Ilustração “O Gaúcho e a Prenda”, da série “Tradições Gaúchas”. Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
No humilde rancho de um posto, um moço encilhou o cavalo beijou a prenda e se foi. (…) E durante largo tempo ficou a moça na porta olhando a estrada a chorar, sem saber por que o marido tem que partir e lutar. (…) Então a moça franzina tomou uma decisão: esqueceu delicadeza, ternuras de quase noiva e atou os cabelos negros debaixo de um chapelão e se atirou no trabalho, cuidando de casa e campo, de gado e da plantação.(…) E a moça voltava ao rancho, tão moça ainda e tão só! E quando fitava a estrada, só via o vazio do nada, o nada, o silêncio e o pó.(…) Bendita mulher gaúcha que sabe amar e querer! Esposa e mãe, noiva e amante que espera o guasca distante e acaba por compreender que a vida é um poço de mágoa onde cada pingo d’água só faz sofrer e sofrer. Parte do poema “Mulher Gaúcha” de Antonio Augusto Fagundes O progresso me dá liberdade de compor versos estilizados Me proponho a cantar as raízes e as relíquias dos antepassados Tradição para o leigo é grossura a cultura enriquece o estado Só me resta dizer aos amigos o Rio Grande vai bem obrigado
“Mulher Gaúcha” Parte do poema de Antonio Augusto Fagundes
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O Gaúcho e a Prenda
Os gaúchos, também chamados de peão, são descendentes da mistura de europeus com índios. O nome é dado às pessoas que são naturais do Sul do Brasil e vale do Rio da Prata, num bioma chamado de pampas, geralmente ligado à atividade pecuárias destas regiões. No Uruguai e Argentina tem a nominação de gaúcho, com a sílaba forte no “ga”.
Mesmo com influências europeias como
portuguesas e espanholas, miscigenado aos índios, o gaúcho foi criando uma
cultura própria, regional.
Apreciam se apresentar como grandes
cavaleiros e seu cavalo crioulo, o cavalo do gaúcho, era tudo na vida dele.
Eram homens bravos, destemidos.
A vestimenta típica do gaúcho é
repleta de itens da indumentária indígena, como o poncho, o lenço colorado, a
pala, um tipo de poncho grande, e o chiripa, este último presente na vestimenta
do gaúcho até meados do século XIX, sendo posteriormente substituídos pelas
bombachas.
Já a prenda, a mulher gaúcha, é representada
como um tipo ideal de mulher. A mulher do tradicionalismo gaúcho é uma grande
conhecedora dos costumes e da tradição. Mulher forte, que não foge ao dever,
sua forma de vestir é simples, recatada, mas muito bem cuidada. Sua imagem
impõe respeito. “Foi construída historicamente uma memória gaúcha na qual a
prenda é a representação da figura da mulher que o tradicionalismo escolheu
para cultuar. (LUVIZOTTO, 2010).
Ensina-se às meninas gaúchas a
tradição de que uma mulher gaúcha deve ser o protótipo de dignidade e respeito.
Devido a essa importância, foram criadas leis estaduais a fim de manter as
tradições gaúchas, onde são definidas a forma de se vestir da mulher gaúcha.
A tradicional pilcha feminina, que
tem por objetivo valorizar as qualidades da prenda, é formada pelo vestido de
prenda, saia de armação, sapatilha e flor no cabelo, sendo o vestido
apresentado como a “síntese da sobriedade da mulher gaúcha”.
A bombacha, a calça larga e típica da
roupa do gaúcho, representa a imagem do homem dos pampas, tornando-se marca
exclusiva de sua identidade. A sua mulher, a prenda, sempre deixou evidente sua
preocupação em estar bem vestida para tornar-se bela e ser admirada com o seu
par eterno e arquetípica companheira
Abaixo, transcrevemos o trecho
referente à vestimenta da prenda, do “Manual das Pilchas gaúchas”, adotado pelo
Movimento Tradicionalista Gaúcho do Rio Grande do Sul, da lei 8.813 de 10 de
janeiro de 1989
Indumentária da Prenda Atual para Moças e Senhoras:
O TRAJE: Vestido, saia e casaquinho, de uma ou duas peças, com a barra da saia no peito do pé, podendo ser godê, meio-godê, em panos, em babados ou evasês, com cortes na cintura, caderão ou corte princesa, atentando para a idade e estrutura física.
