Ilustração “A Lenda de São Sepé”. Tradições Gaúchas. Série Traços do Brasil.

 
Ilustração "A Lenda de São Sepé", da série "Tradições Gaúchas". 
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.

Ilustração “A Lenda de São Sepé”, da série “Tradições Gaúchas”.
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Nem bem clareia já me
encontro chimarreando
Ao pé do fogo que
aquenta as madrugadas
Daqui um poquito o sol
desponta no horizonte
“Tô desde ontonte co’as
idéia engarrafada
Pra o parapeito do galpão
arrasto as “garra”
Bucal na mão vo
“tiflando” pra mangueira
Meu sestrosa me
cuidando a matungada
Vem da invernada e
fica “flor de caborteira”
Mas que me importa
pois me levantei aluado
Cano virado das minhas
botas garroneiras
Toda segunda tem bagual
de lombo inchado
Adivinhando que passei
de “borracheira”
Junto as “argola” do
cinchão no osso do peito
“precuro” um jeito
busco a volta e me enforquilho
Depois que “munto” e
atiro o “caixão” pra trás
Só Deus com um gancho
pra me “saca” do lombilho
Me dá vontade de “prende”
o buçal na cara
Deste picaço que
esqueceu como se forma
Mas eu garanto que
embaixo dos meus “arreio”
Conhece o ferio e aprende
a “respeitá as norma”
Pego-lhe o grito
“tacho os ferro” na paleta
De boca aberta o
queixo-roxo vende garra
Lida baguala que
em muitos mete medo
Meu xucro ofício que
por vício eu fiz de farra.    

“Um Canto A Tiaraju”
Jorge Freitas

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A Lenda de São Sepé (Sepé Tiaraju)

Sepé Tiaraju é um índio missioneiro valente e forte, que se tornou líder guarani no século XVIII. Guerreiro, assumiu a defesa do seu território na guerra contra a Espanha e Portugal.

Nas planícies férteis do sul do Brasil, mais precisamente as fronteiras oeste do estado do Rio Grande do Sul, eram muito cobiçadas por suas terras verdes e muito férteis. Neste local, na época das Missões Jesuíticas de catequização dos índios, os padres viviam em paz com os guaranis. Formou-se uma sociedade harmônica, próspera, igualitária, fraternal, onde os índios aprendiam a fazer e a tocar instrumentos, construir em sociedade, viver em sintonia com a natureza.

Toda essa liberdade dos índios e padres jesuítas nas terras tão ricas, atiçou a cobiça dos colonizadores brancos. Com os olhares fixos sobre a região, e com o Tratado de Madri, Portugal cedia à Espanha a Colônia de Sacramento, no Uruguai, e a Espanha entregava aos portugueses as terras onde estavam situados os 7 Povos das Missões, as reduções consideradas mais populosas e ricas.



Nesta ganaciosa divisão, os guaranis tinham de abandonar suas terras com os bens que pudessem carregar, para o outro lado do Rio da Prata, deixando seus templos, lavouras, suas casas. Os guaranis não aceitaram. Resolveram defender seu território.

Portugal e Espanha se unem para fazer valer seu novo trato, mas os Guaranis resolvem resistir fortemente. Logo, os colonizadores foram seguidos pelos Guaranis da redução de São Miguel, chefiados pelo corregedor Sepé Tiaraju, líder do exército Guarani.

Diziam que era predestinado por Deus, pois havia nascido com uma cicatriz em sua testa que tinha o formato de uma lua. Durante o dia parecia algo comum, mas a noite ou em pleno combate, o lunar brilhava, guiando, assim, os soldados missioneiros. Isso o torna um ser único e celestial.

Os padres, pressionados pelas cortes reais por deixarem os índios serem tão teimosos e desobedientes, tentaram fazer com que desistissem desse enfrentamento, fazendo-os acreditar que eram fracos e pouco equipados para lutar contra as armas poderosas dos brancos europeus. Mas os índios, definitivamente, não aceitaram tal imposição e tocaram em frente, combatendo contra aqueles que para eles eram os intrusos em suas terras sagradas, os colonizadores brancos. 

É de Sepé a frase: “Esta terra é nossa! Nós a recebemos de Deus e do arcanjo São Miguel. Somente eles nos podem deserdar! ”

Atacado pelos portugueses ao norte e pelos castelhanos ao sul, ao Guaranis resistiram durante anos até a batalha de Caiboaté, em 1756, onde morreu em combate, Sepé Tiaraju

Conta a lenda que a cicatriz em forma de lua que Sepé tinha na testa, depois da sua morte, se projetou em forma de estrelas e criou o Cruzeiro do Sul para ser o guia de todos os gaúchos. 

“O mito de Sepé Tiaraju, como herói nacional, passou a pertencer, efetivamente, ao conjunto de elementos… para a formação da identidade e representação do gaúcho, a partir do século XX, quando Simões Lopes Neto publicou o poema Lunar de Sepé, em Lendas do Sul (1913).” (NUNES, 2014)


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Sua lenda perpetuou-se por todo o estado do Rio Grande do Sul, tornando um herói popular para seu povo. Graças a ele o tesouro guarani ainda está lá e a lembrança de sua luta habita os corações de seus descendentes.

O povo da região das Missões guarda a memória de Sepé Tiaraju como um santo que morreu como um mártir. Há uma cidade em homenagem a ele, a cidade de São Sepé, localizada no Rio Grande do Sul.

Sepé Tiaraju ou São Sepé cada vez mais revive hoje na mente e nas ações de todos aqueles que buscam uma forma melhor de viver, uma Pátria mais fraterna, uma Terra sem Males. Tornou-se um símbolo de resistência e de não aceitação de uma sociedade medíocre, preconceituosa, gananciosa.

