Ilustração “O Caiçara”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "O Caiçara", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “O Caiçara”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros”
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Na areia vejo um horizonte para o pai pensar 
Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Xotiando olhando as ondas a alegria é o mar

E bem na beira da costeira uma fogueira a armar
E o lual apenas está para começar
Lá vem a sanfona quero meu zabumba

Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Se vale a pena a vida no mar 

Na areia vejo um horizonte para o pai pensar 
Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
E as ondas quebrando na beira do mar

E a tarde caiu foi quando a lua surgiu
E no forró me envolvendo me perdendo no tempo
“Simbora” galera vamos forrozear

Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Se vale a pena a vida no mar 

Na areia vejo um horizonte para o pai pensar 
Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Xotiando olhando as ondas a alegria do mar

E a tarde caiu foi quando a lua surgiu
E no forró me envolvendo me perdendo no tempo
“Simbora” galera vamos forrozear

Sem vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Se vale a pena a vida no mar 4x

Xote Caiçara
Kanaviá

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O Caiçara

O caiçara é o nome dado aos indivíduos que moram em comunidades e vilas, no litoral, principalmente o litoral do estado de São Paulo.

“Caiçara” provém do tupi-guarani, ka’aysá (ou ka’aysara), que designava uma cerca rústica ou armadilha, feitas de galhos de árvores, colocada ao mar para capturar peixes. 

As comunidades caiçaras nasceram a partir do século XVI e são uma mistura do índio das regiões litorâneas do estado de São Paulo e oeste fluminense, ou tupiniquins, dos brancos de origem portuguesa e de negros libertos, que se afastaram das influências das áreas urbanas. Se estabeleceram nas encostas, costões rochosos, restingas e mangues da Mata Atlântica.



Por sobreviverem entre a serra e o mar, gozam de uma cultura própria e diferenciada.

Alguns autores chamam de caiçaras as comunidades do litoral do estado do Paraná, algumas do litoral do estado de Santa Catarina e sul do estado do Rio de Janeiro que mantém as mesmas características de formação étnica e parâmetros culturais, que possibilitam a comparação. Porém, refere-se sempre a indivíduos que moram em zonas litorâneas.

Inicialmente designava apenas a indivíduos que viviam da pesca de subsistência, mas, posteriormente, o termo caiçara passou a designar diversos itens de cunho cultural no litoral brasileiro. Como a serra formava uma barreira natural, isolando o povo do planalto, essas comunidades se desenvolveram fazendo uso de seus recursos naturais ali encontrados. Turistas e visitantes destas regiões, travam contato, muitas vezes sem saber, com uma das mais antigas tradições brasileiras.

No interior desse espaço caiçara surgiram cidades como Parati, Santos, São Vicente, Iguape, Ubatuba, Ilhabela, São Sebastião, Antonina, Paranaguá, que em vários momentos da história colonial, funcionaram como importantes centros exportadores. Estas cidades ficavam em constante comunicação e mantinham um ativo intercâmbio social e econômico entre elas, provisionando umas às outras com a produção que vinha dos sítios e das praias.  Esta intercomunicação acontecia pelas estradas, pelos rios e pelo mar. As chamadas canoas de voga transportavam as comidas, produtos e aguardente para estas comunidades, pela água.

A canoa de voga, citada acima é feita a partir de um único tronco de árvore (geralmente cedro, jequitibá ou guapuruvu). Três são as ferramentas básicas para talhar uma canoa: o machado, a enxó (de cabo curto e lâmina curva) e plaina, para alisar a madeira.

A agricultura era a atividade primária da cultura caiçara, passando, em meados de 1960 a pesca ser a atividade mais importante, hoje a principal atividade do caiçara.


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Nas embarcações utiliza-se equipamentos de origem indígena e na pesca ou captura, utilizam técnicas e processos vindos da cultura dos portugueses. Por exemplo, a poita é uma ancora rustica, feita de pedra e pedaços de paus, utilizadas nas canoas. Portanto expressões utilizadas por ele como “canoa poitada”, “poitado na cama”, “saiu da poita”, significam estar firme, parar. Na comunidade caiçara utiliza-se técnicas de pesca artesanal. Em algumas delas a comunidade participa coletivamente, como no arrasto da tainha.