AS MANGAS: Longas, três quartos ou até o cotovelo; podendo ser lisas
ou levemente franzidas (não bufantes), com aplicações de fitas, bordados,
babadinhos ou similares, sem exagero, no máximo duas aplicações.
O DECOTE: Geralmente sem decote. Admite-se, no máximo, um leve
decote, com ou sem gola, sem expor os ombros e o seio, sem contrastar com o
recato da mulher gaúcha.
AS GOLAS:
Se usadas, podem ser arredondadas, sobrepostas, tipo paletó, padre, com ou sem
detalhes, sem exageros.
OS ENFEITES: Podem ser rendas, apliques, bordados, passa-fitas, gregas,
fitilhos, fitas, viés, babadinhos lisos ou estampados miúdos, plissês, crochês,
botõezinhos forrados, nervuras ou favos. Não sobrecarregar a fim de evitar a
desfiguração dos modelos. A decoração com tecidos aplicados ou trabalhados com
fitas que formam pontas de lanças e ondas devem ser evitados, optando-se pelos
motivos florais, os quais compõem a tradição gaúcha.
OS TECIDOS:
Podem ser lisos, estampados miúdos, xadrez miúdo, petit-pois, riscado discreto,
de acordo com as estações climáticas. Não são permitidos apenas os tecidos
transparentes sem forro, slinck e similares, tecidos brilhosos (lamê, lurex e
outros para uso à noite em festas não-tradicionais) e tecidos em cores
contrastantes, chocantes ou fosforescentes.
A SAIA DE ARMAÇÃO: Deve ser discreta e leve, na cor branca. Se tiver babados,
estes devem concentrar-se no rodado da saia, diferentemente da indumentária
típica baiana.
AS CORES:
De acordo com a sincronia das cores e a relação com a idade e o momento do uso.
Evitar as cores contrastantes, chocantes e fosforescentes, assim como o preto
(luto); a cor branca fica convencionada para uso das noivas e debutantes. Não
usar combinações com as cores da bandeira do Rio Grande do Sul.
A BOMBACHINHA: Branca de tecido leve ou rendada, deve cobrir os joelhos.
AS MEIAS:
Devem ser longas, brancas ou beges,
para moças e senhoras. As mais maduras podem usar meias de tonalidades escuras.
OS SAPATOS:
Pretos, brancos ou beges; podem ter salto 5 (cinco) ou meio salto com tira
sobre o peito do pé, que abotoe do lado de fora.
OS CABELOS: Devem estar semi presos, presos ou em tranças, enfeitados com flores discretas que podem ser naturais ou artificiais, sem brilhos e purpurinas, combinando com o vestido. As senhoras mais jovens, eventualmente, podem usar travessas simples ou com flores discretas e passadores nos cabelos que poderão estar semipresos em coques ou penteados curtos. Fica facultado o não uso de enfeites nos cabelos das senhoras em respeito à idade ou ao gosto pessoal.
AS MAQUIAGENS: Discretas e de acordo com a idade e o momento social.
OS ACESSÓRIOS PERMITIDOS: Fichú de seda com franjas ou de crochê, preso com broche
ou camafeu.
Chale (especialmente para as senhoras).
Brincos (jóia ou semi-jóia) discretos.
Um ou dois anéis (jóia ou semi-jóia).
Camafeu ou broche.
Capa de lã ou seda.
Leque (senhoras ou senhoritas) em momentos não coreográficos.
Faixa de prenda ou crachá.
Chapéu (feminino) em ambientes abertos.
15. ACESSÓRIOS NÃO PERMITIDOS: Brincos de plásticos ou similares coloridos. Relógio e pulseiras. Luvas ou meia-luva de renda, crochê ou tecido (ressalva-se no uso do traje (histórico urbano). Colares. Sombras e batons coloridos em excesso, uso de cílios postiços, unhas pintadas em cores não convencionais (verde, azul, amarelo, prata, preto, roxo, etc.) Sapatilhas do tipo ballet, amarradas na perna. Saias de armação com estruturas rígidas em arame, barbatanas e telas de nylon. Recomendações sobre o uso da indumentária da prenda em diferentes ocasiões
Os trajes ainda pode ser para as Ocasiões Formais, Informais e uso para cavalgar em festas campeiras e rodeios.