Sepé Tiaraju é considerado um dos maiores heróis brasileiros.

No dia 3 de novembro de 2005, o estado do Rio Grande do Sul o considera Herói Guarani Missioneiro Rio-grandense. Em 2009 Sepé Tiaraju foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria.

No dia 7 de fevereiro de 2015, comemora-se 259 anos da morte de Sepé Tiaraju.

Por Lu Paternostro

NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores

Ilustração “O Gaúcho e a Prenda”. Tradições Gaúchas. Série Traços do Brasil.

 
Ilustração "O Gaúcho e a Prenda", da série "Tradições Gaúchas". 
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No humilde rancho de um posto,
um moço encilhou o cavalo beijou a prenda e se foi. (…)
E durante largo tempo ficou a moça na porta olhando a estrada a chorar,
sem saber por que o marido tem que partir e lutar. (…)
Então a moça franzina tomou uma decisão:
esqueceu delicadeza, ternuras de quase noiva e
atou os cabelos negros debaixo de um chapelão
e se atirou no trabalho, cuidando de casa e campo, de gado e da plantação.(…) E a moça voltava ao rancho,
tão moça ainda e tão só!
E quando fitava a estrada, só via o vazio do nada,
o nada, o silêncio e o pó.(…)
Bendita mulher gaúcha que sabe amar e querer!
Esposa e mãe, noiva e amante que espera o guasca distante
e acaba por compreender
que a vida é um poço de mágoa onde cada pingo d’água
só faz sofrer e sofrer.
Parte do poema “Mulher Gaúcha”
de Antonio Augusto Fagundes
O progresso me dá liberdade de compor versos estilizados
Me proponho a cantar as raízes e as relíquias dos antepassados
Tradição para o leigo é grossura a cultura enriquece o estado
Só me resta dizer aos amigos o Rio Grande vai bem obrigado

 “Mulher Gaúcha”
Parte do poema de   Antonio Augusto Fagundes

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O Gaúcho e a Prenda

Os gaúchos, também chamados de peão, são descendentes da mistura de europeus com índios. O nome é dado às pessoas que são naturais do Sul do Brasil e vale do Rio da Prata, num bioma chamado de pampas, geralmente ligado à atividade pecuárias destas regiões. No Uruguai e Argentina tem a nominação de gaúcho, com a sílaba forte no “ga”.

Mesmo com influências europeias como portuguesas e espanholas, miscigenado aos índios, o gaúcho foi criando uma cultura própria, regional.

Apreciam se apresentar como grandes cavaleiros e seu cavalo crioulo, o cavalo do gaúcho, era tudo na vida dele. Eram homens bravos, destemidos.

A vestimenta típica do gaúcho é repleta de itens da indumentária indígena, como o poncho, o lenço colorado, a pala, um tipo de poncho grande, e o chiripa, este último presente na vestimenta do gaúcho até meados do século XIX, sendo posteriormente substituídos pelas bombachas.

Já a prenda, a mulher gaúcha, é representada como um tipo ideal de mulher. A mulher do tradicionalismo gaúcho é uma grande conhecedora dos costumes e da tradição. Mulher forte, que não foge ao dever, sua forma de vestir é simples, recatada, mas muito bem cuidada. Sua imagem impõe respeito. “Foi construída historicamente uma memória gaúcha na qual a prenda é a representação da figura da mulher que o tradicionalismo escolheu para cultuar.  (LUVIZOTTO, 2010).

Ensina-se às meninas gaúchas a tradição de que uma mulher gaúcha deve ser o protótipo de dignidade e respeito. Devido a essa importância, foram criadas leis estaduais a fim de manter as tradições gaúchas, onde são definidas a forma de se vestir da mulher gaúcha.



A tradicional pilcha feminina, que tem por objetivo valorizar as qualidades da prenda, é formada pelo vestido de prenda, saia de armação, sapatilha e flor no cabelo, sendo o vestido apresentado como a “síntese da sobriedade da mulher gaúcha”.

A bombacha, a calça larga e típica da roupa do gaúcho, representa a imagem do homem dos pampas, tornando-se marca exclusiva de sua identidade. A sua mulher, a prenda, sempre deixou evidente sua preocupação em estar bem vestida para tornar-se bela e ser admirada com o seu par eterno e arquetípica companheira

Abaixo, transcrevemos o trecho referente à vestimenta da prenda, do “Manual das Pilchas gaúchas”, adotado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho do Rio Grande do Sul, da lei 8.813 de 10 de janeiro de 1989

Indumentária da Prenda Atual para Moças e Senhoras:


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O TRAJE:
Vestido, saia e casaquinho, de uma ou duas peças, com a barra da saia no peito do pé, podendo ser godê, meio-godê, em panos, em babados ou evasês, com cortes na cintura, caderão ou corte princesa, atentando para a idade e estrutura física.

AS MANGAS:
Longas, três quartos ou até o cotovelo; podendo ser lisas ou levemente franzidas (não bufantes), com aplicações de fitas, bordados, babadinhos ou similares, sem exagero, no máximo duas aplicações. 

O DECOTE:
Geralmente sem decote. Admite-se, no máximo, um leve decote, com ou sem gola, sem expor os ombros e o seio, sem contrastar com o recato da mulher gaúcha.

AS GOLAS:
Se usadas, podem ser arredondadas, sobrepostas, tipo paletó, padre, com ou sem detalhes, sem exageros.



OS ENFEITES:
Podem ser rendas, apliques, bordados, passa-fitas, gregas, fitilhos, fitas, viés, babadinhos lisos ou estampados miúdos, plissês, crochês, botõezinhos forrados, nervuras ou favos. Não sobrecarregar a fim de evitar a desfiguração dos modelos. A decoração com tecidos aplicados ou trabalhados com fitas que formam pontas de lanças e ondas devem ser evitados, optando-se pelos motivos florais, os quais compõem a tradição gaúcha. 

