lustração “Os Pantaneiros”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "Os Pantaneiros", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Os Pantaneiros”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros”
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Meu coração pantaneiro
Onde pulsa a natureza
Sol nascente do desejo

Da paixão em correnteza
Comandante em meu cavalo
Nos caminhos boiadeiros
Navegante pelas águas

Desses rios canoeiros
Meu coração pantaneiro
Que o amor já fez morada
Dor de peão boiadeiro

Que procura sua amada
Uma garça majestosa
Flor campeira de mulher
Bate asas tão distante

Inda não sabe o que quer

Tuiuiú, ai tuiuiú
Voa, vai dizer a ela

Que a paixão é verdadeira
Diz que sou peão escravo
Dessa garça pantaneira

Tuiuiú, ai tuiuiú
Voa, vai dizer a ela

Que a paixão é verdadeira
Diz que sou peão escravo
Dessa garça pantaneira

E assim, eu vou levando
Essa dor apaixonada
Em coda ponto de estrela

Vejo o rosto dessa amada
Ponteando na viola
A esperança de um sinal
De poder em suas asas
Revoar o pantanal

Tuiuiú, ai tuiuiú
Voa, vai dizer a ela Que a paixão é verdadeira
Diz que sou peão escravo
Dessa garça pantaneira

Coração Pantaneiro
Sérgio Reis

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O Pantaneiro

O Pantaneiro é o habitante tradicional da região do ecossistema brasileiro chamado Pantanal. Muitos os chamam de bugres.

As populações tradicionais, entre elas os pantaneiros, foram reconhecidas pelo Decreto Presidencial nº 6.040, assinado em 7 de fevereiro de 2007. Nele o governo federal reconhece, pela primeira vez na história, a existência formal de todas as chamadas populações tradicionais.

O Pantanal é um mundo de águas, um paraíso grandioso. Em toda a sua área, um pouco mais de 132 mil quilômetros quadrados de extensão, cabem quatro países como a Holanda, Bélgica, Portugal e Israel.



O Pantanal tem este nome quando da visita do Visconde de Taunay ao local, durante a Guerra do Paraguai. Em seus livros descreveu essa imensa área alagada como sendo um imenso pântano. Os pantaneiros vieram através do rio Tietê, Paraná e Paraguai, desde o interior de São Paulo, em busca do ouro das minhas localizadas na região de Cuiabá, no século XVIII. Também, os primeiros criadores de gado que chegaram ao local, há mais de 250 anos, o chamaram de pantanal. Quando esgotaram as minas, uns foram para outros garimpos e os desiludidos com a atividade focaram para criar gado.

O pantanal é uma planície, a maior, a mais rica e a mais bela extensão de área alagada do planeta. Ele é dividido em 10 regiões diferentes, situados nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, e em trechos da Bolívia e do Paraguai.

O bioma tem espécies de diferentes regiões com o mandacari da caatinga e o cambará da Amazônia, que chegaram na região pelo vento. A paisagem muda conforme as águas enchem ou abaixam. No Pantanal o homem convive com milhares de espécies da fauna e da flora há muitos séculos. Há sítios arqueológicos ainda inexploráveis, inscrições e desenhos em pedras. Restos de fogueiras e materiais em cerâmica são objetos de estudo dos arqueólogos. Na região encontram-se 650 diferentes espécies de aves, 262 de peixes, 1.100 de borboletas, 80 de mamíferos e 50 de répteis e animais sob o risco de extinção, como onças-pintadas, jacarés, veados, araras, quatis e outros. São mais de 1.700 diferentes espécies de plantas.

O pantanal é lugar de gente corajosa, que entende e acata com humildade os sinais da natureza. O peão pantaneiro vive nas condições oferecidas pela própria natureza, adaptando-se aos períodos das chuvas, que alagam a região por longo tempo.

O povo pantaneiro tem índio, espanhol, português, paraguaio, boliviano, árabes, paulistas, mineiros e muitas outras descendências, mas tudo começou com os índios.

Segundo pesquisas arqueológicas feitas na região pantaneira, a ocupação humana do local se deu há mais ou menos 8.500 anos. Grupos de nômades índios, migraram para a região vindos do planalto central brasileiro, do charco paraguaio e da região chiquitania da Bolívia.


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Adaptaram-se muito bem ao local e aqui viveram. Quando está seco, eles andam a cavalo o dia todo. “Quando é na seca, nóis anda lá e não acha nem água pra bebê, mas quando é nas água, é triste. O pantanal misterioso. Tem ano que enche muito, ano que enche pouco..” depoimento de um velho pantaneiro. 