Ilustração “Gaúcho Pilchado”, da série “Tradições Gaúchas”. Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
EU
TENHO ORGULHO DE TER NASCIDO GAÚCHO
DE ANDAR PILCHADO E DE TOCAR MEU VIOLÃO
DE TER A PRENDA MAIS PRENDADA DO RIO GRANDE
E A PIAZADA QUE RESPEITA A TRADIÇÃO
UM BOM CAVALO, UM VELHO CUSCO COMPANHEIRO
QUE É MEU PARCEIRO EM QUALQUER OCASIÃO
TENHO SAÚDE E MUITA FORÇA PRA O TRABALHO
E O MEU TRÊS LISTA PRA UM CAUSO DE PRECISÃO
SOU RIOGRANDENSE, SOU BRASILEIRO
GUARDO AS FRONTEIRAS DO MEU PAÍS
SOU QUERO-QUERO, SENTINELA DO PAMPA
SOU ALMA QUE CANTA, SOU BEM FELIZ
VERDE, VERMELHO E O AMARELO DA BANDEIRA
LEMBRAM AS MATAS, NOSSO SANGUE E O TRIGAL
NOSSAS RIQUEZAS, NOSSO POVO, NOSSA GENTE
E UM PASSADO DE GRANDEZA SEM IGUAL
QUANDO UM GAÚCHO ESTENDE A MÃO AO COMPANHEIRO
UM CHIMARRÃO DEMONSTRA A HOSPITALIDADE
UM BOM CHURRASCO LOGO VEM ACOMPANHADO
DE UM FORTE ABRAÇO PRA PONTEAR NOVA AMIZADE
“Orgulho de Gaúcho” Grupo Quero-Quero- Compositor: Roberto Kopp
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Gaúcho Pilchado
A forma típica de se vestir do gaúcho é entendida como muito importante para a cultura sulina, pois preserva sua história com orgulho, passando através das gerações, a força das tradições e o orgulho de ser gaúcho.
Há regras fixas, que devem ser
seguidas com muito respeito, tanto para a vestimenta do gaúcho, como a da
“prenda”, a mulher gaúcha.
A pilcha, de acordo com o Dicionário
de Regionalismos, é “adorno, joia, dinheiro. Roupas, arreios, qualquer objeto
de valor. Vestimenta típica de gaúcho” (NUNES; NUNES, 1948, p. 373). No
dicionário Houaiss, significa “objeto de adorno, adereço, enfeite” e, ainda,
uma “peça de vestuário, especialmente o poncho, a bombacha, as botas e o
chiripá” (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 2210).
Para defini-la, foi criada a Lei
Estadual de nº 8.813, de 10 de janeiro de 1989, que oficializa o traje de honra
e de uso preferencial no estado do Rio Grande do Sul, tanto para os homens como
para as mulheres. O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e os Centros de
Tradições Gaúchas (CTG), um dos maiores movimentos de cultura popular,
organizado e centralizado do Brasil, é o órgão que preserva a cultura gaúcha em
todas as partes do Brasil, define as regras de uso dos componentes da
vestimenta, a fim de disciplinar e orientar as prendas e os peões a se vestirem
adequadamente em várias ocasiões.
A origem do Gaúcho Pilchado vem da
colonização dos pampas pelos povos ibéricos, e é resultado da união de
influências históricas, sociais e culturais que foram se adequando à realidade
do trabalho no campo.
O MTG define três tipos de
vestimentas que devem ser usadas tanto pelos homens como pelas mulheres que são
a pilcha para atividades artísticas e sociais, a pilcha campeira e a pilcha
para a prática de esportes (truco, bocha campeira, etc)
O gaúcho tem orgulho e muito respeito
pelas suas batalhas, sua hombridade, sua mistura de raças fortes, por suas
tradições. Por conta disso, independentemente de suas crenças particulares,
seguir as regras é demonstrar-se consciente e respeitoso de sua história,
tornando-se ator da preservação de um patrimônio cultural único, legado que
tende a se esfacelar numa cultura em constante mudança, globalizada, que perde
facilmente suas raízes.
O “Gaúcho Pilchado”
Aqui transcreveremos o texto, na
íntegra, de orientação para a vestimenta do Gaúcho ou Peão Pilchado, segundo as
Diretrizes para a Pilcha Gaúcha, estabelecida pelo Movimento Tradicionalista
Gaúcho.