OS TECIDOS:
Podem ser lisos, estampados miúdos, xadrez miúdo, petit-pois, riscado discreto, de acordo com as estações climáticas. Não são permitidos apenas os tecidos transparentes sem forro, slinck e similares, tecidos brilhosos (lamê, lurex e outros para uso à noite em festas não-tradicionais) e tecidos em cores contrastantes, chocantes ou fosforescentes.

A SAIA DE ARMAÇÃO:
Deve ser discreta e leve, na cor branca. Se tiver babados, estes devem concentrar-se no rodado da saia, diferentemente da indumentária típica baiana.

AS CORES:
De acordo com a sincronia das cores e a relação com a idade e o momento do uso. Evitar as cores contrastantes, chocantes e fosforescentes, assim como o preto (luto); a cor branca fica convencionada para uso das noivas e debutantes. Não usar combinações com as cores da bandeira do Rio Grande do Sul.

A BOMBACHINHA:
Branca de tecido leve ou rendada, deve cobrir os joelhos.

AS MEIAS:

Devem ser longas, brancas ou beges, para moças e senhoras. As mais maduras podem usar meias de tonalidades escuras.

OS SAPATOS:
Pretos, brancos ou beges; podem ter salto 5 (cinco) ou meio salto com tira sobre o peito do pé, que abotoe do lado de fora.

OS CABELOS:
Devem estar semi presos, presos ou em tranças, enfeitados com flores discretas que podem ser naturais ou artificiais, sem brilhos e purpurinas, combinando com o vestido. As senhoras mais jovens, eventualmente, podem usar travessas simples ou com flores discretas e passadores nos cabelos que poderão estar semipresos em coques ou penteados curtos. Fica facultado o não uso de enfeites nos cabelos das senhoras em respeito à idade ou ao gosto pessoal.



AS MAQUIAGENS:
Discretas e de acordo com a idade e o momento social.

OS ACESSÓRIOS PERMITIDOS:
Fichú de seda com franjas ou de crochê, preso com broche ou camafeu.
Chale (especialmente para as senhoras).
Brincos (jóia ou semi-jóia) discretos.
Um ou dois anéis (jóia ou semi-jóia).
Camafeu ou broche.
Capa de lã ou seda.
Leque (senhoras ou senhoritas) em momentos não coreográficos.
Faixa de prenda ou crachá.
Chapéu (feminino) em ambientes abertos.

15. ACESSÓRIOS NÃO PERMITIDOS: 
Brincos de plásticos ou similares coloridos.
Relógio e pulseiras.
Luvas ou meia-luva de renda, crochê ou tecido (ressalva-se no uso do traje  (histórico urbano).
Colares.
Sombras e batons coloridos em excesso, uso de cílios postiços, unhas pintadas em cores não convencionais (verde, azul, amarelo, prata, preto, roxo, etc.)
Sapatilhas do tipo ballet, amarradas na perna.
Saias de armação com estruturas rígidas em arame, barbatanas e telas de nylon.
Recomendações sobre o uso da indumentária da prenda em diferentes ocasiões

Os trajes ainda pode ser para as Ocasiões Formais, Informais e uso para cavalgar em festas campeiras e rodeios.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “O Fogo de Chão e a Roda de Chimarrão”, Tradições Gaúchas. Série Traços do Brasil.

 
Ilustração "Fogo de Chão e a Roda de Chimarrão", da série "Tradições Gaúchas". 
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Nem bem clareia já me
encontro chimarreando
Ao pé do fogo que
aquenta as madrugadas
Daqui um poquito o sol
desponta no horizonte
“Tô desde ontonte co’as
idéia engarrafada”
Pra o parapeito do galpão
arrasto as “garra”
Bucal na mão vou
“tiflando” pra mangueira
Meu sestrosa me
cuidando a matungada
Vem da invernada e
fica “flor de caborteira”
Mas que me importa
pois me levantei aluado

Cano virado das minhas
botas garroneiras
Toda segunda tem bagual
de lombo inchado
Adivinhando que passei
de “borracheira”
Junto as “argola” do
cinchão no osso do peito
“precuro” um jeito
busco a volta e me enforquilho
Depois que “munto” e
atiro o “caixão” pra trás
Só Deus com um gancho
pra me “saca” do lombilho
Me dá vontade de “prende”
o buçal na cara
Deste picaço que
esqueceu como se forma
Mas eu garanto que
embaixo dos meus “arreio”
Conhece o ferio e aprende
a “respeitá as norma”
Pego-lhe o grito
“tacho os ferro” na paleta
De boca aberta o
queixo-roxo vende garra
Lida baguala que
em muitos mete medo
Meu xucro ofício que
por vício eu fiz de farra.    

“Xucro Ofício”
Os Serranos

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O Fogo de Chão e a Roda de Chimarrão

De tradição indígena, os fogos de chão eram feitos próximos das ocas, compartilhados por famílias inteiras que, no aconchego da luz, encontravam uma forma de reunir-se, socializar-se, trocar vivências e se abrigarem do frio da região dos pampas.

O gaúcho campeiro tem por tradição trazida desses índios, se reunir a noite com os amigos e colegas, em volta do fogo, feito no chão, para confraternizar, trocar ideias sobre a lida no campo, tomar o chimarrão de forma compartilhada, comer um churrasco, contar causos, estórias e lendas. É contado pelos gaúchos, que em volta do fogo de chão foram tomadas grandes decisões na história do Rio Grande do Sul.