As decorações dos recipientes marcam a identidade do povo que há séculos estiveram lá. No início do século 16 eram centenas de milhares de índios no local, formando agrupamentos, as primeiras sociedades organizadas do pantanal. Hoje são em muito poucos, aculturados, urbanizados. Doenças, principalmente as trazidas pelos colonizadores, os trabalhos foçados e as guerras onde participavam ativamente, provocou uma redução da população indígena.

Embora reduzidas, muitas sociedades ainda preservam algum aspecto de suas culturas tradicionais, como a tribo dos terenas. Lá as mulheres se dedicam ao trabalho da casa e a produção de artesanatos em cerâmica e palha de taboca, uma espécie de bambu, muito comum na região pantaneira. Já os homens cuidam de alimentar suas famílias. São responsáveis pelas pequenas lavouras, pela pesca e caça. Estes habitantes lutam para preservar suas tradições e história. Em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, foi construída uma pequena vila para eles morarem, com casas que se assemelham a ocas, porém em alvenaria. A conjunto se chama Marsal de Souza, tem escola bilíngue e um memorial para preservar a cultura indígena. São os homens também os principais atores de uma das mais antigas manifestações culturais desta tribo indígena que existe até hoje: a dança-do-bate-pau.

A criação de gado no Pantanal se consolidou. O vaqueiro da região agora possui traços inconfundíveis, um tipo brasileiro que já nasce sobre um cavalo, traz nas expressões, na fala e nos hábitos alimentares todas estas culturas juntas. O vaqueiro do pantanal parece ter sido forjado neste local.

Criou suas próprias ferramentas com as matérias primas que tinha disponível, como o couro. Pode-se encontrar artesanatos belíssimos feitos em couro, especialmente para a montaria. 

Sua vestimenta se une à vestimenta do cavalo. O freio, o arreio, a sela, o estribo, o laço, a baldrana, o pelego e ainda a calça de couro, a perneira, que vai sobre a calça, para proteger o vaqueiro dos galhos das arvores secas e do próprio pelo do cavalo.

Participam das festas de laço, rodeios, rodas de tererê, bailões, regados a muita bebida. Tem o chamamé, a polka paraguaia, a moda de viola e o vanerão. Toca-se o acordeom e a viola.



Uma nova cultura foi nascendo ao redor do vaqueiro do pantanal. Do português o pantaneiro herdou as histórias para assustar as crianças. Dos índios, vem os gritos e aboios, os traços fisionômicos, as novas comidas, o costume da sesta, depois de comer. O gosto pela música veio dos paraguaios e bolivianos.

Sua alimentação é baseada na farinha, carne, feijão, arroz e mandioca e em frutos, raízes e legumes da região. Os peixes também integram a culinária, acompanhados de arroz tropeiro, mandioca frita, e feijão e salada. Há ainda a paçoca, uma farofa de carne-seca frita e moída no pilão com farinha; e o furrundu, um doce feito de mamão verde e rapadura.

A cultura local e a natureza estão totalmente ameaçadas. Temos o avanço agressivo da agricultura monoculturista do milho, soja e trigo, que fez com que populações saíssem do lugar ou mesmo se acostumasse com um novo estilo de vida, que foi se modificando nas próprias cidades. A falta de cultura preservacionista deste agricultor contribuísse com este perigoso processo de deterioração do meio ambiente. Com a divisão do Estado em 1971, o agronegócio e os latifúndios entrarão com tudo na região. Aos poucos foram expulsando os índios e os agricultores rurais de seus habitats.



Os vaqueiros continuam com seu ritmo característico, com seus hábitos, seu compromisso com a natureza, trabalhando nas fazendas, levando bois.

“O homem do pantanal é uma continuação das águas. É um homem puro em todos os sentidos e que tem uma vivencia muito diferente da do home de cidade. Ele tem uma absoluta vivencia do pantanal e um absoluto respeito pela ecologia pantaneira. O que nasceu lá, o pantaneiro, ele só caça para comer. Ele respeita a natureza. Ele nasceu ali, gosta dali, tem um amor ali” Manoel de Barros

Viveram as belezas e adversidades da natureza, entre águas e seca, história presente nos sulcos de sua pele, escura, curtida, pantaneira. Guardiões da natureza viva do Pantanal.