DIRETRIZES PARA OS TRAJE ATUAL PEÃO
ADULTO, VETERANO E JUVENIL
A BOMBACHA Tecidos: brim (não jeans), sarja (lã), linho, algodão,
oxford, microfibra
Cores: claras ou escuras, sóbrias ou neutras, tais como marrom, bege, cinza, azul-marinho,
verde escuro, branca. Fugindo as cores agressivas, fosforescentes,
contrastantes e cítricas, como vermelho, amarelo, laranja, verde-limão,
cor-de-rosa.
Padrão: liso, listradinho e xadrez miúdo e discreto.
Modelo: cós largo sem alças, dois bolsos na lateral, com punho abotoado no
tornozelo.
Favos: O uso de favos e enfeites de botões (devem ser do tamanho daqueles
utilizados nas camisas, vedados os de metal) depende da tradição regional. As bombachas podem ter, nos favos, letras,
marcas e botões. Quando usar favos, deverão ser da mesma cor e tecido da
bombacha. Os desenhos serão idênticos em uma e outra perna.
Largura: com ou sem favos, coincidindo a largura da perna com a largura da
cintura, ou seja, uma pessoa que use sua bombachas no tamanho 40,
automaticamente deverá ter, aproximadamente, uma largura de cada perna de 40 cm
de tal forma que não seja confundida com uma calça.
Uso: As bombachas deverão estar sempre para dentro das botas.
Vedações: É vedado o uso de bombachas plissadas e coloridas
A CAMISA
Tecido: preferencialmente algodão, tricoline, viscose, linho ou vigela,
microfibra (não transparente), oxford.
Padrão: liso ou riscado discreto.
Cores: sóbrias, claras ou neutras, preferencialmente branca. Evitando cores
agressivas e contrastantes.
Gola: social (ou seja, abotoada na frente, em toda a extensão, com gola atual,
com punho ajustado com um ou mais botões).
Mangas longas: para ocasiões sociais ou formais, como festividades, cerimônias,
fandangos, concursos.
Mangas curtas: para atividades de serviço, de lazer e situações informais.
Camiseta de malha ou camisa de gola polo: exclusivamente para situações
informais e não representativas. Porém, podem ser usadas com distintivo da
Entidade, da Região Tradicionalista e do MTG.
Vedações: Vedado o uso de camisas de cetim e estampadas.
AS BOTAS
Material: de couro liso
Cores: preto, marrom (todos os tons) ou couro sem tingimento.
Cano:a altura do cano varia de acordo com a região. Normalmente o cano vai até
o joelho.
Solado: o solado deve ser de couro, podendo ter meia sola de borracha ou látex.
A altura máxima de um centímetro (entra em vigor em 1º de janeiro de 2012).
Botas “garrão de potro”: são utilizadas exclusivamente com trajes de época.
Vedações: é vedado o uso de botas brancas. Proibidos quaisquer tipos de
bordados ou palavras escritas nas botas.
O COLETE
Uso: se usar paletó poderá dispensar o colete.
Modelo: tradicional, sem mangas e sem gola, com uma única carreira de botões na
frente, podendo ser abotoado, ou não. Com a parte posterior (costas) de tecido
leve, ajustado com fivela, de uma cor só, no comprimento até a altura da
cintura.
Cor: da mesma cor das bombachas, podendo ser tom sobre tom.
Tecido: mesmo padrão de tecido da bombacha.
O CINTO (OU GUAIACA) Material: de couro. Guaiacas: de uma a três guaiacas internas ou não. Fivelas: uma ou duas fivelas frontais com, no mínimo, sete cm de largura. Florão: quando usado deve ter função de fivela. Vedação: Cinto com rastra (enfeite de metal com correntes na parte frontal).
O CHAPÉU
Material: de feltro ou pelo de lebre.
Abas: a partir de 6 cm.
Copa: de acordo com as características regionais.
Barbicacho: de couro ou crina, podendo ter algum enfeite de metal e, ou fivela
para regulagem.
Vedação: é vedado o uso de boinas e bonés.
O PALETÓ
Uso: usado especialmente para ocasiões formais.
Cor: A combinação de cor, com as bombachas, deve ser harmoniosa, evitando cores
contrastantes.
Vedações: é vedado o uso de túnicas militares substituindo o paletó.
O LENÇO
Cores: vermelho, branco, azul, verde, amarelo e carijó (nas cores citadas e
ainda, marrom e cinza).