Esse ato de confraternização proporciona a manutenção de uma sociedade tradicionalista gaúcha, dando um sentido de coletividade, de pertencimento a algo maior, de fazer parte de um grupo coeso e que tem tradição e raízes, dando sentido para sua história.  Para eles o fogo representa a força e a alma da sociedade gauchesca.

O fogo de chão está associado também à chama crioula, considerada um dos símbolos mais estimados pelos gaúchos. Acesa pela primeira vez em 7 de setembro de 1947, a meia noite, por Joao Carlos D´Avila Paixão Cortes, Ciro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, três jovens, que retiram da Pira da Pátria, na cidade de Porto Alegre, a centelha que iria constituir a primeira chama crioula de inúmeras outras, uma tradição mantida até hoje no estado todo, repetindo-se todos os anos.

Este fogo simbólico é distribuído a representantes das 30 Regiões Tradicionalistas do estado, por mais de 50.00 cavaleiros. Trata-se de um símbolo das comemorações da Semana Farroupilha, que acontece na segunda quinzena do mês de setembro e envolve o estado todo em festejos públicos. A Semana Farroupilha relembra a Guerra dos Farrapos contra o império, de 1835 a 1845, sendo a mais longa batalha do Brasil.

Para os gaúchos, o fogo de chão significa liberdade, amor à natureza, ao cavalo, sempre presente, ao encontro regado com muita música, cantoria, churrasco, fandango e muita alegria noite a dentro.


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O chimarrão ou mate, que não pode faltar nas rodas dos gaúchos, é uma bebida típica da América do Sul e consiste num chá de erva, tomado dentro de uma cuia de cabaça, por intermédio de uma bomba de bambu, metal ou prata, onde se acrescenta agua quente. A pessoa se serve da água, toma o chá até o final, enche novamente a cuia e oferece para a pessoa seguinte da roda, e assim vai. Um ato de paz, amizade, confiança e cortesia. O hábito de tomar o chimarrão, ou chimarrear, é típico do gaúcho que o consome todos os dias, de manhã até a noite.  

O fogo de chão é de fato tão tradicional e importante para a cultura gaúcha, que uma fazenda localizada em São Sepé, há 265 km de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, mantém aceso um fogo de chão, desde 1918. A fazenda possui status de patrimônio histórico e cultural, e já recebeu milhares de visitante de todo o Brasil, tornando-se centro de romarias nativistas de tradicionalistas.  O fogo é mantido aceso por toras de madeira de lei chamadas de guarda-fogo, que ficam armazenadas num galpão, que mantem sua forma original desde o começo do século XIX. Durante os festejos da Semana Farroupilha, muito cavaleiros passaram pelo galpão para acender a chama crioula, levando a tradição do fogo de chão para todas as cidades do Rio Grande do Sul.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “O Gaúcho Pilchado”. Tradições Gaúchas. Série Traços do Brasil.

Ilustração "Gaúcho Pilchado", da série "Tradições Gaúchas". 
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EU TENHO ORGULHO DE TER NASCIDO GAÚCHO
DE ANDAR PILCHADO E DE TOCAR MEU VIOLÃO
DE TER A PRENDA MAIS PRENDADA DO RIO GRANDE
E A PIAZADA QUE RESPEITA A TRADIÇÃO

UM BOM CAVALO, UM VELHO CUSCO COMPANHEIRO
QUE É MEU PARCEIRO EM QUALQUER OCASIÃO
TENHO SAÚDE E MUITA FORÇA PRA O TRABALHO
E O MEU TRÊS LISTA PRA UM CAUSO DE PRECISÃO

SOU RIOGRANDENSE, SOU BRASILEIRO
GUARDO AS FRONTEIRAS DO MEU PAÍS
SOU QUERO-QUERO, SENTINELA DO PAMPA
SOU ALMA QUE CANTA, SOU BEM FELIZ

VERDE, VERMELHO E O AMARELO DA BANDEIRA
LEMBRAM AS MATAS, NOSSO SANGUE E O TRIGAL
NOSSAS RIQUEZAS, NOSSO POVO, NOSSA GENTE
E UM PASSADO DE GRANDEZA SEM IGUAL

QUANDO UM GAÚCHO ESTENDE A MÃO AO COMPANHEIRO
UM CHIMARRÃO DEMONSTRA A HOSPITALIDADE
UM BOM CHURRASCO LOGO VEM ACOMPANHADO 
DE UM FORTE ABRAÇO PRA PONTEAR NOVA AMIZADE

“Orgulho de Gaúcho”
Grupo Quero-Quero- Compositor: Roberto Kopp

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Gaúcho Pilchado

A forma típica de se vestir do gaúcho é entendida como muito importante para a cultura sulina, pois preserva sua história com orgulho, passando através das gerações, a força das tradições e o orgulho de ser gaúcho.

Há regras fixas, que devem ser seguidas com muito respeito, tanto para a vestimenta do gaúcho, como a da “prenda”, a mulher gaúcha.

A pilcha, de acordo com o Dicionário de Regionalismos, é “adorno, joia, dinheiro. Roupas, arreios, qualquer objeto de valor. Vestimenta típica de gaúcho” (NUNES; NUNES, 1948, p. 373). No dicionário Houaiss, significa “objeto de adorno, adereço, enfeite” e, ainda, uma “peça de vestuário, especialmente o poncho, a bombacha, as botas e o chiripá” (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 2210).

Para defini-la, foi criada a Lei Estadual de nº 8.813, de 10 de janeiro de 1989, que oficializa o traje de honra e de uso preferencial no estado do Rio Grande do Sul, tanto para os homens como para as mulheres. O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e os Centros de Tradições Gaúchas (CTG), um dos maiores movimentos de cultura popular, organizado e centralizado do Brasil, é o órgão que preserva a cultura gaúcha em todas as partes do Brasil, define as regras de uso dos componentes da vestimenta, a fim de disciplinar e orientar as prendas e os peões a se vestirem adequadamente em várias ocasiões.  