Hoje muitos trabalham para barcos grandes, ganhando uma porcentagem do que é pescado. Porém, muitos ainda mantem a forma de pescar na natureza. 

O sistema de cultivo da terra utilizado pelos caiçaras tem grande influência indígena. Chamadas de coivara ou roça de toco, intercalam período de cultivo e produção, onde derrubam e queimam o terreno, com o descanso da terra.

A forma de cultivo dos caiçaras é autossustentável. Embora a atividade da agricultura tenha diminuído, sendo substituída pela pesca e pela compra dos alimentos em mercados, costumavam plantar milho, cana, feijão, guandu (leguminosa arbustiva), inhame, mas o seu principal produto é a farinha de mandioca, que não pode faltar na mesa do caiçara.  Também conhecem bastante sobre as ervas medicinais, o que atraiu cientistas para estudar o saber desse povo.

A sua cultura alimentar vem da união das culturas indígenas, europeia e africanas, adaptadas ao rico ambiente natural entre a serra e o mar. Em sua alimentação respeitavam a sazonalidade dos alimentos na natureza. Mas em um ambiente rico caçavam, extraiam palmito, cultivavam a mandioca, o cará e o inhame. Com a farinha de mandioca, preparavam beijus ou tapioca (nome de origem tupi-guarani, também é conhecido como goma de tapioca, tapioca ou polvilho doce, uma iguaria típica do Nordeste Brasileiro), o cuscuz, pirões de peixe. Fazem a galinhada, um prato típico da roça. Trabalham na pesca e no cultivo de ostras e mariscos.  Consideram a influência das luas e das marés no uso dos recursos naturais.

“Em casa, minha mãe secava peixe no varal e preparava cozidos com banana verde para alimentar a família. Frutos do mar e taioba, verdura de folhas verde-escuras, estavam sempre presentes. Foi com essa comida que eu cresci. Com pratos de uma cozinha rústica, de técnicas culinárias simples e ingredientes locais, que a gente conhece como cozinha caiçara.”, relata Eudes Assis, chef, fala sobre a cozinha caiçara.

A receita mais característica é o peixe azul-marinho com banana verde, não madura. Depois de cozido e somente na panela de ferro, fica com um tom azulado, bem típico. Aproveitando o caldo, faz-se um pirão com farinha de mandioca. Outros pratos típicos que se come nesta região é o arroz lambe-lambe, um arroz que leva mariscos inteiros; bolinho frito de taioba, que descendem da culinária indígena, africana, portuguesa e espanhola; a casquinha de caranguejo; a lula recheada. Tem ainda a paçoca de banana, banana ouro ou da terra verde, cozida e amassada com toucinho frito e a tainha na brasa

Um prato muito apreciado que é o peixe na areia, peixe inteiro temperado com alho, limão, cheiro verde e sal, embrulhado na folha de bananeira. Enterra-se o peixe na areia da praia a vinte centímetros da superfície, acendendo uma fogueira por cima e, esperando assar por uma hora. 



Para os doces, s caiçaras oferecem o manuê de bacia, bolo feito de melado de cana; o massa pão, um pequeno bolo que é servido com canela e açúcar; o pé e moleque feito com gengibre e melado, cortado como cocada. 

Paras as bebidas encontramos o café com caldo de cana, onde se passa o caldo de cana fervido, misturado com um pouco de água, num coador com pó de café, são bem tradicionais também. Mas as mais tradicionais são as pingas. Na cidade de Ubatuba, no estado de São Paulo, encontra-se perdida nas festas tradicionais a “concertada”, de sabor mais suave que a cachaça, é uma bebida criada na cidade de Ubatuba para que as mulheres pudessem tomar e acompanhar seus maridos que, quando voltavam da pesca “matavam o bicho” o que significa tomar a pinga.



Cidades como Cananéia e São Sebastião, comemora-se o dia do caiçara no dia 15 de março, em homenagem ao Fandango Caiçara, considerado patrimônio cultural imaterial brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional.