Tamanho: no caso do uso com algum tipo de nó, com a medida de 25 cm a partir
deste. Com o uso do passador de lenço, com a medida de 30 cm a partir deste.
Passadores: de metal, couro ou osso.
A FAIXA
Uso: opcional.
Cor: lisa, na cor vermelha ou preta de for de lã. Bege cru se for de algodão.
Largura: de 10 a 12 cm.
A PALA
Uso: opcional.
Tamanho: tamanho padrão, com abertura na gola. Dimensões aproximada 2m X 1,60m.
Opções: poderá ser usado no ombro, meia-espalda, atado da direita para a
esquerda, com todos os trajes.
AS ESPORAS
Uso: trata-se de peça utilizada nas lides campeiras. É admissível o uso nas
representações coreográficas de danças tradicionais.
Vedação: é vedado o uso em bailes e fandangos.
A FACA
Uso: é opcional, para grupos adultos, veteranos e no ENART, nas apresentações
artísticas.
Tamanho: de 15 a 30 cm de lâmina.
Vedação: é vedado o uso nas atividades sociais, exceto apresentações
artísticas.
Notas:O termo bombacha vem do espanhol “bombacho”, que significa calças largas.
“O lenço vermelho, fui incluído na pilcha pelos primeiros tradicionalistas na década de 1940, como uma homenagem aos gaúchos que lutaram na Revolução Farroupilha. É tratado com um símbolo de liberdade e coragem pelos tradicionalistas. ” (LUVIZOTTO,2010)
Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “O Gaúcho”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros” Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Brotei de um tempo onde
a pátria axucrada
Trouxe entonada na pua o timbre de galo
E à picumã eu retovei este galpão
Do coração pra ser portal de algum regalo
Minha raiz traduz na sua
própria estampa
Toda esta pampa que o gaúcho idolatra
Com meus pesuelos trago a saudade gaviona
Que repechona vem tropeando a culatra
(Dentro do peito
corcoveia uma doutrina
Estirpe e sina palanqueando a tradição
Sou como o rio, que vai legando mil caminhos
Tirando espinhos em cada aperto de mão)
De onde vim eu trouxe
herança galponeira
Velha bandeira de um atavismo curtido
Mesclando campo com o sabor desta querência
Reminiscência do meu pago mais querido
Os horizontes que eu repontei a cavalo Mastigam pealos deste amor que retempera Não tem um quera que more aqui no Rio Grande Que o seu sangue não valha a sua terra
Doutrina de Gaúcho Os Serranos
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Gaúchos
Gaúcho é uma denominação dada aos vaqueiros das regiões dos pampas da
Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai e Brasil. As características típicas do
seu modo de vida no campo, fizeram com que o gaúcho tivesse uma cultura própria
sua, derivada do amálgama da cultura ibérica, principalmente espanhóis, e
indígena. Usa-se, também, o termo para identificar os habitantes nascidos no
estado Rio Grande do Sul.
Pelo seu modo de
ser, falar e se vestir, o gaúcho forma um tipo folclórico que sintetiza um
conjunto de tradições. Por exemplo, sua maneira tradicional de se vestir é
bastante característica.
Grande parte da população gaúcha rural usa as
vestimentas tradicionais por serem adaptadas à vida campeira. Os avios do
chimarrão ou os apetrechos usados para a preparação e consumo da erva-mate, os
utensílios de encilha tradicionais para o cavalo, incluindo as esporas do
cavaleiro, junto com as vestimentas, fazem a definição de pilcha, o Gaúcho Pilchado,
montado com sua vestimenta típica.
Usam roupas de origem indígena como o poncho ou capa
campeira, vestimenta tradicional da América do Sul, usado para protege-los do
frio e do vento, usado sobre a vestimenta do dia a dia, normalmente feitos em
teares utilizando a lá da ovelha como matéria prima; o lenço colorado; a pala, também um tipo de poncho, de lá ou
de seda, utilizado para climas mais amenos; o chiripá, tecido que é
colocado em volta da cintura, formando um avental com uma amarração muito
bonita, hoje em dia usado
pelos grupos folclóricos de danças típicas; a guaiaca, termo de origem aimará (wayaqa), uma cinturão com bolsas, feitos de couro, propicio para guardar pequenos
objetos, como moedas, palhas e fumo e,
mais tarde, cédulas de dinheiro, relógio e até pistola.
