Ilustração “O Fogo de Chão e a Roda de Chimarrão”, Tradições Gaúchas. Série Traços do Brasil.

 
Ilustração "Fogo de Chão e a Roda de Chimarrão", da série "Tradições Gaúchas". 
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.

Ilustração “Fogo de Chão e a Roda de Chimarrão”, da série “Tradições Gaúchas”.
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Nem bem clareia já me
encontro chimarreando
Ao pé do fogo que
aquenta as madrugadas
Daqui um poquito o sol
desponta no horizonte
“Tô desde ontonte co’as
idéia engarrafada”
Pra o parapeito do galpão
arrasto as “garra”
Bucal na mão vou
“tiflando” pra mangueira
Meu sestrosa me
cuidando a matungada
Vem da invernada e
fica “flor de caborteira”
Mas que me importa
pois me levantei aluado

Cano virado das minhas
botas garroneiras
Toda segunda tem bagual
de lombo inchado
Adivinhando que passei
de “borracheira”
Junto as “argola” do
cinchão no osso do peito
“precuro” um jeito
busco a volta e me enforquilho
Depois que “munto” e
atiro o “caixão” pra trás
Só Deus com um gancho
pra me “saca” do lombilho
Me dá vontade de “prende”
o buçal na cara
Deste picaço que
esqueceu como se forma
Mas eu garanto que
embaixo dos meus “arreio”
Conhece o ferio e aprende
a “respeitá as norma”
Pego-lhe o grito
“tacho os ferro” na paleta
De boca aberta o
queixo-roxo vende garra
Lida baguala que
em muitos mete medo
Meu xucro ofício que
por vício eu fiz de farra.    

“Xucro Ofício”
Os Serranos

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O Fogo de Chão e a Roda de Chimarrão

De tradição indígena, os fogos de chão eram feitos próximos das ocas, compartilhados por famílias inteiras que, no aconchego da luz, encontravam uma forma de reunir-se, socializar-se, trocar vivências e se abrigarem do frio da região dos pampas.

O gaúcho campeiro tem por tradição trazida desses índios, se reunir a noite com os amigos e colegas, em volta do fogo, feito no chão, para confraternizar, trocar ideias sobre a lida no campo, tomar o chimarrão de forma compartilhada, comer um churrasco, contar causos, estórias e lendas. É contado pelos gaúchos, que em volta do fogo de chão foram tomadas grandes decisões na história do Rio Grande do Sul.



Esse ato de confraternização proporciona a manutenção de uma sociedade tradicionalista gaúcha, dando um sentido de coletividade, de pertencimento a algo maior, de fazer parte de um grupo coeso e que tem tradição e raízes, dando sentido para sua história.  Para eles o fogo representa a força e a alma da sociedade gauchesca.

O fogo de chão está associado também à chama crioula, considerada um dos símbolos mais estimados pelos gaúchos. Acesa pela primeira vez em 7 de setembro de 1947, a meia noite, por Joao Carlos D´Avila Paixão Cortes, Ciro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, três jovens, que retiram da Pira da Pátria, na cidade de Porto Alegre, a centelha que iria constituir a primeira chama crioula de inúmeras outras, uma tradição mantida até hoje no estado todo, repetindo-se todos os anos.

Este fogo simbólico é distribuído a representantes das 30 Regiões Tradicionalistas do estado, por mais de 50.00 cavaleiros. Trata-se de um símbolo das comemorações da Semana Farroupilha, que acontece na segunda quinzena do mês de setembro e envolve o estado todo em festejos públicos. A Semana Farroupilha relembra a Guerra dos Farrapos contra o império, de 1835 a 1845, sendo a mais longa batalha do Brasil.

Para os gaúchos, o fogo de chão significa liberdade, amor à natureza, ao cavalo, sempre presente, ao encontro regado com muita música, cantoria, churrasco, fandango e muita alegria noite a dentro.


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O chimarrão ou mate, que não pode faltar nas rodas dos gaúchos, é uma bebida típica da América do Sul e consiste num chá de erva, tomado dentro de uma cuia de cabaça, por intermédio de uma bomba de bambu, metal ou prata, onde se acrescenta agua quente. A pessoa se serve da água, toma o chá até o final, enche novamente a cuia e oferece para a pessoa seguinte da roda, e assim vai. Um ato de paz, amizade, confiança e cortesia. O hábito de tomar o chimarrão, ou chimarrear, é típico do gaúcho que o consome todos os dias, de manhã até a noite.  

O fogo de chão é de fato tão tradicional e importante para a cultura gaúcha, que uma fazenda localizada em São Sepé, há 265 km de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, mantém aceso um fogo de chão, desde 1918. A fazenda possui status de patrimônio histórico e cultural, e já recebeu milhares de visitante de todo o Brasil, tornando-se centro de romarias nativistas de tradicionalistas.  O fogo é mantido aceso por toras de madeira de lei chamadas de guarda-fogo, que ficam armazenadas num galpão, que mantem sua forma original desde o começo do século XIX. Durante os festejos da Semana Farroupilha, muito cavaleiros passaram pelo galpão para acender a chama crioula, levando a tradição do fogo de chão para todas as cidades do Rio Grande do Sul.

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Por Lu Paternostro
NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores   

Ilustração “O Gaúcho Pilchado”. Tradições Gaúchas. Série Traços do Brasil.

Ilustração "Gaúcho Pilchado", da série "Tradições Gaúchas". 
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Gaúcho Pilchado”, da série “Tradições Gaúchas”.
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EU TENHO ORGULHO DE TER NASCIDO GAÚCHO
DE ANDAR PILCHADO E DE TOCAR MEU VIOLÃO
DE TER A PRENDA MAIS PRENDADA DO RIO GRANDE
E A PIAZADA QUE RESPEITA A TRADIÇÃO

UM BOM CAVALO, UM VELHO CUSCO COMPANHEIRO
QUE É MEU PARCEIRO EM QUALQUER OCASIÃO
TENHO SAÚDE E MUITA FORÇA PRA O TRABALHO
E O MEU TRÊS LISTA PRA UM CAUSO DE PRECISÃO

SOU RIOGRANDENSE, SOU BRASILEIRO
GUARDO AS FRONTEIRAS DO MEU PAÍS
SOU QUERO-QUERO, SENTINELA DO PAMPA
SOU ALMA QUE CANTA, SOU BEM FELIZ

VERDE, VERMELHO E O AMARELO DA BANDEIRA
LEMBRAM AS MATAS, NOSSO SANGUE E O TRIGAL
NOSSAS RIQUEZAS, NOSSO POVO, NOSSA GENTE
E UM PASSADO DE GRANDEZA SEM IGUAL

QUANDO UM GAÚCHO ESTENDE A MÃO AO COMPANHEIRO
UM CHIMARRÃO DEMONSTRA A HOSPITALIDADE
UM BOM CHURRASCO LOGO VEM ACOMPANHADO 
DE UM FORTE ABRAÇO PRA PONTEAR NOVA AMIZADE

“Orgulho de Gaúcho”
Grupo Quero-Quero- Compositor: Roberto Kopp

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Gaúcho Pilchado

A forma típica de se vestir do gaúcho é entendida como muito importante para a cultura sulina, pois preserva sua história com orgulho, passando através das gerações, a força das tradições e o orgulho de ser gaúcho.

Há regras fixas, que devem ser seguidas com muito respeito, tanto para a vestimenta do gaúcho, como a da “prenda”, a mulher gaúcha.

A pilcha, de acordo com o Dicionário de Regionalismos, é “adorno, joia, dinheiro. Roupas, arreios, qualquer objeto de valor. Vestimenta típica de gaúcho” (NUNES; NUNES, 1948, p. 373). No dicionário Houaiss, significa “objeto de adorno, adereço, enfeite” e, ainda, uma “peça de vestuário, especialmente o poncho, a bombacha, as botas e o chiripá” (HOUAISS; VILLAR, 2009, p. 2210).

Para defini-la, foi criada a Lei Estadual de nº 8.813, de 10 de janeiro de 1989, que oficializa o traje de honra e de uso preferencial no estado do Rio Grande do Sul, tanto para os homens como para as mulheres. O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e os Centros de Tradições Gaúchas (CTG), um dos maiores movimentos de cultura popular, organizado e centralizado do Brasil, é o órgão que preserva a cultura gaúcha em todas as partes do Brasil, define as regras de uso dos componentes da vestimenta, a fim de disciplinar e orientar as prendas e os peões a se vestirem adequadamente em várias ocasiões.  

A origem do Gaúcho Pilchado vem da colonização dos pampas pelos povos ibéricos, e é resultado da união de influências históricas, sociais e culturais que foram se adequando à realidade do trabalho no campo.


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O MTG define três tipos de vestimentas que devem ser usadas tanto pelos homens como pelas mulheres que são a pilcha para atividades artísticas e sociais, a pilcha campeira e a pilcha para a prática de esportes (truco, bocha campeira, etc)

O gaúcho tem orgulho e muito respeito pelas suas batalhas, sua hombridade, sua mistura de raças fortes, por suas tradições. Por conta disso, independentemente de suas crenças particulares, seguir as regras é demonstrar-se consciente e respeitoso de sua história, tornando-se ator da preservação de um patrimônio cultural único, legado que tende a se esfacelar numa cultura em constante mudança, globalizada, que perde facilmente suas raízes.

O “Gaúcho Pilchado”

Aqui transcreveremos o texto, na íntegra, de orientação para a vestimenta do Gaúcho ou Peão Pilchado, segundo as Diretrizes para a Pilcha Gaúcha, estabelecida pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho.

DIRETRIZES PARA OS TRAJE ATUAL PEÃO ADULTO, VETERANO E JUVENIL

A BOMBACHA
Tecidos: brim (não jeans), sarja (lã), linho, algodão, oxford, microfibra
Cores: claras ou escuras, sóbrias ou neutras, tais como marrom, bege, cinza, azul-marinho, verde escuro, branca. Fugindo as cores agressivas, fosforescentes, contrastantes e cítricas, como vermelho, amarelo, laranja, verde-limão, cor-de-rosa.
Padrão: liso, listradinho e xadrez miúdo e discreto.
Modelo: cós largo sem alças, dois bolsos na lateral, com punho abotoado no tornozelo.
Favos: O uso de favos e enfeites de botões (devem ser do tamanho daqueles utilizados nas camisas, vedados os de metal) depende da tradição regional.  As bombachas podem ter, nos favos, letras, marcas e botões. Quando usar favos, deverão ser da mesma cor e tecido da bombacha. Os desenhos serão idênticos em uma e outra perna.
Largura: com ou sem favos, coincidindo a largura da perna com a largura da cintura, ou seja, uma pessoa que use sua bombachas no tamanho 40, automaticamente deverá ter, aproximadamente, uma largura de cada perna de 40 cm de tal forma que não seja confundida com uma calça.
Uso: As bombachas deverão estar sempre para dentro das botas.
Vedações: É vedado o uso de bombachas plissadas e coloridas



A CAMISA
Tecido: preferencialmente algodão, tricoline, viscose, linho ou vigela, microfibra (não transparente), oxford.
Padrão: liso ou riscado discreto.
Cores: sóbrias, claras ou neutras, preferencialmente branca. Evitando cores agressivas e contrastantes.
Gola: social (ou seja, abotoada na frente, em toda a extensão, com gola atual, com punho ajustado com um ou mais botões).
Mangas longas: para ocasiões sociais ou formais, como festividades, cerimônias, fandangos, concursos.
Mangas curtas: para atividades de serviço, de lazer e situações informais.
Camiseta de malha ou camisa de gola polo: exclusivamente para situações informais e não representativas. Porém, podem ser usadas com distintivo da Entidade, da Região Tradicionalista e do MTG.
Vedações: Vedado o uso de camisas de cetim e estampadas.

AS BOTAS
Material: de couro liso
Cores: preto, marrom (todos os tons) ou couro sem tingimento.
Cano:a altura do cano varia de acordo com a região. Normalmente o cano vai até o joelho.
Solado: o solado deve ser de couro, podendo ter meia sola de borracha ou látex. A altura máxima de um centímetro (entra em vigor em 1º de janeiro de 2012).
Botas “garrão de potro”: são utilizadas exclusivamente com trajes de época.
Vedações: é vedado o uso de botas brancas. Proibidos quaisquer tipos de bordados ou palavras escritas nas botas.

O COLETE
Uso: se usar paletó poderá dispensar o colete.
Modelo: tradicional, sem mangas e sem gola, com uma única carreira de botões na frente, podendo ser abotoado, ou não. Com a parte posterior (costas) de tecido leve, ajustado com fivela, de uma cor só, no comprimento até a altura da cintura.
Cor: da mesma cor das bombachas, podendo ser tom sobre tom.
Tecido: mesmo padrão de tecido da bombacha.

O CINTO (OU GUAIACA)
Material: de couro.
Guaiacas: de uma a três guaiacas internas ou não.
Fivelas: uma ou duas fivelas frontais com, no mínimo, sete cm de largura.
Florão: quando usado deve ter função de fivela.
Vedação: Cinto com rastra (enfeite de metal com correntes na parte frontal).



O CHAPÉU
Material: de feltro ou pelo de lebre.
Abas: a partir de 6 cm.
Copa: de acordo com as características regionais.
Barbicacho: de couro ou crina, podendo ter algum enfeite de metal e, ou fivela para regulagem.
Vedação: é vedado o uso de boinas e bonés.

O PALETÓ
Uso: usado especialmente para ocasiões formais.
Cor: A combinação de cor, com as bombachas, deve ser harmoniosa, evitando cores contrastantes.
Vedações: é vedado o uso de túnicas militares substituindo o paletó.

O LENÇO
Cores: vermelho, branco, azul, verde, amarelo e carijó (nas cores citadas e ainda, marrom e cinza).
Tamanho: no caso do uso com algum tipo de nó, com a medida de 25 cm a partir deste. Com o uso do passador de lenço, com a medida de 30 cm a partir deste.
Passadores: de metal, couro ou osso.

A FAIXA
Uso: opcional.
Cor: lisa, na cor vermelha ou preta de for de lã. Bege cru se for de algodão.
Largura: de 10 a 12 cm.



A PALA
Uso: opcional.
Tamanho: tamanho padrão, com abertura na gola. Dimensões aproximada 2m X 1,60m.
Opções: poderá ser usado no ombro, meia-espalda, atado da direita para a esquerda, com todos os trajes.

AS ESPORAS
Uso: trata-se de peça utilizada nas lides campeiras. É admissível o uso nas representações coreográficas de danças tradicionais.
Vedação: é vedado o uso em bailes e fandangos.

A FACA
Uso: é opcional, para grupos adultos, veteranos e no ENART, nas apresentações artísticas.
Tamanho: de 15 a 30 cm de lâmina.
Vedação: é vedado o uso nas atividades sociais, exceto apresentações artísticas.

Notas:O termo bombacha vem do espanhol “bombacho”, que significa calças largas.

“O lenço vermelho, fui incluído na pilcha pelos primeiros tradicionalistas na década de 1940, como uma homenagem aos gaúchos que lutaram na Revolução Farroupilha. É tratado com um símbolo de liberdade e coragem pelos tradicionalistas. ” (LUVIZOTTO,2010)

Por Lu Paternostro
NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores

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