A origem do Gaúcho Pilchado vem da colonização dos pampas pelos povos ibéricos, e é resultado da união de influências históricas, sociais e culturais que foram se adequando à realidade do trabalho no campo.


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O MTG define três tipos de vestimentas que devem ser usadas tanto pelos homens como pelas mulheres que são a pilcha para atividades artísticas e sociais, a pilcha campeira e a pilcha para a prática de esportes (truco, bocha campeira, etc)

O gaúcho tem orgulho e muito respeito pelas suas batalhas, sua hombridade, sua mistura de raças fortes, por suas tradições. Por conta disso, independentemente de suas crenças particulares, seguir as regras é demonstrar-se consciente e respeitoso de sua história, tornando-se ator da preservação de um patrimônio cultural único, legado que tende a se esfacelar numa cultura em constante mudança, globalizada, que perde facilmente suas raízes.

O “Gaúcho Pilchado”

Aqui transcreveremos o texto, na íntegra, de orientação para a vestimenta do Gaúcho ou Peão Pilchado, segundo as Diretrizes para a Pilcha Gaúcha, estabelecida pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho.

DIRETRIZES PARA OS TRAJE ATUAL PEÃO ADULTO, VETERANO E JUVENIL

A BOMBACHA
Tecidos: brim (não jeans), sarja (lã), linho, algodão, oxford, microfibra
Cores: claras ou escuras, sóbrias ou neutras, tais como marrom, bege, cinza, azul-marinho, verde escuro, branca. Fugindo as cores agressivas, fosforescentes, contrastantes e cítricas, como vermelho, amarelo, laranja, verde-limão, cor-de-rosa.
Padrão: liso, listradinho e xadrez miúdo e discreto.
Modelo: cós largo sem alças, dois bolsos na lateral, com punho abotoado no tornozelo.
Favos: O uso de favos e enfeites de botões (devem ser do tamanho daqueles utilizados nas camisas, vedados os de metal) depende da tradição regional.  As bombachas podem ter, nos favos, letras, marcas e botões. Quando usar favos, deverão ser da mesma cor e tecido da bombacha. Os desenhos serão idênticos em uma e outra perna.
Largura: com ou sem favos, coincidindo a largura da perna com a largura da cintura, ou seja, uma pessoa que use sua bombachas no tamanho 40, automaticamente deverá ter, aproximadamente, uma largura de cada perna de 40 cm de tal forma que não seja confundida com uma calça.
Uso: As bombachas deverão estar sempre para dentro das botas.
Vedações: É vedado o uso de bombachas plissadas e coloridas



A CAMISA
Tecido: preferencialmente algodão, tricoline, viscose, linho ou vigela, microfibra (não transparente), oxford.
Padrão: liso ou riscado discreto.
Cores: sóbrias, claras ou neutras, preferencialmente branca. Evitando cores agressivas e contrastantes.
Gola: social (ou seja, abotoada na frente, em toda a extensão, com gola atual, com punho ajustado com um ou mais botões).
Mangas longas: para ocasiões sociais ou formais, como festividades, cerimônias, fandangos, concursos.
Mangas curtas: para atividades de serviço, de lazer e situações informais.
Camiseta de malha ou camisa de gola polo: exclusivamente para situações informais e não representativas. Porém, podem ser usadas com distintivo da Entidade, da Região Tradicionalista e do MTG.
Vedações: Vedado o uso de camisas de cetim e estampadas.

AS BOTAS
Material: de couro liso
Cores: preto, marrom (todos os tons) ou couro sem tingimento.
Cano:a altura do cano varia de acordo com a região. Normalmente o cano vai até o joelho.
Solado: o solado deve ser de couro, podendo ter meia sola de borracha ou látex. A altura máxima de um centímetro (entra em vigor em 1º de janeiro de 2012).
Botas “garrão de potro”: são utilizadas exclusivamente com trajes de época.
Vedações: é vedado o uso de botas brancas. Proibidos quaisquer tipos de bordados ou palavras escritas nas botas.

O COLETE
Uso: se usar paletó poderá dispensar o colete.
Modelo: tradicional, sem mangas e sem gola, com uma única carreira de botões na frente, podendo ser abotoado, ou não. Com a parte posterior (costas) de tecido leve, ajustado com fivela, de uma cor só, no comprimento até a altura da cintura.
Cor: da mesma cor das bombachas, podendo ser tom sobre tom.
Tecido: mesmo padrão de tecido da bombacha.

O CINTO (OU GUAIACA)
Material: de couro.
Guaiacas: de uma a três guaiacas internas ou não.
Fivelas: uma ou duas fivelas frontais com, no mínimo, sete cm de largura.
Florão: quando usado deve ter função de fivela.
Vedação: Cinto com rastra (enfeite de metal com correntes na parte frontal).



O CHAPÉU
Material: de feltro ou pelo de lebre.
Abas: a partir de 6 cm.
Copa: de acordo com as características regionais.
Barbicacho: de couro ou crina, podendo ter algum enfeite de metal e, ou fivela para regulagem.
Vedação: é vedado o uso de boinas e bonés.

O PALETÓ
Uso: usado especialmente para ocasiões formais.
Cor: A combinação de cor, com as bombachas, deve ser harmoniosa, evitando cores contrastantes.
Vedações: é vedado o uso de túnicas militares substituindo o paletó.