Nasci à beira-mar, unindo os meus vagidos
Ao clamor das marés, nos dias de tormenta,
E adormecendo a ouvir os soluços perdidos
Das ondas mansas – voz que enternece e acalenta…

Rústica habitação, tive por agasalho;
Piso de chão batido e paredes barreadas,
Casa de pescador, sem forro, nem soalho,
Oculta entre o verdor de palmas e ramadas

Pobre, porém feliz, à sombra de meu teto
Muitos anos vivi, sempre ao meu lado tendo
Nos conselhos de um pai o dedicado afeto,
E um coração de mãe meu conforto tecendo!

O mar era-nos esplêndido celeiro
Que a provisão do lar, generoso, ajudava
Farta contribuição nos dando o ano inteiro,
Pródigo como quem não media o que dava!”

José Bento de Oliveira

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Lu Paternostro
NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores

Ilustração “A Baiana do Acarajé”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "O Baiana do Acarajé", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
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“… Dez horas da noite,
na rua deserta
A preta mercando
parece um lamento (…)

Na sua gamela
tem molho cheiroso
Pimenta da costa, tem acarajé
Hum, hum, hum
Hum, hum, hum
Ô, acarajé eco
Ô lá lá iê ô
Vem benzer, hem
Tá quentinho

Todo mundo gosta de acarajé
O trabalho que dá pra fazer
é que é …”

A preta do acarajé
Dorival Caymmi

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Baiana do Acarajé

A Baiana do Acarajé hoje, no Brasil, é um bem cultural de natureza imaterial, inscrito no Livro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e artístico Nacional, em 2005. Vai desde a produção até a venda, sempre em tabuleiros onde são expostas as chamadas comidas de baiana, geralmente feitas com azeite de dendê, ligadas ao culto dos orixás do Candomblé. Uma personagem típica da cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, em praças, ruas, feiras e outras celebrações que marcam a cultura da cidade.  

A culinária baiana é uma culinária forte e um tanto quanto exótica por conta da mistura. Ela recebe a influência do índio, do português e do negro da África. A junção deu para o povo baiano firmeza, força e sabedoria.



Dentre os quitutes da baiana o mais conhecido é o Acarajé, um bolinho feito de feijão fradinho, moído no pilão de pedra, a chamada pedra de acarajé, preparado de uma maneira artesanal. É uma comida sagrada e de ritual, oferecida a Iansã, deusa do vento, orixá da tempestade. Ela equilibra o mundo em cima do vento. Se numa casa tem devoção à Iansã, tem acarajé. Única festa que não leva o acarajé é a de culto a Oxalá.

Acarajé é uma palavra da língua ioruba que significa “acará”, ou bola de fogo, e “jé”, comer, ou seja, “comer bola de fogo”. Sua origem é explicada por um mito sobre a relação de Xangô com suas esposas, Oxum e Iansã. O bolinho se tornou, assim, uma oferenda a esses orixás.

A origem da receita do Acarajé está em Benin, cidade localizada na África Ocidental, trazida para o Brasil, pelos escravos.  Antigamente o acarajé era feito pelas filhas de santo. As filhas de Iansã tinham um grande papel que era, depois de estar na obrigação de orixá, no final da tarde – o sol teria de estar “frio” – vender o acarajé com pimenta. Por isso, o fazer do acarajé está todo envolto em tradições. Tem de ser feito com carinho, com amor. Aí sai um bom acarajé.

E a devoção ao Orixá, exige sacrifício. Moer o feijão na pedra é um ato de quebrar, desfazer. O ato de passar uma pedra no pilão de pedra moendo o grão, o movimento, dá um molejo para quem dança o Candomblé. Por tradição, as baianas acreditam que o acarajé mais gostoso e especial é aquele moído na pedra. A massa fica fofa e cresce. Enquanto se moi o feijão, se canta para o orixá. Para não ter tanto trabalho, muitas baianas, hoje em dia, utilizam o moinho, o liquidificador ou já compram o feijão quebrado e moído para fazer o acarajé.

A cebola é o fermento do acarajé. Com ela o acarajé cresce, adquire sabor. A cebola também é ralada na pedra.