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Por Lu Paternostro
NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores

Ilustração “Mulher Rendeira”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "A Mulher Rendeira", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
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Olê muié rendera
Olê muié rendá
Tu me ensina a fazê renda
Que eu te ensino a namorá

Lampião desceu a serra
Deu um baile em Cajazeira
Botou as moças donzelas
Pra cantá muié rendera

As moças de Vila Bela
Não têm mais ocupação
Se que fica na janela
Namorando Lampião

Mulher Rendeira
Elba Ramalho
De Zac do Norte, sobre motivo atribuído
a Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião

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A Rendeira

A renda de bilro vem de uma longa tradição, passada de mãe para filha. Chegaram no Brasil pelos portugueses do arquipélago de Açores, em 1748. Ao virem para o Brasil os portugueses trouxeram a atividade da renda para enfeitar trajes, toalhas, cortinas, lençóis e as peças de vestuário da nobreza.

Característica de Santa Catarina e Ceará, graças a maior concentração de açorianos, as rendeiras executam os mais variados trabalhos em renda. As mulheres exercitavam a criatividade inventando pontos como “maria morena” e “tramoia”, este considerado típico da Ilha de Santa Catarina. Hoje a cidade de Florianópolis, que reúne o maior número de rendeiras do sul do Brasil, se orgulha ter o bilro como referência cultural associada ao município.

As rendeiras trabalham tecendo suas rendas sobre uma almofada cilíndrica feita de pano grosso, dura, recheada de ‘barba de velho’, capim de colchão, palha de bananeira, serragem, ou, ainda, esponja sintética, também denominada de espuma, misturada com estopa. Chama-se rebolo, nome dado à mesma almofada em Portugal.  O rebolo é posicionado sobre as cangalhas, um tipo de caixote desmontável, em madeira, que segura a almofada. Sobre o rebolo é colocado o desenho, um cartão de papel com desenhos perfurados chamado pique. Nestes furinhos, a renderia espeta os alfinetes que seguram os fios. Pode-se usar também espinho de laranjeira ou espeto de jurumbeva, palavra tupi-guarani para designar espécie de cacto, também chamado de jurumbeba, urumbeba, urubeba, entre outros. Os fios são manipulados através dos bilros ou birros, pequenas peças de madeira esculpida, que variam em formato e tamanho. Servem para enrolar a linha que a rendeira usa para tecer, como carreteis.

Os bilros são pequenas bobinas de madeira, geralmente preparadas e torneadas pelos maridos ou por parentes das rendeiras. A madeira mais empregada para sua confecção é a rabo de macaco (Melaxonylon brauba). Os bilros são manejados aos pares pela rendeira, em movimento rotativo. A linha preferida das rendeiras é a de puro algodão, de diversas espessuras. Empregam tipicamente as cores branca e bege, embora encontremos linhas coloridas.



A rendeira mexe com os bilros aos pares, em movimentos muito rápidos, quase imperceptíveis, executando os pontos no ar, prendendo-os, nas suas extremidades, pelos alfinetes fincados no pique que está sobre a almofada. Há vários tipos de trançados ou pontos.

A atividade exige habilidade, concentração e calculo matemático.

A renda de bilro foi a principal atividade exercida pelas mulheres de pescadores no século passado. Por isso o ditado “onde há rede, há renda”. Sentadas em cadeiras embaixo da sombra de grandes árvores, teciam as rendas, conversavam, cantavam, diziam versos. A maioria não sabia ler ou escrever e algumas fumavam cachimbo. A atividade da renda e do pescado eram responsáveis pelo sustento das comunidades litorâneas de vários estados do Brasil. As rendeiras são mulheres carinhosas e atenciosas, demonstrando o orgulho que têm por exercer uma atividade tradicional.


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Encontramos rendeiras o município de Raposa, uma das maiores colônias de pescadores do estado do Maranhão, na ilha de São Luís. A cidade vive da pesca e do artesanato da renda de bilro. As rendeiras chegaram ao local na década de 1950 – 1960, vindos do município de Acaraú, estado do Ceará. Na cidade até as crianças fazem a renda. As rendeiras utilizam os espinhos de mandacaru no lugar dos alfinetes. O corredor das rendeiras é a via principal para se conhecer o trabalho destas artesãs.

A tendência desse tipo de artesanato é desaparecer, pois as novas gerações não estão tão interessadas em tecer e, compradores, em comprar. A renda é uma profissão de fé e amor pelo ato de fazer. Infelizmente está se perdendo a esperança de se viver da renda. Elas dizem que fazer a renda é um bom antidepressivo para suas vidas.

“Se eu deixar de fazer renda, vou pegar uma depressão que vou morrer, porque quando eu estou fazendo renda, escutando rádio, eu não estou botando coisa ruim na minha cabeça. A doença mais triste do mundo é a depressão”, afirma Dona Delgícia Amélia Góes, que vive na Costa da Lagoa, região de rendeiras da cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina.