O LENÇO
Cores: vermelho, branco, azul, verde, amarelo e carijó (nas cores citadas e ainda, marrom e cinza).
Tamanho: no caso do uso com algum tipo de nó, com a medida de 25 cm a partir deste. Com o uso do passador de lenço, com a medida de 30 cm a partir deste.
Passadores: de metal, couro ou osso.

A FAIXA
Uso: opcional.
Cor: lisa, na cor vermelha ou preta de for de lã. Bege cru se for de algodão.
Largura: de 10 a 12 cm.



A PALA
Uso: opcional.
Tamanho: tamanho padrão, com abertura na gola. Dimensões aproximada 2m X 1,60m.
Opções: poderá ser usado no ombro, meia-espalda, atado da direita para a esquerda, com todos os trajes.

AS ESPORAS
Uso: trata-se de peça utilizada nas lides campeiras. É admissível o uso nas representações coreográficas de danças tradicionais.
Vedação: é vedado o uso em bailes e fandangos.

A FACA
Uso: é opcional, para grupos adultos, veteranos e no ENART, nas apresentações artísticas.
Tamanho: de 15 a 30 cm de lâmina.
Vedação: é vedado o uso nas atividades sociais, exceto apresentações artísticas.

Notas:O termo bombacha vem do espanhol “bombacho”, que significa calças largas.

“O lenço vermelho, fui incluído na pilcha pelos primeiros tradicionalistas na década de 1940, como uma homenagem aos gaúchos que lutaram na Revolução Farroupilha. É tratado com um símbolo de liberdade e coragem pelos tradicionalistas. ” (LUVIZOTTO,2010)

Por Lu Paternostro
NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores

Ilustração “Japoneses e a Dança Ruykyo Buyo”. Imigrantes Brasileiros. Série Traços do Brasil

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Ilustração “Japoneses e a dança Ruykyo Buyo”, da série “Imigrantes do Brasil”.
Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
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Eles foram para o Oeste do Estado de São Paulo, onde ficavam e formavam comunidades que eram um pedacinho intacto do Japão.

Japoneses

Em meado do século XX, o Japão era um país fechado, feudal, pobre. O governo, então, começou a incentivar que os japoneses saíssem do país, rumando para o Havaí, Estados Unidos, Peru e Canadá. Nesta época o Brasil estava, embora de forma tardia, tentando se acostumar com o fim da escravatura e iniciando uma política de incentivo para atrair mão de obra imigrante, a fim de substituir a mão de obra do escravo negro, principalmente nas lavouras de café do Brasil.

Os primeiros japoneses chegaram, então, no porto de Santos, em 17 de junho de 1908, vindos no navio Kasato Maru. De trem subiam a serra e iam para a hospedaria de imigrantes, hoje o Museu do Imigrante, localizado no bairro do Brás, na cidade de São Paulo.  De lá migraram para as cidades do interior de São Paulo.

Vieram acreditando que iam para um local prospero, um paraíso, que iam ficar ricos e voltar para o Japão. Aqui se depararam com uma cultura hostil, comidas muito diferentes, isolados e sem nenhuma terra.

Mas não recuaram. Trabalharam, utilizaram espaços de terra desprezados pelos brasileiros e logo começaram a mudar a paisagem das regiões por onde passavam. Sabiam que somente unidos sairiam da pobreza. Para vencer as dificuldades de produção e comercialização, os japoneses se organizaram.

Em 1913 entraram mais 30 famílias no Brasil e se instalaram ente a cidade de Santos e Juquiá. Vieram formando vilas e, posteriormente, as cidades. Muitos foram para a atual cidade de Registro, no sul do estado.

Quando chegaram em Registro, as terras já estavam separadas em lotes de 10 a 15 alqueires, com a finalidade de desenvolvimento do local. Havia uma única casa de imigração, onde os imigrantes tinham de ficar e esperar. Não tinha nada da cidade. Os lotes eram comprados, tinham de se virar com uma terra mais seca, em morros. Tentaram várias culturas, mas o chá foi o que mais se adequou a região, que cresceu muito até os anos 1980, onde começou sua decadência. Na cidade existe a Associação Cultural Nipo-Brasileira de Registro.

Com o esgotamento das terras, muitos saíram de Registro e foram para outras cidades como São Miguel, Itapetininga, norte do Estado do Paraná e por todo o Brasil.

A cidade de Bastos, também no estado de São Paulo, fundada por japoneses, um dos principais redutos desta cultura, hoje é a maior produtora de ovos do Brasil. O município tem também a maior fábrica do mundo de fio do bicho da seda, outra atividade dos japoneses. A cooperativa exporta 80% da produção. Grifes europeias famosas só compram da cooperativa.

Único na América latina e localizado em Alvares Machado, o Cemitério da Colônia Japonesa, foi tombado, em 1980, pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo. São 854 túmulos de japoneses, dentre eles 200 crianças vítimas da febre amarela, sepultadas no local.  Nos túmulos encontramos inscrições em ideogramas japoneses.

Na cidade de Mogi das Cruzes, um local de clima ameno, os japoneses transformaram a região num grande cinturão verde, que abastece todo o Estado. Hoje Mogi das Cruzes é o maior produtor nacional de caqui.



Já na capital paulista, na cidade de São Paulo, o bairro da Liberdade é o local mais oriental do Brasil, o reduto da cultura japonese. Lá o visitante pode encontrar de tudo, desde pastel, até limpadores de língua de bambu, uma imensa e única variedade de produtos japoneses a objetos de rituais, de vida cotidiana, armas, quimonos, restaurantes de todo o tipo, centros de cultura e ainda, aos domingos, a famosa Feira da Liberdade, com barracas de comidas típicas e artesanato. No bairro da Liberdade encontramos o Museu da Imigração Japonesa, preservando e transferindo a história deste povo para as futuras gerações.