O acarajé é frito no azeite de dendê, outro ingrediente importantíssimo na tradição. Acredita-se que o azeite de dendê, de vermelho forte, é a força da natureza, que gera energia. É o sabor, a vida. Ele enfeitiça a casa com seu cheiro. O azeite é retirado dos frutos do dendezeiro na raça, do trabalho no pilão. Leva a força do negro. Sem o dendê, não se está fazendo o Acarajé. Nos mercados dos grandes centros é comum encontrar o dendê misturado com óleo de oliva, não tão puro.  


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O molho que se colocava sobre o bolinho frito era escuro, forte e apimentado. Antigamente não se usava o vatapá, o caruru e camarão seco como recheio. Era somente o acarajé e o molho de comer. Também era miudinho, não grande como é hoje.

Antigamente as baianas levavam o acarajé pronto, em tabuleiros na cabeça, um habito típico do africano. Desta forma as mãos ficam livres para negociar, levar as mercadorias, conduzir as crianças e servir. Este costume de apresentar os quitutes no tabuleiro, onde se reúnem várias comidas, com o abará, a passarinha ou baço bovino frito, os mingaus, o bolinho estudante, as cocadas, pé de moleque e outros, remonta de um fenômeno mais recente.

A banca, o tabuleiro, onde se apresentam os quitutes, se organizou mesmo depois da segunda guerra mundial, com a cultura do sanduiche. Esta cultura tornou o acarajé um tipo de sanduiche que, maior, lembra um pão de hambúrguer. Tem gente que o chama de sanduiche nagô, perdendo assim as características típicas de sua origem e tradição.


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O traje da baiana vem do Candomblé, vem da África e tudo é cheio de significados. A cor é o branco, utilizado nos trajes de festa e de luto nos terreiros de Candomblé. O pano de cabeça, o turbante afro-brasileiro ou o ojá, é de influência afro-islâmica e tinha a função de proteger a cabeça do sol dos desertos ou de outras áreas tórridas do continente africano. Pode ser tecido em diferentes formatos, texturas e pode ser disposto de formas diferentes, conforme intenção social, religiosa, étnica, entre outras.

A cor branca é a cor da pureza, da paz. O camisu é feito com bordado rechilieu; a anágua, rigorosamente engomadas, armam a saia deixando a saia da baiana rodada. Diz a tradição que são necessárias sete anáguas. Sobre a anágua uma saia, a bata. Quanto ao pano da costa, se diz que quando a baiana tem 7 anos de santo de obrigação, ela tem de usar amarrado na cintura, sobre a saia. Antes deste período se usa o pano da costa no peito. Também com o nome de pano-de-alaká pode ser feito em tecido de tear manual, de visual semelhante ao das peças da África.

Os fios-de-contas, chamados de ilequê pelo povo de santo, especialmente os dos terreiros de candomblé Kêtu-Nagô, são distintivos de usos feminino e masculino, embora sua maior expressão e força estética estejam no domínio da mulher. Acrescenta-se aos fios-de contas uma infinidade de objetos, como figas e balangandãs, que buscam reforçar os sentidos simbólicos das cores e também dos materiais empregados. Usam também, pulseiras.



Muitas festas estão ligadas às Baianas como a Festa do Largo, que passam a acontecer no espaço profanos das ruas. Constituem um espaço simbólico representado por um conjunto de práticas e rituais que, ao associarem santos católicos a orixás, relacionam o catolicismo oficial ao Candomblé. Podemos citar, em Salvador, capital do estado da Bahia, as festas de largo de Nossa Senhora da Conceição, de Santa Luzia, a Festa de Santa Bárbara no Mercado de Santa Bárbara a Baixa do Sapateiro, Senhor dos Navegantes, da Lapinha de Reis, do Bonfim, de São Lázaro, de Iemanjá e de Santa Bárbara, que será ressaltada em função de se tratar da padroeira das baianas de acarajé, santa católica ligada a Iansã.



 “Quando se faz uma matança, de algum animal, seja de pena ou não, seja qual animal for, qualquer orixá, ou para exu, se canta para tudo. Se canta para a faca que corta, para o azeite, para o vinho, se for para exu, canta para a cachaça, para o meu, se canta até para as penas, para o sangue, canta pra tudo. Tem a cantiga que canta para o azeite também… e assim sucessivamente” Pai Leopoldo (1944 a 2006)

O dia da baiana de acarajé é comemorado em 25 de novembro.

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Por Lu Paternostro
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