Eu vou contar para vocês uma história diferente
Que de tão incrível virou lenda
E até hoje lá no sul o povo conta para a gente
E o cantador emenda
Um sacristão lá da igreja que ficava de bobeira
Sentado olhando o rio passar
Um dia notou algo diferente
A água “tava” fervente começando a borbulhar:
“Meu deus, o que é isto dentro do rio? É um clarão, e vem na minha direção!”
Muito assustado o sacristão caiu de lado
Vendo o ser iluminado disparar seu coração
Valha-me deus, nossa senhora! É o tal lagarto com a pedra preciosa na cabeça!
Contam as velhas histórias que há muito tempo começou a fama do lagarto Teiniaguá,
Diziam que quem o aprisionasse acharia um tesouro, o mais lindo tesouro que há,
Eram riquezas ocultas dentro de uma caverna, chamada Salamanca lá na Serra do Jarau
Passado o susto o sacristão pegou o bicho
Levou pra casa, tremenda confusão
Foi quando viu estupefato num delírio
O lagarto virar um mulherão
Era a verdadeira deusa da beleza
Cheia de encantos coisa e tal
Que aprisionada no corpo do lagarto
Guardava o tesouro da Salamanca do Jarau
Cuidado sacristão, essa mulher é o pecado encarnado! Esse coisa do diabo!
Seduzido pelo luxo e riqueza
Encantos e belezas começou a vacilar
E cegamente apaixonado jurou amor eterno
E fale quem quiser falar
E eram tantos seus pecados que os padres das paróquias
Já não puderam perdoar
Pobre sacristão, foi condenado!
No dia marcado pra sua morte, um trovão bem forte, para sua sorte, fez o céu estremecer
O dia de repente virou noite e de dentro do rio surgiu de novo o teiniaguá
O brilho de sua pedra cegou todos os homens e o povo com medo fugiu
Livres, os dois subiram a serra do Jarau, e no caminho, o sacristão olhando aquela formosura de lagarto disse:
É lagarto, tu me ensinas a fazer “lenda” que eu te ensino a namorar.
E até hoje diz a lenda ainda vivem na colina
Os dois deixando o tempo passar
Guardando um tesouro precioso
Um romance sem igual na Salamanca do Jarau
O lagarto que era o tal da Salamanca do Jarau
UAU!
O progresso me dá liberdade de compor versos estilizados
Me proponho a cantar as raízes e as relíquias dos antepassados
Tradição para o leigo é grossura a cultura enriquece o estado
Só me resta dizer aos amigos o Rio Grande vai bem obrigado
“A Salamanca do Jarau”
Fernanda Lima
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A Lenda da Teiniaguá ou Salamanca do Jarau
Típica das tradições gaúchas, a lenda da Teiniaguá ou Salamanca do Jarau, de origem espanhola, está repleta de elementos que refletem a formação do povo gaúcho, produto de complexa inter-relação entre o europeu, o oriental, ou o mouro, e o povo indígena.
Em seu livro “Lendas do Sul” (1913), a fábula é recontada por João Simões Lopes Neto (1865-1916), um contador de lendas e estórias que, através de seu narrador protagonista Blau Nunes, que ouvia as histórias contadas por sua avó charrua, tribo indígena que habitava o estado do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina e que fora dizimada pela colonização espanhola.
Nela temos inúmeros elementos integrando-se de forma dinâmica como a citação de Salamanca, uma das cidades da Espanha mais ricas em monumentos da Idade Média e Renascimento, trazendo a tradição de lendas e histórias antigas, representando a mescla cristão-árabe, cheia de misticismo, milagres, feitiços, escolas de magia. No seu livro, Lopes Neto a utiliza como uma denominação para as cavernas encantadas encontradas na América.
Encantadoras e personagem principal, as princesas mouras, são originalmente relacionadas a magia e encantamento nas histórias das tradições árabes, o que reforça a presença do povo islâmico. A citação à cultura indígena é representada no Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que transforma a linda princesa moura numa lagartixa ou salamandra, destinada a viver aprisionada numa lagoa, no Cerro do Jarau, uma formação rochosa de grande valor arqueológico, localizada no município de Quaraí, no estado do Rio Grande do Sul.
Outra personagem de importância é o sacristão, descendente de espanhóis jesuítas, que se apaixona pela princesa árabe, um amor proibido pela Igreja Católica.
A lenda da Teiniaguá ou a Salamanca do Jarau “busca a composição étnica, histórica – e por que não dizer – até mesmo antropológica da civilização gaúcha, através de seus tipos principais, representados cada qual por uma narrativa: o índio, o árabe e o espanhol, o português e o negro (HOHLFELDT, 1996, p. 47).
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A Lenda
Resumindo em uma das formas de se contar, a lenda é mais ou menos assim:
Conta a lenda que um sacristão da igreja de São Tomé, num dia de muito calor, e indo se refrescar numa lagoa, se depara com a Teiniaguá, uma princesa moura que foi transformada numa lagartixa com uma pedra reluzente na cabeça, pelo demônio vermelho, o Anhangá-Pitã. Ele sabia que o homem que a encontrasse ficaria rico para sempre.
O sacristão pega a lagartixa e a leva para sua casa. À noite, como rezava a lenda, a lagartixa se transformou numa belíssima princesa de lábios vermelhos, muito sedutora, que pediu vinho ao sacristão.
O homem, levado pelos seus encantos, rouba o vinho santo da igreja, se delicia com a moça e embriaga. É encontrado neste deplorável estado e preso pelos padres. A princesa volta a se tornar lagartixa e foge.
O sacristão, então, é sentenciado, mas no momento de sua morte, a Teiniaguá reaparece, singrando pela terra profunda, e o captura, levando-o para a Salamanca do Jarau, uma gruta profunda e encantada. O mantem como prisioneiro.
Passados 200 anos, um cavaleiro corajoso, que já conhecia a estória da Teiniaguá, estória contada por sua avó, uma índia charrua, enfrenta os sete desafios corajosamente chegando até a gruta. Lá se depara com a salamandra encantada, que o alerta de seu prêmio. Mas o cavaleiro não aceita e a salamandra fica desolada, pois sabia que para se livrar do encantamento o cavaleiro precisava aceitar uma coisa que desistiria depois.
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O velho sacerdote então, oferece a moeda de ouro mágica de uma outra forma e o cavaleiro, para não fazer desfeita, a põe em seu bolso e vai embora.
Quando chega em sua terra, viu que a moeda de ouro que se multiplicava conforme ia usando, o deixara muito rico, mas com muitas desgraceiras no seu caminho.
Voltou à caverna e devolveu a moeda.
Neste momento um clarão mágico acontece e tanto a lagartixa, como o velho sacerdote prisioneiro são libertados do feitiço e tornam-se um casal de jovens e felizes.
Casam-se, formando a partir daí toda a descendência do povo gaúcho.
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Por Lu Paternostro
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