentre outros, para aquecer do frio. Um exemplo deste período é a tradicional polenta, um prato típico da Itália, feito com a farinha que vem do milho, plantado por eles.



Durante a saga dos primeiros italianos no Brasil, estes nunca deixaram de festejar a boa colheita em festas onde as famílias cantavam, jogavam, dançavam. Comia-se muito, sempre acompanhado de um bom vinho, preparados especialmente para este dia.

No início se juntavam em comunidades e depois em vilas tornando-se, posteriormente, cidades. Trouxeram seus costumes católicos de construir capelas, rezarem juntos, lembrando sua cultura, a tradição do seu país. Procuravam manter sua língua materna usando o dialeto Talian, conhecido como veneto brasileiro, de origem no norte da Itália, região do Veneto, hoje considerado patrimônio nacional, como “Referência Cultural Brasileira”, pelo Ministério da Cultura, falado por cerca de 500 mil pessoas, em 133 cidades brasileiras.  Na cidade e Serafina Correia, localizada no estado do Rio Grande do Sul, se tem o talian como segunda língua.

Embora o início da imigração italiana fosse quase que exclusivamente rural, com o passar do tempo muitos começaram a se dirigir para as zonas urbanas, contribuindo para o desenvolvimento do comercio e da indústria.

Em 1901, 90% dos operários de fabricas eram italianos em São Paulo. Isso os fez protagonistas do desenvolvimento das principais cidades do Brasil. Porém estes operários ganhavam muito mal, o que os forçava a morarem amontoados em moradias chamadas cortiços. Os bairros Brás, Mooca e Bixiga em São Paulo, que nasceram desta época, estão ligados ao passado operário destes imigrantes. A maioria dos primeiros grandes industriais de São Paulo vieram das colônias italianas.

Com o passar do tempo, o setor de serviço das cidades brasileiras cresceu e muitos imigrantes italianos deixaram as indústrias para trabalhar como artesãos autônomos, pequenos comerciantes, motoristas de ônibus e táxi, vendedores de frutas e vegetais, sapateiros, garçons.  Também foram os italianos que tiveram grande importância na formação dos primeiros sindicatos brasileiros – o engajamento político dos italianos e espanhóis era notório fossem eles comunistas, anarquistas ou socialistas.

Apenas seis estados brasileiros concentraram a quase totalidade da imigração italiana no Brasil: São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina e Paraná.

O Estado de São Paulo, até 1920, havia recebido aproximadamente 70% dos imigrantes italianos que vieram para o Brasil, atraídos pelas fazendas de café, vindos de diversas regiões da Itália.

Através dos chamados Núcleos Coloniais, gerados pelas vendas de lotes para incentivar a fixação de imigrantes em terras rurais, criaram-se centros de italianos, como na cidade de São Caetano do Sul; o distrito de Quirim, a 1ª Colônia Italiana do Vale do Paraíba, em Taubaté; Santa Olímpia e Santana na cidade de Piracicaba; núcleo Barão de Jundiaí, na cidade de Jundiaí; Sabaúna na cidade de Mogi das Cruzes; Piaguí, na cidade de Guaratinguetá; Cascalho, na cidade de Cordeirópolis; Pariquera-Açú, na cidade de Pariquera-Açú; Antônio Prado, na cidade de Ribeirão Preto; Pedrinhas Paulista, Canas, entre outros.


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No Rio Grande do Sul, o primeiro estado a receber imigrantes no Brasil, os imigrantes se instalaram nas terras selvagens, das serras gaúchas. Neste local formou-se as três primeiras colônias italianas, que deram origem às cidades de Garibaldi, Bento Gonçalves e Caxias do Sul.

No centro do estado foi criada a Quarta Colônia de Imigração Italiana, o primeiro reduto de italianos fora da Serra Gaúcha, e que originou municípios como Silveira Martins, Ivorá, Nova Palma, Faxinal do Soturno, Dona Francisca e São João do Polêsine. Nesse último, está a localidade de Vale Vêneto, nome dado para fazer homenagem à esta região italiana.

Outras colônias italianas foram criadas e deram origens a cidades como Farroupilha, Flores da Cunha, Antônio Prado, Veranópolis, Nova Prata, Encantado, Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Guaporé, Lagoa Vermelha, Soledade, Sananduva, Cruz Alta, Jaguari, Santiago, São Sepé, Caçapava do Sul e Cachoeira do Sul. Essas são as principais colônias italianas do estado.

Antonio Prado é considerada a mais italiana das cidades brasileiras e possui o maior acervo nacional de arquitetura urbana em madeira proveniente dos imigrantes italianos que chegaram à região em 1886, sendo considerada, pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Maior Acervo de Casas Tombadas pelo Patrimônio Histórico Brasileiro. Na cidade, encontramos a Sopa Imperial, patrimônio imaterial da gastronomia, que é composta de uma massa feita com ovos, queijo ralado, farinha de trigo, assada e, posteriormente, cortada em pedacinhos, que são cozidos em caldo de galinha.

Minas Gerais recebeu o terceiro maior fluxo de italianos que vieram para o Brasil, muitos deles vindo de várias regiões da Itália, sobretudo da Sardenha, região italiana que muito pouco contribuiu com a imigração no Brasil.  No Rio de Janeiro, ao contrário do que aconteceu no restante do Brasil, os italianos foram para as regiões urbanas, trabalhando nas indústrias e no comercio.