Em homenagem a esse fazer artesanal tão ligado à cena cotidiana, no calendário de Florianópolis, o dia 21 de outubro consta como o Dia Municipal da Rendeira, instituído pela Lei no 8030/2009.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “Sanfoneiro”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "O Sanfoneiro", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “O Sanfoneiro”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros”
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O candeeiro se apagou
O sanfoneiro cochilou
A sanfona não parou
E o forró continuou

Meu amor não vá simbora
Não vá simbora
Fique mais um bucadinho
Um bucadinho
Se você for seu nego chora
Seu nego chora
Vamos dançar mais um tiquinho
Mais um tiquinho
Quando eu entro numa farra
Num quero sair mais não
Vou inté quebrar a barra
E pegar o sol com a mão

Forró no Escuro
Luiz Gonzaga

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Sanfoneiro

O sanfoneiro é uma figura típica, um personagem que não pode faltar nas festas populares seja forrós, quadrilhas, festas de imigrantes e tantas outras. O sanfoneiro toca o ano todo, em todo o Brasil. Inúmeras canções populares cantam o sanfoneiro como a figura responsável pela alegria e ritmo destas festas. Junto a ele, a sanfona foi ganhando espaço em todo o país,

“Acordeão” é a corruptela de acordeom, e vêm do alemão “akkordium”, pelo francês “accordéon”. “Sanfona” vem do grego “symphonía”, pelo latim “symphonia” e pelo latim vulgar “sumphonia”. Significam o mesmo objeto, mas o nome sanfona é mais popular, pois já nasceu voltada para as canções folclóricas, para atender à alma do povo.

Pode ser chamada de acordeão, fole ou sanfona, o fato é que seu sucesso é garantido, crescendo a cada ano o gosto do brasileiro pelo instrumento.



A sanfona é um instrumento musical tocado no mundo todo, trazido para o Brasil através dos imigrantes italianos e alemães. É formada pelo teclado, que pode representar até acordes mais sofisticados; pelo fole, responsável pela passagem de ar que resulta na liberação do som; pelas caixas harmônicas de madeira e pelos baixos, que são os botões tocados pela mão esquerda e responsáveis pelas notas mais graves, determinando o ritmo.

Uma sanfona pode pesar de 9 a 13 quilos e ter cerca de 15.000 peças. Seu processo de produção é artesanal, por isso uma sanfona pode chegar a valores bem altos.

Toca-se, também, a concertina, ou acordeão diatônico. A concertina foi trazida pelos imigrantes alemães quando estes vieram para o Brasil a procura de melhores condições de vida. Tocar a concertina lhes proporcionava alegria e distração, pois viveram em péssimas condições aqui, no início dessa nova morada. Foi sendo passada de pai para filho até hoje, sendo um traço cultural muito forte dos descendentes dos Alemães.


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No estado do Espirito Santo, diversas cidades promovem festivais de tocadores de concertina como Santa Maria do Jetibá, Linhares, Santa Tereza, Colatina, Laranja da Terra, Itarana, Afonso Claudio, dentre outras. 

Os tocadores de sanfona ou sanfoneiros, são amantes da arte de um instrumento considerado complexo. A relação que o sanfoneiro tem com sua sanfona é praticamente simbiótica, como se um não vivesse sem o outro. Muitos aprenderam sozinhos, sem professor, ouvindo e observando seus pais ou os tocadores das festas populares. Pegaram a sanfona, se arriscaram a tocar e tocam muito bem, incentivados pelo ritmo alegre que ela proporciona. É mais comum vermos homens tocando sanfona, mas as mulheres sanfoneiras estão em franco crescimento aqui no país. 

No Brasil muitos sanfoneiros foram eternizados, como é o caso do consagrado Luiz Gonzaga, “O Rei do Baião”, Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Sivuca, o Camarão, Caçulinha, Renato Borghetti, Zé Calixto, músicos que levam a sanfona brasileira para outros países.

A riqueza de ritmos e expressões que a sanfona adquire pelo Brasil e pelo mundo é impressionante!

A sanfona é um símbolo da cultura do Nordeste, onde encontramos ilustres sanfoneiros tocadores de xote, xaxado, baião e forró, forró-pé-serra e tantos outros ritmos regionais. São tocadas nas festas juninas, as festas dos santos do mês de junho, dando o ritmo para as quadrilhas, mas estão presentes mesmo não jeito divertido e alegre de tocar do nordestino.

No Brasil Central, encontramos a sanfona liderando os chamanés pantaneiros, os arrasta-pé, os bailões e as canções do interior de Goiás.

A sanfona adquire novos ritmos no estado do Rio Grande do Sul, como fandango, o bugio, a milonga, o vanerão, a polca gaúcha e inúmeros outros!



Existem algumas fabricas de sanfona no Brasil: em Araraquara e Jaú, no estado de São Paulo; na cidade de Campina Grande no estado da Paraíba; em Iúna, no estado do Espirito Santo e Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul.

São Pedro do Itabapoana, localizado na cidade de Mimoso do Sul, no estado do Espirito Santo, tornou-se uma referência nacional na música de raiz, promovendo há mais de 16 anos o Festival de Inverno Sanfona e Viola. Na cidade acontece também o encontro de violeiros e sanfoneiros de Folias de Reis. No local pode-se conhecer o Núcleo de Formação em Sanfona e Viola. Para saber, São Pedro do Itabapoana é um sítio histórico com 41 imóveis residenciais, tombados pelo Conselho Estadual de Cultura em 1987.



Já no estado da Paraíba, existe uma rica diversidade desses músicos, seja nas bandas de forró, em carreira solo, nas orquestras ou nas palhoças, espalhados por toda a região.

Inicialmente sendo inserida no baião, que até então era tocado apenas com o violão, a sanfona passa a reconfigurar e criar ritmos, tornando-se popular e representando, através da sua musicalidade, diversos momentos tradicionais da história.

Embora não exista ainda no Brasil um dia que homenageie o sanfoneiro, este personagem continua fazendo a alegria sem fim do povo brasileiro, em todos os cantos de todo o país.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “Seringueiro”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "O Seringueiro", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
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Ilustração “O Seringueiro”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros”
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Chico
Onde houver uma vida
Sua voz será ouvida
Como força de oração
Do amor pela terra
Que não se encerra num coração
Sou mais um nessa guerra
Quebrando a serra da devastação

Me abraço à natureza
E a Deus peço axé
Em louvor a Chico Mendes
Sua luta, sua fé
Homem simples, seringueiro
Um valente brasileiro
Homem simples seringueiro
Um valente brasileiro

Que ao mundo fez seu manifesto
Um protesto à crueldade e à tirania
Das derrubadas, das queimadas
É a Amazônia em agonia
E hoje chora a saudade
De Nova York a Xapuri ô ô
Do Oiapoque ao Chuí, xi!
Será que as coisas mudam por aqui?

Na Amazônia
A Amazônia tá virando zona de liquidação
Sem cerimônia, matam e metem a mão
Na Amazônia
A Amazônia tá virando zona de liquidação
Sem cerimônia, matam sem perdão

Um líder, Chico
Onde houver uma vida
Sua voz será ouvida
Como força de oração
Do amor pela terra
Que não se encerra num coração
Sou mais um nessa guerra
Quebrando a serra da devastação

Ah, meu verde
Meu verde não é rabo de foguete
Vai tacar fogo no cacete
Ah, meu verde
Meu verde não é rabo de foguete
Vai tacar fogo no cacete

Louvor a Chico Mendes
De Almir De Araújo / Marquinho Lessa

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Seringueiro

O seringueiro é o personagem característico da região Norte e Centro Oeste do Brasil, responsável pelo oficio de coleta do látex da árvore da seringueira (Hevea brasiliensis) e a preparação das pelas para venda. O látex é a matéria prima da borracha.

O Ciclo da Borracha foi um momento importante na economia do Brasil. Teve o seu centro de desenvolvimento na região Amazônica. A borracha era chamada de ouro negro e foi responsável pelo crescimento de cidades como Manaus, capital do estado do Amazonas, Porto Velho, capital do estado de Rondônia e Belém capital do estado do Pará. Uma das expressões da riqueza da borracha, na época, é o Teatro Amazonas, em 1896. Rico e suntuoso, o calçamento do seu entorno foi coberto com a borracha, para que as carruagens que por ali passassem, não perturbassem os espetáculos. O ciclo da borracha viveu seu auge entre 1879 e 1912, tendo experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945, durante a II Guerra Mundial, que foi de 1939-1945.

O látex é recolhido das árvores através de incisões feitas nos caules, em cortes feitos em forma de espinha de peixe. No final do sulco central, um pequeno baldinho coletor de metal, ou uma cuia de cabaça, é posicionado para recolher o látex. Esta etapa tem o nome de sangria do látex. Cada árvore produz uma média de doze litros por ano, ou um litro por mês. As seringueiras vivem até cinquenta anos, mas produzem o látex somente a partir dos sete anos.

O látex é uma secreção geralmente esbranquiçada, produzida por algumas plantas como a papoula, a seringueira, o mamoeiro e o caucho (Castiloa ulei), produz um tipo de látex que coagula muito rápido exigindo, para sua retirada, outro tipo de processo, diferente do descrito abaixo. O látex é uma reação ao ferimento provocado à planta, um processo químico com o objetivo de cicatrização.  

A vida dos seringueiros artesanais requer uma rotina dura, ligada às necessidades da natureza: todos os dias acordam cedo, caminham longe pelas estradas das reservas, colocando as tigelinhas nas árvores para coletar o látex. Depois de umas cinco horas, passam retirando o látex e colocando em algum recipiente maior. Com este material, dirigem-se até o tapiri, um local coberto com folhas de sapé, onde localiza-se o forno para fazer a defumação do látex.



O fogo é feito em baixo da terra. Na altura do chão há um forno de barro, em formato de um cone, com um buraco em cima, por onde sai a fumaça que vai defumar o látex e formar a pela. Usa-se o coco de babaçu para a melhor queima. A pela é uma bola de borracha, o material que é vendido, podendo chegar a cinquenta quilos. Fica posicionada no meio de uma vara de 1,50 m. Esta vara tem o nome de “cavador”.

O seringueiro posiciona uma pequena bolinha de goma coagulada no centro do cavador, posiciona a bolinha sobre a fumaça que sai do forno e começa a derramar o látex que acabou de coletar, sobre ela. Conforme vai girando a bola, a peia, aos poucos ela vai crescendo com o acumulo e a coagulação do látex. O trabalho é lento e que demora muitos dias.

O seringueiro fica no trabalho da defumação, cerca de duas horas e, embora o ambiente seja aberto, a fumaça vai diretamente para seus olhos e pulmões. Trata-se de um oficio desgastante, mas sustentável, de muito pouco impacto para a natureza. Por isso o oficio do seringueiro tradicional goza de muito valor e importância.

A borracha chamada “borracha em bruto”, é deformável e passa por mais uma série de processos para adquirir propriedades diversas como variação na elasticidade, na dureza, resistência e outros, tornando-a um produto largamente usado na indústria.

Outro aspecto é que as comunidades localizadas nos seringais e entorno, também se beneficiam do trabalho do seringueiro.

Um exemplo são os sacos encauchados, sacos de tecidos impermeabilizados com látex, decorados, utilizados como malas para viagens e para carregamento de mercadorias pelos caboclos e índios da selva.


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O encauchado tem origem nos índios da Amazônia e, mais antigos ainda, índios da Colômbia. Trata-se de uma técnica de impermeabilização de tecidos utilizando-se o látex. Os sacos encauchados eram utilizados também para o transporte do próprio látex, levado nas costas do seringueiro.  

A criatividade do povo da Amazônia, ampliou a transformação do látex para a produção de objetos de decoração, artesanato, utilitários, objetos de uso pessoal, tecidos ecológicos e couro vegetal.

O mundo da economia criativa, seja moda, movelaria, etc, exige que os produtos tenham cada vez mais criatividade, qualidade e originalidade.

O couro vegetal da Amazônia é um exemplo que atende a esta demanda.

O couro vegetal é um produto obtido de um processo ecologicamente correto, originário de tradições dos índios e seringueiros: eles banham tecidos de algodão com o látex, derramando-o cuidadosamente sobre o tecido, estendido sobre um esquadro de madeira. Ao látex é acrescentado alguns produtos que dão durabilidade e qualidade ao produto final.
O próximo passo é a defumação do tecido no esquadro: o seringueiro vai passando-o sobre a fumaça do forno defumador. Depois disso, leva-se ao sol, para finalizar a secagem.

Na cidade de Machadinho D´Oeste, localizada a 400 km de Porto Velho, capital do estado de Rondônia, existem 12 reservas extrativistas, sendo 8 ativas. Em uma delas, a Quariquara, moram 38 famílias. Eles transformaram o látex em um tecido ecologicamente correto e de produção sustentável com a finalidade de se produzir pastas, bolsas e mochilas. O processo acontece na hora da defumação, onde o látex é defumando sobre uma manta de algodão. A comunidade aprendeu a costurar e com este tecido da floresta e produz bolsas que são vendidas em lojas de vários estados brasileiros.

Para uma produção maior se usa uma estufa. Com mistura de pigmentos, pode-se fazer uma gama imensa de cores.

A produção sustentável da borracha para a confecção de artesanato, couro vegetal e outros produtos que une design e sustentabilidade, atraem o interesse de indústrias do mundo todo. O incentivo das instituições brasileiras na exploração sustentável do látex, tem levado ao aumento da renda às comunidades de seringueiros do Norte do Brasil.

Tembém o artesanato típico tem sua expressão nas figuras feitas em Balata da Amazônia, um tipo de látex elástico, proveniente de uma árvore chamada balateira, também conhecida como maparajuba (Manilkara bidentata). Nas cidades de Monte Alegre, Alenquer, Santarém e Belém, no estado do Pará, as figuras típicas da mata como a onça, o índio, o pescador, o barqueiro, são moldados com a balata como matéria prima. 



A balata era exportada, nas décadas de 1930 e 1970, onde era utilizada para a produção de correias de transmissão, cabos telefônicos, válvulas mecânicas, materiais telegráficos e odontológicos, entre outros produtos. Estes produtos acabaram sendo substituídos pelo petróleo e por outros tipos de látex. Então, com a queda da demanda internacional pelo produto, alguns artesãos aproveitaram o látex que estava estragando, para transformá-lo em artesanato.

Outro personagem importante para a história do país foi Chico Mendes, grande líder dos seringueiros, sindicalista e ativista ambiental, que se destacou nacional e internacionalmente na luta pela preservação do modo de vida dos seringueiros na selva, sempre buscando, através da União dos Povos da Floresta em defesa da Floresta Amazônica, unir os interesses de índios, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas.

As reservas extrativistas surgiram como alternativa para o desenvolvimento sustentável para a Amazônia. No estado do Acre, existem 5 reservas, entre ela a Reserva Extrativista de Xapuri, criada em 1990 por Chico Mendes. Nela vivem cerca de duas mil famílias, que tem como principal fonte de renda a extração da castanha do Brasil e da borracha.

Também no estado do Acre podemos encontrar o parque Urbano Capitão Ciríaco, um antigo seringal, propriedade de Ciríaco Joaquim de Oliveira (1858-1938). Localizado no centro da capital, Rio Branco, o parque é considerado o único seringal urbano do mundo, conta com cerca de 360 seringueiras e um seringueiro que produz a borracha de forma tradicional.

O oficio do seringueiro permanece vivo, passando de geração para geração. O dia 3 de março é comemorado o dia do seringueiro.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “Vendedores Ambulantes”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "Os Vendedores Ambulantes", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Os Vendedores Ambulantes”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros”
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Venham sem demora 
Eu sou o cometa 
Que vai logo embora 

Eu sou o mascate 
Eu sou barateiro 
Vendo tudo a prazo 
Eu detesto dinheiro 

Minha Senhora, eis suas baixelas 
Diretamente de Bruxelas 
Senhorita, O Carmim da China 
Para ruborizar sua face de menina 

Eu sou o mascate 
Sou o mercador 
Renda pra Senhora 
Na renda do Senhor 

Três balaios de unguentos 
Carreteis de linhas, duzentos 
E uma caixinha de sombra chinesa 
Ali para a mocinha com cara de princesa 

Eu sou o mascate 
Sou bufarinheiro 
Compro até alfinete 
E vendo o mundo inteiro 

Pílulas lilases, baratas e eficazes 
E essências orientais 
Para vossos banhos semanais 

Eu sou o mascate 
Eu sou varejista 
Paguem quanto possam 
Que eu entrego a vista 

Façam vossas encomendas para o próximo trimestre 
Que por enquanto só existe transporte terrestre 
Deem-me vossas listas com qualquer pedido 
Que mulher não paga – só o marido 

Eu sou o mascate 
Eu já me vou 
E o que eu vendo aqui 

Me custou o dobro 
Em Roma e Madri 
Me custou o triplo 
In London e Parrí. 

O Mascate
Carlos Lyra

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Vendedores Ambulantes

São tipos humanos que encontramos pelas ruas, folclóricos pela forma de serem e exporem seus produtos. São encontrados por todo o canto, desde uma cidade grande até pequena, vilarejos e ilhas, no meio do mar, vendendo de tudo em seus carrinhos, tabuleiros, cestos, assadeiras, pendurado em suas costas!

Equilibram mercadorias na cabeça, as carregam em pedaços de paus nos ombros, penduram em cavalos, carregam nas mãos, montam tabuleiros em vários locais, apresentam seus produtos em lonas no chão, transportam barracas cheias de bugigangas sobre bicicletas, burros, penduram em cercas, penduram em si próprios.

São uma parte importante das cidades do mundo todo, tornando-se membro vital da vida social e econômica de uma cidade. São muito apreciados pelos turistas que podem usufruir de uma experiência autentica de contato com o povo e a cultura de um local. 



Os mascates transportam o mundo, se preciso for, para levar coisas dos mais diversos tipos para qualquer lugar onde tem gente. São comerciantes ativos, presentes, observadores e espertos. A alma do mascate habita uma pessoa que sabe o que quer para si.

Os mascates ou vendedores ambulantes são antigos no Brasil.

A origem do termo “mascate” vem do árabe El-Matrac. Chamado, também, de “turcos da lojinha”, pois muitos imigrantes árabes tornaram-se vendedores.

No final do século XIX, chegaram sírios, libaneses, palestinos que vinham não para trabalhar nas lavouras de café, mas para vender objetos para os moradores das roças e fazendas. Caminhavam de fazenda em fazenda. E vendiam. Com o tempo, os árabes foram ficando famosos e conhecidos como vendedores itinerantes, com grande predominância e relevância no comercio.

Mascate também foi o nome depreciativo que os portugueses, estabelecidos na cidade de Olinda, deram aos portugueses que estavam em Recife, de onde originou a Guerra dos Mascates, uma guerra de interesses políticos e econômicos, entre as duas cidades, em 1710.

Mas, o mascate, possivelmente, surgiu na Idade Média, com o desenvolvimento dos burgos. Seus apelidos são inúmeros como pano de linho, marinheiro, bufarinheiro, matraca, canastreiro, miçangueiro, barateiro, corneta, turco da prestação, gringo, pechilingueiro, russo ou judeu da prestação, contrabandista, italiano.

Também conhecidos por caixeiros viajantes, levam seus produtos de um local distante para outro, tornando-os acessível para as pessoas.  Inicialmente os mascates visitavam as cidades do interior e as fazendas de café, levando apenas miudezas e bijuterias. Com o tempo e o aumento do capital, começaram também a oferecer tecidos, roupas prontas e outros artigos.


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Um mundo de objetos é vendido pelos mascates: perfumes, frutas, ovos, verduras, potes plásticos, bijuterias, enfeites, panelas, chapéus, tapetes, tecidos, remédios, roupas, sonhos, até sonhos… e promessas, quantas promessas.

Os Lambe-lambes vendiam fotos, as ciganas liam as mãos e os pais de santo vendiam leitura de búzios…. Será que estes tipos são considerados mascates?

Encontramos citações destes personagens na literatura de Carlos Drummond de Andrade, nos romances de Jorge Amado, nos contos de Cornélio Pires.

Encontramos os mascates nas ruas, em praças, chamando as pessoas, pregando sobre seus produtos, benefícios, suas mágicas soluções. Caminham por ruelas, estradas. Vão de balsa, barco, ônibus, carro, pela praia, a pé, de bicicleta, patins, skate. Atinge o mundo das formas mais diversas apenas porque querem vender. Fazem teatro, usam bonecos, alegram as pessoas.

E com a entrada dos produtos chineses, então, vendem a mesma coisa em 100 ou mais barracas, valendo única e exclusivamente da empatia de cada um, da alegria inerente ao seu espirito! Hoje menos, mas antigamente, víamos nas saídas dos metrôs, inúmeras pequenas mesinhas, com uma pessoa em cada uma, vendendo passe de ônibus ou metrô, cartão ou fichas de telefone. Todas exatamente iguais, vendendo a mesma coisa. O que vale a venda é o olho no olho, aquela coisa bonita do “Seja bem-vindo!”. O vendedor que ama o que faz, tem esse brilho pronto em sua forma de ser. 

O mascate continua aí, nas ruas, agora como vendedores ambulantes, muitos deles preferindo o emprego informal e o ganho irregular, à prisão do emprego fixo e aos constantes desrespeitos que sofrem. São pessoas que valorizam a liberdade, a liberdade de estar na rua, em contato com o mundo, as pessoas, o dia, a noite, a vida que pulsa ao seu redor.



Infelizmente ainda a sociedade não percebe a importância que o vendedor ambulante exerce. Ele é parte importante da sociedade, pois cria seu próprio emprego reduzindo, dessa forma, a pobreza social e contribuindo para o crescimento econômico das cidades.

São parte integrante de nossa cultura, de nossa tradição. Por isso, ganhou seu dia: dia 14 de novembro é o dia internacional do vendedor(a) ambulante.

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Por Lu Paternostro
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