O Tempo Passa na Casa da Florinda: E continua passando. Caixas de Histórias.

Peça da Exposição “Histórias do Universo dos Falantes”. Visite!

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O Tempo Passa na Casa da Florinda: E continua passando

E continua… passando…

O tempo passa na casa de flores e a carne assa num forno perdido no tempo, que passa para ele também.

O resto se acalma depois que o tempo passa. Façamos silêncio à passagem do tempo, porque ele vai, impiedosamente, para sempre.

A Florinda tentou segurar o tempo. Não deu…. Ficou triste. Fechou os olhos e aceitou.

E tudo continuou passando, indo com o tempo, o tempo que passa na casa da Florinda.

E ela se aquietou…

Por Lu Paternostro



O sono dos resignados. A morte dos quietos. Caixas de Histórias.

Peça da Exposição “Histórias do Universo dos Falantes”. Visite!

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O sono dos resignados. A morte dos quietos.

Eles vivem dormindo.

Não falam, não escolhem, não acham, não pensam, não leem, nem sonham, nem sentem o presente, nem nada.

Resolveram anular. Secar. Dormir.

Dormem em pé, parecem plantas. Dormem em tudo, em qualquer dia, local, dimensão.

Podem até falar, comandar, comer, administrar, mas o fazem dormindo.

Rezam, cantam, perguntam também, e morrem… Mas quietos…

Sempre dormindo.

Por Lu Paternostro



As coisas do Falar. O coração em Oração de um Pássaro. Caixas de Histórias.

Peça da Exposição “Histórias do Universo dos Falantes”. Visite!

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As coisas do falar. O coração em oração de um pássaro.

Mais uma vez o eterno falar.

Falar coisas do coração, falar sem falar, falar e viajar de tanto falar e ter no ato de falar uma rica alegoria de pensamentos que se alimentam do próprio ato do falar.

Falar por falar. Falar e nem saber por que falou, mas já falou. O falar desfalando ou refalando o já falado.

Vivo mundos de eternos falares. O vômito do falar se materializa em uma coisa como algo que tem persona.

Existem as línguas bífidas do mal falar e o tão propagado, mas eternamente distraído, ato de ouvir, sem o qual o falar se perderia, mas que, contudo, não o coíbe.

“Vai falando aí que eu já volto….”.



Vi um homem meio desfocado, ouvindo os falantes, tentando entendê-los, sem falar nada.

Esse homem segura um pássaro que fala, canta. Ouço que ora ao cantar.

Tem um grande coração no peito que nasce do seu orar cantante.

O mesmo coração que surge no peito daqueles que ouvem aquele que canta.

….

Falas, falas, falas, e ao fim, um único falo, dentro do teu ouvido!

Por Lu Paternostro



Interiorizando-se: Uma questão existencial. Caixas de Histórias.

Peça da Exposição “Histórias do Universo dos Falantes”. Visite!

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Interiorizando-se: Uma questão existencial

O cara resolveu tirar a vida para interiorizar-se e passa a vida interiorizando-se. Procura em seu umbigo o sentido de sua vida. Procura nos olhos e ouvidos dos outros, um sentido para parecer vivo.

Procura interiorizar-se quando tem gente perto: chegou gente, gente perto, pimba! Interioriza.

Tem moçada que tenta se interiorizar junto com ele, outras ficam discutindo e elucubrando sobre sua interiorização.  Outras, porém, vão embora.  Seu umbigo em nada interessa.

Quando o cara está almoçando, ele fica interiorizando-se em colheres espelhadas, olhos, pingentes. Mas sua imagem some delas e dele também, pois todos saem e vão embora, depois. 

Procura algo fora e dentro de si, mas logo para e fica na espera. Espreita um pouco e some novamente de si.  Chega alguém, ele começa a existir, mas sempre meio fora do ser em si.

Ele vive no “só seu”, eterno “só seu”. 

Quieto, enfiado, enterrado em si, sumido de si, ainda carrega uma força latente.

Será que, como as sementes, um dia brotará? Com tanta mente em olho-umbigo? Per, si?

Não sei.

Por Lu Patermostro



Um penetra enxerido: Ele está sempre aí, causando! Caixas de Histórias.

Peça da Exposição “Histórias do Universo dos Falantes”. Visite!

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Um penetra enxerido: Ele está sempre aí, causando!

O enxerido é um personagem curioso. É cabeçudo, com grandes olhos e orelhas gigantes! O resto é pequeninho.

Chegadiço e assanhado, é um tipo audacioso, que quer saber de tudo: dos ouvidos das paredes que ouvem, da vida dos vermes entediados que se arrastem em lixos e esquinas solitárias, das janelas, portas ou mesmo caixas vazias meio abertas – não deixa de dar uma espiada, nunca – dos buracos hirtos, calados…

E dos bumbuns alheios, então? Ah! Destes ele é um especialista obstinado – a vida do outro é sua mais sublime especialidade!

Por exemplo, se está trabalhando concentrados e de repente sente uma estranha presença, olhe em volta e vai encontrá-lo em algum canto, nem que seja pendurado no teto, olhando para você, com aquele olhão! Levanta rapidamente as duas sobrancelhas malandras, dá um tchauzinho , e diz com um sorriso maroto e bem desavergonhado, curioso de todo: “Oiii”…

Assim como Jaime Madrox, o “homem-múltiplo”, ele se desdobra em vários. Tem o dom da ubiquidade e, coincidente e curiosamente, está sempre onde a gente está. 

Intrometido nas extensões telefônicas, anexos nos e-mails, como fotos em mensagens; podemos encontrá-los ao longe olhando pelas fechaduras de portas antigas.
Aparecem do nada, como as fumaças que saem de garrafas, aquelas mesmas que abrigam os gênios das lâmpadas mágicas!

Estamos ouvindo música e quando vemos, ele está lá, como um encosto, entremetido, olhando para você e de novo “Oiiii”! 

Vamos sentar num sofá e quase sentamos neles.

Atendemos um celular? Pronto, lá estão eles com seus ouvidos tinindo de lustrosos e bem espichados.

Abrimos a geladeira e lá está o cara oferecido, sorrindo para você com a pergunta: “O que você vai comer?”

Pergunta tudo. Quer saber de tudo. Descobre coisas do nada.

Seus olhos são verdadeiros faroletes, acessos e muito abertos.

E, quando achamos que estão quietinhos, finalmente dormindo … Não estão não… 

Introduzidos em todos os momentos, podem ser até atenciosos ou mesmo adoráveis. Mas, xeretas e oferecidos, no fundo no fundo, não querem mesmo é perder nadica de nada nenhum da vida que é a tua, a do outro, e a de todos os outros!

Por Lu Paternostro



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