Na Amazônia os japoneses marcaram presença também. Na década de 1920, onde a borracha deixa de ser o “ouro negro”, haviam terras de sobra para se plantar. Em 1931, imigrantes do Japão fundaram, no meio da floresta, um lugar chamado Vila Amazônia, uma comunidade rural da cidade brasileira de Parintins, no estado do Amazonas. Lá plantaram a juta.

A sociedade japonesa era patriarcal. O papel da mulher era dentro da família, no privado. Andavam atrás dos homens na rua.

As gerações têm nomes como Issei, a primeira geração, os japoneses nascidos no Japão. Os filhos desses imigrantes, a primeira geração nascida no Brasil, são os Nisseis. A terceira geração, os Sanseis, a quarta geração, Ionsei, depois Gossei.  

A cultura japonesa é uma cultura estética em sua essência: todas as formas artísticas são embasadas na espiritualidade budista.

Como a cerimônia do chá, um culto, um ritual que busca a transcendência. Ela deve ocorrer num espaço de 4 tatames e meio. Nada pode ser perdido, nem uma gota de chá. Não pode haver nenhuma excitação ou precipitação dos gestos. Nada mais tem importância, somente este momento, este encontro. É um culto de paz, de vivencia presente.

A cultura japonesa está inserida na cultura brasileira, porém mantendo e preservando parte de sua identidade.  O IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional aprovou o tombamento de quatorze bens culturais do Vale do Ribeira, representações características da colonização japonesa em território brasileiro, no litoral paulista.
Algumas atividades, como a gincana esportiva undokai, a prática de ginástica matinal, judô, danças típicas, o uso do bumbo japonês e do taiko, ou o grande tambor que, tradicionalmente, dava o ritmo ao avanço das tropas e animava os guerreiros à luta. Comemoram anualmente a Festa do sushi, o Obon odori, um festejo religioso praticado durante o mês de agosto. e o Toro Nagashi, uma celebração em homenagem à alma dos antepassados e entes queridos.


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Na gastronomia podemos encontrar mais de 30 ingredientes que foram introduzidos no Brasil pelos japoneses como o chá preto, o caqui, a pimenta do reino, além do aprimoramento do cultivo de inúmeras frutas e legumes.

A culinária japonesa se destaca pelo seu preparo, tipo de sabores, na forma de apresentar os pratos. Tem os pescados com presença forte nos pratos. Na comida cotidiana usa-se o peixe seco como um tempero, também em caldos. O shoyo, molho de soja salgado, o missô, pasta de soja para caldos e o wasabi, uma raiz forte japonesa, além do peixe cru, são sabores que ficaram bastante conhecidos como típicos dos suhis, muito apreciados pelos brasileiros.

Outros pratos típicos que conhecemos em nossa culinária são o Korokke ou croquete, um purê de batata e vegetais cremosos com recheio de frutos do mar; Kushiage, espeto de carnes fritas; o Tempurá, vegetais em pedaços, frutos do mar e outros envoltos em massa e posteriormente fritos; o Gyoza, bolinhos com recheio de carne de porco; o Kushiyak ou  espetos de carne e vegetais; o Omu-raisu, um omelete de arroz; o Teriyaki, carne de peixe, frango ou vegetais passados no molho de soja doce; o Yakisoba, macarrão frito ao estilo japonês; o Sukiyaki cozido feito com mistura de massas, carne de vaca picada, ovo e vegetais.

Os sashimis são carnes ou peixes comidos crus como Fugu, o peixe-balão, peixe venenoso, fatiado e o Tataki, atum grelhado no carvão ou cru, cortado fino. Há os famosos e apreciados sushis, os bolinhos de arroz recheados como o makizushi, sushi enrolado no nori ou folha de alga desidratada, em forma de cilindro; o Nigirizushi, sushi modelado a mão; o Oshizushi ou sushi moldado em prensa e o Temakizushi, sushi enrolado a mão, corresponde a um cone composto por uma folha de alga seca preenchida com arroz e outros ingredientes que se come com a mão.

O saquê é uma bebida japonesa, fabricada pela fermentação do arroz, tomada geralmente quente e em grandes comemorações. A primeira produção de saquê que se tem notícia data do século III e ocorreu em Nara, antiga capital japonesa.

Nas artes, encontramos o teatro vivo mais antigo do mundo ou Teatro Noh, um teatro simbólico com importância primordial dada ao ritual e à insinuação, o Teatro Kabuki e os teatros de bonecos ou Bunraku.

Muito apreciada também é o Ikebana, a arte do arranjo floral e o Sumi-ê, arte de se pintar a essência de paisagens com traços em pincel; a caligrafia japonesa; o jardim japonês.

Encontramos também as revistas de Mangá as chamadas “Mangás de histórias”, ou publicações ilustradas no formato de histórias em quadrinhos.



Dança Ruykyo Buyo

Uma das imagens que mais gostei. Inspirada no Buyôo ou buyou, dança tradicional japonesa, tem sua origem na magia, nas invocações dos espíritos dos mortos e preces para o descanso das almas.

Dança tradicional de Okinawa que revela a alegria e a criatividade desse povo em suas vestimentas coloridas e movimentos corporais, Surgiu para homenagear os deuses e reis, e também servia para entretenimento das delegações chinesas que, frequentemente, visitavam o Reino de Ruykyo, como era chamada a região de Okinawa até o início da era Meiji (1868)

Trata-se de uma dança lenta, com cânticos e sons longos, movimentos calculados, onde tudo parece ser pensado e calculado antes de se fazer ou se gastar energia para fazer. A figura principal leva nas mãos um leque fechado. Ela parece e leva a atenção para a figura do fundo. O que será que ela pensa?



A figura ao fundo,  uma mulher toca o Shamisen, um dos mais conhecidos instrumentos musicais do Japão. Tem três cordas e é feito de pele de cobra ou gato. Também, um instrumento tocado pelas gueixas.


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Á organicidade das figuras, seus silêncios eternos e quietudes típicos, eu quis contrapor com um fundo reto, racional, de cores vivas que contrastam com a tradição japonesa. As flores e outros elementos servem para “quebrar” a rigidez da tradição, mas de forma divertida e mais “brasileira”.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “Os Pomeranos”. Imigrantes Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "Pomeranos", da série "Imigrantes do Brasil". 
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Pomeranos”, da série “Imigrantes do Brasil”.
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Pomeranos

Os pomeranos chegaram ao Brasil entre os anos 1859 e 1874, por motivos de dificuldades de sobrevivência em seu país de origem, a extinta Pomerânia, antiga região situada no norte da Polônia e da Alemanha, na costa sul do mar Báltico.

Desembarcaram no porto de Vitória, no estado do Espírito Santo, em 1859, contribuindo para o crescimento da região, vindos dos navios “Gutenberg” e “Doktor Barth”. Ao chegarem no Brasil acabaram encontrando pobreza semelhante àquela de seu país. As dificuldades que viveram em sua chegada eram muitas e quase que insuperáveis. O forte espirito de união foi o fator decisivo na superação de tantos desafios impostos.

A trajetória dos pomeranos é caracterizada por uma constante necessidade recriar sua cultura, na nova realidade encontrada aqui. Na Europa, os pomeranos eram diaristas e meeiros, mas aqui puderam traçar a sua própria história e identidade. As riquezas e tradições culturais continuam preservadas.

Segundo pesquisas, por volta dos anos de 1970, eles se conheciam e se chamavam como “irmãos alegres” e tinham um lema: “Nós temos a morte; os filhos, o sofrimento, os bisnetos e o pão”.



A antiga Pomerânia não existe mais. Até 1945 era um território que pertencia à Alemanha. Com a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, parte de seu território foi incorporado à Polônia. O restante passou a integrar o atual estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. O ano de 1945 também marcou o início de diáspora terminal para o idioma na Europa, o que fez com que o idioma virasse patrimônio cultural de outros países.

Hoje, praticamente, só existem pomeranos no Brasil, em um número estimado de 300 mil. Destes, cerca de 200 mil vivem no estado do Espírito Santo onde, atualmente, encontra-se a maior concentração da etnia, superando, inclusive, o Rio Grande Sul, conhecido pela grande concentração de imigrantes alemães. Os demais estão nos estados de Minas Gerais, Rondônia         e Santa Catarina.

No município de Santa Maria de Jetibá, localizada na região serrana do estado do Espirito Santo, a cidade mais pomerana do Brasil, é realizada a Pomerisch Fest, uma festa que abarca toda a cidade e a participação de seus habitantes. Dentre outras atrações como desfiles que contam a história da saga dos pomeranos, acontece a encenação do tradicional casamento pomerano, onde a noiva se veste de preto para casar.


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Os pomeranos, em sua maioria vivem no campo, em cerca de 5.000 propriedades familiares. Nesse território, recortado em pequenas unidades de produção, os agricultores se dedicam às culturas do café, gengibre, verduras, legumes e morangos.

Santa Maria de Jetibá, no estado do Espírito Santo, também esses imigrantes imprimiram suas marcas na cultura local. O Museu da Imigração Pomerana, conta com um rico acervo sobre a Imigração alemã no Brasil, em especial a imigração pomerana, e sobre a região no Espírito Santo que já foi denominada Nova Pomerânia. Está localizado em uma casa de arquitetura pomerana, da década de 1930, que foi sede da antiga Estação de Fruticultura da cidade. Foi reformado e reinaugurado em 2010.

Na região sul, os pomeranos chegaram em 1857. A cidade de Harmonia, no Rio Grande do Sul, 99% dos seus habitantes são de origem pomerana.  Outra concentração de pomeranos se encontra no estado de Santa Catarina, na cidade de Pomerode, a cidade mais germânica do Brasil. Em Pomerode pode-se apreciar a cultura germânica e pomerana no Pomeroder Winterfest.

No estado de Rondônia, mais de 12 cidades mantém a tradição dos agricultores pomeranos. No local é feita a festa da cultura, com culinária típica, danças, etc. Os trajes das danças são em azul e branco, onde o azul representa o mar báltico e o branco, as rochas e as pedras esculpidas pelo mar.

Os pomeranos trouxeram para o país sua cultura e aqui as preservou através da língua, das danças, dos rituais, das festividades, da religião e também da tradição culinária.

As danças típicas se desenrolam ao som da concertina. Na abertura da dança, o grupo se reúne em círculo para a saudação ao público, seguindo-se seis ou oito coreografias e, ao final, a dança de saída, com a despedida do grupo e o grito de guerra.



A gastronomia é praticamente germânica. Há o Strudelt, um bolo com frutas; o Milhabrot, pão de milho, preparado com batata doce, cará, aipim e fubá de milho branco ou amarelo; o Spitsbuben, conhecido como bolo ladrão; o Kasekuchen, um bolo de queijo; o Streuskuchen, um bolo de farofa e biscoitos caseiros de nata, polvilho ou amanteigado; o Firsichup, uma sopa doce de ameixa; a cuca com farofa.

Para os pratos salgados, encontramos a linguiça de carne de boi; o queijo tipo puina e schmierkase (qualhada); o Blutwurst, um chouriço feito de sangue e miúdos de porco; a batata ensopada; Sopas variadas como canja, aipim cozido e socado, batata doce socada, sopa com rosca.

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Por Lu Paternostro
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