Ainda em suas vestimentas típicas, porém com influência
europeia, encontramos a camisa de tecido; o
colete; a blusa campeira; o chapéu de copa baixa e abas largas; o lenço do pescoço atado por um nó
que pode ser feito de oito maneiras diferentes, sendo as cores branco e
vermelho as mais tradicionais; a bota
campeira e a bombacha.
A bombacha são as calças típicas usadas pelos gaúchos, largas em cima e abotoadas no
tornozelo. O nome foi adotado do termo espanhol “bombacho”, que significa
“calças largas” e pode ser feita de brim, linho, tergal, algodão ou de outros tecidos, em padrão liso,
listrado ou xadrez discreto. A bombacha é muito utilizada nas regiões da
campanha, da fronteira oeste e dos campos
de cima da serra. Porém, nas cidades maiores, ainda é possível perceber alguns
gaúchos pilchados ou montados com suas vestimentas típicas, gaúchos que
participam de grupos tradicionalistas ou simples mantenedores da cultura
tradicional.
A vestimenta feminina segue regras bem definidas pela
tradição gaúcha para seu uso. A prenda ou a mulher gaúcha, usa um vestido de uma peça inteira ou em duas
peças, saia e blusa, com ou sem um casaquinho, que pode ser usado pelas prendas
adultas e senhoras. As saias podem ser variadas, porém o comprimento delas não
ultrapassa o peito do pé. Suas vestimentas não podem ser pretas (luto) ou
brancas (noivas e debutantes), nem conter as cores da bandeira do estado do Rio
Grande do Sul. Devem ser discretas e simples, não podendo ser decotadas, expor
os ombros ou os seios. Podem apresentar enfeites de diversos tipos. A mangas não
podem ser bufantes e podem ser compridas ou até os cotovelos. Usa-se meias que
devem ser longas, brancas ou beges para as moças e as senhoras, e de
tonalidades escuras paras as mulheres idosas. Os sapatos podem ser pretos,
brancos ou beges e o salto 5 ou meio salto, com uma tira sobre o peito do pé e
que abotoe do lado de fora. Cabelo semi-presos, presos ou em trança, com algum
enfeito de flores bem discreto se a pessoa quiser.
O chimarrão ou mate, bebida característica do sul do
país, tomado em uma cuia feita de porongo, é amplamente consumido pelos gaúchos
em todas as estações do ano. Nos dias mais frios, não raro, se vê uma variedade
chamada “mate doce”, onde se usa mel e cascas de bergamota,
geralmente, para temperar o mate.
O fogo de chão é uma tradição entre os gaúchos, que se reúnem
e se aquecem em volta de fogueiras feitas no chão, passando o chimarrão de mão
em mão e contando suas histórias.
Na cidade de São Sepé, no estado do Rio Grande do Sul, está
localizada a fazenda Boqueirão onde a família mantém, desde o início do século
XIX, há 200 anos, um fogo de chão aceso, alimentado por toras de madeira de lei
chamadas guarda-fogo. A fazenda é um centro de romarias nativistas e tradicionalistas
que cultuam este fogo, que nunca se apaga.
Na culinária gaúcha, curiosamente, não existe relação
com a culinária de origem portuguesa, indígena ou castelhana. O forte vento
minuano que atravessa o estado do Rio Grande do Sul no inverno, chega ser tão
forte, que congela os pampas. Por conta do clima, a alimentação tradicional é
repleta de carnes gordas, sopas quentes que dão mais alegria para enfrentar o
frio. O churrasco e o arroz “carreteiro” são os pratos mais típicos do gaúcho.
Fazem parte da culinária rio-grandense o feijão mexido, feijão misturado
com farinha de mandioca; o quibebe, purê de abóbora moranga; a “roupa
velha”, prato feito com sobras de carnes e ovos mexidos; o feijão
campeiro; o charque com mandioca; a paçoca de pinhão com carne assada; a couve
refogada; o arroz com galinha; o “puchero”, um cozido de carne com
legumes e o peixe.
Dia 20 de setembro é comemorado o dia do Gaúcho. E durante todo o mês, os gaúchos comemoram a Semana Farroupilha, período em que a Província de São Pedro, atual estado do Rio Grande do Sul, declarou guerra contra o império por causa dos altos impostos cobrados pelo charque.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores