Meu coração pantaneiro
Onde pulsa a natureza
Sol nascente do desejo
Da paixão em correnteza
Comandante em meu cavalo
Nos caminhos boiadeiros
Navegante pelas águas
Desses rios canoeiros
Meu coração pantaneiro
Que o amor já fez morada
Dor de peão boiadeiro
Que procura sua amada
Uma garça majestosa
Flor campeira de mulher
Bate asas tão distante
Inda não sabe o que quer
Tuiuiú, ai tuiuiú
Voa, vai dizer a ela
Que a paixão é verdadeira
Diz que sou peão escravo
Dessa garça pantaneira
Tuiuiú, ai tuiuiú
Voa, vai dizer a ela
Que a paixão é verdadeira
Diz que sou peão escravo
Dessa garça pantaneira
E assim, eu vou levando
Essa dor apaixonada
Em coda ponto de estrela
Vejo o rosto dessa amada
Ponteando na viola
A esperança de um sinal
De poder em suas asas
Revoar o pantanal
Tuiuiú, ai tuiuiú
Voa, vai dizer a ela Que a paixão é verdadeira
Diz que sou peão escravo
Dessa garça pantaneira
Coração Pantaneiro
Sérgio Reis
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O Pantaneiro
O Pantaneiro é o habitante tradicional da região do ecossistema brasileiro chamado Pantanal. Muitos os chamam de bugres.
As populações tradicionais, entre elas os pantaneiros, foram reconhecidas pelo Decreto Presidencial nº 6.040, assinado em 7 de fevereiro de 2007. Nele o governo federal reconhece, pela primeira vez na história, a existência formal de todas as chamadas populações tradicionais.
O Pantanal é um mundo de águas, um paraíso grandioso. Em toda a sua área, um pouco mais de 132 mil quilômetros quadrados de extensão, cabem quatro países como a Holanda, Bélgica, Portugal e Israel.
O Pantanal tem este nome quando da visita do Visconde de Taunay ao local, durante a Guerra do Paraguai. Em seus livros descreveu essa imensa área alagada como sendo um imenso pântano. Os pantaneiros vieram através do rio Tietê, Paraná e Paraguai, desde o interior de São Paulo, em busca do ouro das minhas localizadas na região de Cuiabá, no século XVIII. Também, os primeiros criadores de gado que chegaram ao local, há mais de 250 anos, o chamaram de pantanal. Quando esgotaram as minas, uns foram para outros garimpos e os desiludidos com a atividade focaram para criar gado.
O pantanal é uma planície, a maior, a mais rica e a mais bela extensão de área alagada do planeta. Ele é dividido em 10 regiões diferentes, situados nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, e em trechos da Bolívia e do Paraguai.
O bioma tem espécies de diferentes regiões com o mandacari da caatinga e o cambará da Amazônia, que chegaram na região pelo vento. A paisagem muda conforme as águas enchem ou abaixam. No Pantanal o homem convive com milhares de espécies da fauna e da flora há muitos séculos. Há sítios arqueológicos ainda inexploráveis, inscrições e desenhos em pedras. Restos de fogueiras e materiais em cerâmica são objetos de estudo dos arqueólogos. Na região encontram-se 650 diferentes espécies de aves, 262 de peixes, 1.100 de borboletas, 80 de mamíferos e 50 de répteis e animais sob o risco de extinção, como onças-pintadas, jacarés, veados, araras, quatis e outros. São mais de 1.700 diferentes espécies de plantas.
O pantanal é lugar de gente corajosa, que entende e acata com humildade os sinais da natureza. O peão pantaneiro vive nas condições oferecidas pela própria natureza, adaptando-se aos períodos das chuvas, que alagam a região por longo tempo.
O povo pantaneiro tem índio, espanhol, português, paraguaio, boliviano, árabes, paulistas, mineiros e muitas outras descendências, mas tudo começou com os índios.
Segundo pesquisas arqueológicas feitas na região pantaneira, a ocupação humana do local se deu há mais ou menos 8.500 anos. Grupos de nômades índios, migraram para a região vindos do planalto central brasileiro, do charco paraguaio e da região chiquitania da Bolívia.
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Adaptaram-se muito bem ao local e aqui viveram. Quando está seco, eles andam a cavalo o dia todo. “Quando é na seca, nóis anda lá e não acha nem água pra bebê, mas quando é nas água, é triste. O pantanal misterioso. Tem ano que enche muito, ano que enche pouco..” depoimento de um velho pantaneiro.
As decorações dos recipientes marcam a identidade do povo que há séculos estiveram lá. No início do século 16 eram centenas de milhares de índios no local, formando agrupamentos, as primeiras sociedades organizadas do pantanal. Hoje são em muito poucos, aculturados, urbanizados. Doenças, principalmente as trazidas pelos colonizadores, os trabalhos foçados e as guerras onde participavam ativamente, provocou uma redução da população indígena.
Embora reduzidas, muitas sociedades ainda preservam algum aspecto de suas culturas tradicionais, como a tribo dos terenas. Lá as mulheres se dedicam ao trabalho da casa e a produção de artesanatos em cerâmica e palha de taboca, uma espécie de bambu, muito comum na região pantaneira. Já os homens cuidam de alimentar suas famílias. São responsáveis pelas pequenas lavouras, pela pesca e caça. Estes habitantes lutam para preservar suas tradições e história. Em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, foi construída uma pequena vila para eles morarem, com casas que se assemelham a ocas, porém em alvenaria. A conjunto se chama Marsal de Souza, tem escola bilíngue e um memorial para preservar a cultura indígena. São os homens também os principais atores de uma das mais antigas manifestações culturais desta tribo indígena que existe até hoje: a dança-do-bate-pau.
A criação de gado no Pantanal se consolidou. O vaqueiro da região agora possui traços inconfundíveis, um tipo brasileiro que já nasce sobre um cavalo, traz nas expressões, na fala e nos hábitos alimentares todas estas culturas juntas. O vaqueiro do pantanal parece ter sido forjado neste local.
Criou suas próprias ferramentas com as matérias primas que tinha disponível, como o couro. Pode-se encontrar artesanatos belíssimos feitos em couro, especialmente para a montaria.
Sua vestimenta se une à vestimenta do cavalo. O freio, o arreio, a sela, o estribo, o laço, a baldrana, o pelego e ainda a calça de couro, a perneira, que vai sobre a calça, para proteger o vaqueiro dos galhos das arvores secas e do próprio pelo do cavalo.
Participam das festas de laço, rodeios, rodas de tererê, bailões, regados a muita bebida. Tem o chamamé, a polka paraguaia, a moda de viola e o vanerão. Toca-se o acordeom e a viola.
Uma nova cultura foi nascendo ao redor do vaqueiro do pantanal. Do português o pantaneiro herdou as histórias para assustar as crianças. Dos índios, vem os gritos e aboios, os traços fisionômicos, as novas comidas, o costume da sesta, depois de comer. O gosto pela música veio dos paraguaios e bolivianos.
Sua
alimentação é baseada na farinha, carne, feijão, arroz e mandioca e em frutos,
raízes e legumes da região. Os peixes também integram a culinária, acompanhados
de arroz tropeiro, mandioca frita, e feijão e salada. Há ainda a paçoca, uma
farofa de carne-seca frita e moída no pilão com farinha; e o furrundu, um doce
feito de mamão verde e rapadura.
A cultura local e a natureza estão totalmente ameaçadas.
Temos o avanço agressivo da agricultura monoculturista do milho, soja e trigo,
que fez com que populações saíssem do lugar ou mesmo se acostumasse com um novo
estilo de vida, que foi se modificando nas próprias cidades. A falta de cultura
preservacionista deste agricultor contribuísse com este perigoso processo de
deterioração do meio ambiente. Com a divisão do Estado em 1971, o agronegócio e
os latifúndios entrarão com tudo na região. Aos poucos foram expulsando os
índios e os agricultores rurais de seus habitats.
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Os vaqueiros continuam com seu ritmo característico, com seus hábitos, seu compromisso com a natureza, trabalhando nas fazendas, levando bois.
“O homem do pantanal é uma continuação das águas. É um homem puro em todos os sentidos e que tem uma vivencia muito diferente da do home de cidade. Ele tem uma absoluta vivencia do pantanal e um absoluto respeito pela ecologia pantaneira. O que nasceu lá, o pantaneiro, ele só caça para comer. Ele respeita a natureza. Ele nasceu ali, gosta dali, tem um amor ali” Manoel de Barros
Viveram as belezas e adversidades da natureza, entre águas e seca, história presente nos sulcos de sua pele, escura, curtida, pantaneira. Guardiões da natureza viva do Pantanal.
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Por Lu Paternostro
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