Já o Estado do Espirito Santo, abriga uma das maiores colônias italianas do Brasil. Foram para a região das serras, porém largados a sua própria sorte pelo governo brasileiro, enfrentando situações de muita penúria e necessidade.

No estado de Santa Catarina, fundaram a Colônia de Nova Itália, atual São João Batista. Outras colônias foram sendo criadas como Rio dos Cedros, Rodeio, Ascurra e Apiúna, todas estas no entorno da colônia alemã de Blumenau. No ano de 1875 imigrantes do Tirol Italiano fundaram Nova Trento, e em 1876 foi fundado Porto Franco, hoje Botuverá. Diversas outras colônias foram sendo formadas em várias cidades do estado. Os eventos que mais caracterizam essa colonização no sul do estado são as festas típicas, como a festa do vinho e o Ritorno Alle Origine, ambos no município de Urussanga.



No estado do Paraná, chegaram para as lavouras de café e constituíram diversas colônias entre mistas e etnicamente italianas. A Colônia Alfredo Chaves, que posteriormente se tornaria a cidade de Colombo, foi uma das quatro onde se concentraram os primeiros italianos que chegaram ao estado. As outras são a Senador Dantas, que deu origem ao bairro curitibano Água Verde, a Santa Felicidade, atual polo gastronômico da capital paranaense e a Colônia de Santa Maria do Tirol, localizada no município de Piraquara, Grande Curitiba.

Já a Colônia Cecilia foi a primeira experiência anarquista do país. Localizada no atual município de Palmeira os colonos, um grupo de libertários mobilizados pelo italiano Giovanni Rossi, plantaram mais de oitenta alqueires de terra – em área que lhes fora cedida pelo Imperador Pedro II, pouco antes da proclamação da República – e construíram mais de dez quilômetros de estrada, numa época na qual inexistiam máquinas, tratores ou guindastes de transporte de terras.

A alegria faz parte dos imigrantes italianos, que gostam muito de cantar as canções de seu país. No Brasil trouxeram a gaita piano, o acordeon, que tanto anima os bailes, do Rio Grande do Sul. Muitas das danças gaúchas tiveram suas origens com a imigração italiana, como por exemplo o xote de quatro passos.

A dança tradicional mais conhecida dos brasileiros é a Tarantela, um bailado composto de diversos casais, que vão dançando no ritmo que aumenta, tornando-se mais enérgico, animando a todos. Em geral é conduzida por um cantor central e acompanhada por castanholas e tamborim. Seu nome vem da cidade de Taranto, na região da Puglia, no sul da Itália



Também, temos alguns jogos tradicionais italianos que encontramos em nossa cultura como a bocha, o futebol, a amora, etc.

Os italianos trouxeram para o Brasil, também, a sua forma típica de construir: casas de pedras e madeira altas, piso de chão batido, que possuíam uma parte bem abaixo do nível do solo, geralmente aproveitando o declive dos terrenos, popularmente chamado de porão. Esta área da casa era naturalmente mais fria, local onde os imigrantes armazenavam bebidas como vinho, cachaça, graspa, sucos e alimentos como o vinagre, salames, ossocol e tantos outros.

Havia também o sótão, ou jirau, localizado na parte de cima da casa, entre o teto e o telhado, um local normalmente mais quente, onde eram conservados alimentos que deveriam ser conservados secos.

*Nota: O ossocol é um embutido de suíno, envolto em peritônio de boi ou de porco, amarrado por uma rede elástica, curtido durante, aproximadamente, 3 a 6 meses em ambiente fresco e arejado, protegido do sol. Seu nome deriva de osso colo, que na língua vêneta significa “osso do pescoço”, já que era feito originalmente com a carne do pescoço. No Brasil, é produzido e apreciado em locais colonizados pelos italianos, oriundos da província do Vêneto, como na cidade de Venda Nova do Imigrante, no Estado do Espírito Santo.

Na gastronomia os italianos gostam de “stare a tavola” ou sentar-se à mesa, comendo, comemorando, confraternizando, rindo, discutindo, se alegrando. Além de inúmeros hábitos, como o de se tomar e produzir vinhos, diversos pratos e costumes da cultura italiana foram incorporados à alimentação brasileira, como o hábito de comer panetone no Natal, pizza e espaguete, principalmente no Sudeste.


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Os italianos que permaneceram no Brasil e aqui reconstruíram suas vidas, influenciaram a formação dessa nação em diversos aspectos e contribuíram para o desenvolvimento do país social e economicamente.

A Tarantela

Na ilustração representei a Tarantela, caracterizada pelas danças em pares, e troca rápida de casais. Forma-se um circulo de dançantes no sentido horário, até a música se tornar muito rápida, quando todos trocam de direção. Eventualmente ficando tão rápida que fica difícil manter o ritmo. É associada à tarântula (aranha), cujo veneno induziria à dança frenética.

Normalmente são dançadas com roupas mais sóbrias.  Como gosto de colorir tudo, dei cores aos trajes de forma variada, por ser uma dança alegre.

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Por Lu Paternostro
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