Ilustração “O Vaqueiro Nordestino”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "O Vaqueiro Nordestino", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “O Vaqueiro Nordestino”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros”
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Ei, gado, oi…. 
Numa tarde bem tristonha 
Gado muge sem parar 
Lamentando seu vaqueiro 
Que não vem mais aboiar 
Não vem mais aboiar 
Tão dolente a cantar 
Tengo, lengo, tengo, lengo, 
tengo, lengo, tengo 

Ei, gado, oi 
Bom vaqueiro nordestino 
Morre sem deixar tostão 
O seu nome é esquecido 
Nas quebradas do sertão 
Nunca mais ouvirão 
Seu cantar, meu irmão 
Tengo, lengo, tengo, lengo, 
tengo, lengo, tengo 

Ei, gado, oi 
Sacudido numa cova 
Desprezado do Senhor 
Só lembrado do cachorro 
Que inda chora 
A sua dor 
É demais, tanta dor 
A chorar, com amor 

Tengo, lengo, tengo, lengo, 
tengo, lengo, tengo 
Tengo, lengo, tengo, lengo, 
tengo, lengo, tengo 
Ei, gado, oi 
E… Ei…….

A Morte do Vaqueiro
Luiz Gonzaga | Compositor: Nelson Barbalho

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Vaqueiro Nordestino

A história do vaqueiro começou quando o Brasil era colônia de Portugal.

Em 1534 chegaram as primeiras cabeças de gado, vindas da Ilha de Cabo Verde, África.  Como as terras eram muito extensas, e o rebanho precisava dos pastos, era preciso alguém que cuidasse dos animais, no caso os vaqueiros. Portanto, o vaqueiro é um tipo étnico que vem do contato do colonizador com o índio, durante a penetração do gado nos sertões do Nordeste brasileiro. Habitam a região da caatinga uma área de clima semi árido, que ocupa praticamente todo o Nordeste.

Trabalham como no século XVII. Desde criança aprendem a correr atrás e laçar os bois no curral. Vão “aboiando”, tocando a boiada entoando o aboio, um canto sem palavras, típico dos vaqueiros, que cantam quando conduzem seus bois para o pasto ou curral.  Eles aboiam também quando precisam orientar o gado que se perde na serra, ou se extravia numa caatinga.



Quando um boi se desgarra, foge, eles saem como um raio, por entre a paisagem seca, passando por galhos, pontas de pau e espinhos dos cactos. É a pega de boi. Neste momento, o vaqueiro corre o risco de se ferir na vegetação. E para que isso não aconteça, ele aprende a desenvolver técnicas de se safar dos galhos, utilizadas com muita maestria e habilidade.

Por isso o vaqueiro precisa de uma roupa especial, que funcione como uma armadura ou couraça, o que acaba se tornado sua segunda pele.

Sua vestimenta é caracterizada pela predominância do couro cru, onde ainda hoje se utilizam processos primitivos para a curtição, o que o deixa com uma cor ferrugem, flexível e macio. O vaqueiro se orgulha de vestir sua roupa de couro, principalmente quando participam das cavalgadas e manifestações culturais, onde desfilam seus trajes típicos sobre seus cavalos, ao lado de bois, tocando o berrante.


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As roupas típicas dos vaqueiros são compostas pelas guardas, ou perneiras, uma calça de couro que vai sobre outra calça mais fina, trançadas por trás, sendo amarradas na frente, e que têm o objetivo de proteger as penas contra os espinhos abundante na flora da região, deixando o corpo do vaqueiro com liberdade de movimentos para cavalgar ou mesmo se safar dos galhos; os sapatos têm o nome de alpercata ou usa-se as botinas de couro, fortes e firmes; as esporas fazem parte do traje e têm a função de instigar os cavalos para correrem; um chicote de couro, significando que estão sempre prontos para montar a qualquer momento e o guarda-peito, parapeito, ou peitoral, preso por uma espécie de alça que passa pelo pescoço e protege o peito do vaqueiro contra espinhos que se localizam na parte alta as plantas, bem como eventuais pancadas no peito.

Muito importante em sua vestimenta é o gibão, um casaco de couro que tem a finalidade de proteger o vaqueiro nos braços e nas costas contra pancadas dos galhos de árvores. Há também as luvas de couro, que são amarradas no pulso, e protegem as costas das mãos, deixando as palmas e os dedos livres para o trabalho. O chapéu, típico nordestino, também em couro forte, protege o vaqueiro do sol, dos espinhos e galhos da caatinga. Também podem ser usados para beber água ou comer. Suas roupas são ricamente recortadas e bordadas.

Outro aparato típico é a sela, muitas vezes herdadas de pai, avo e bisavô.



“Foi feita mesma a capricho de couro de lobisomem, fantasma, mula de padre, bichos que vivem e não comem. É rainha da floresta outra da espécie desta, não fará mais outro homem.
Com esta sela o cavalo corre mais do que o vento. Tem tanta velocidade que ultrapassa o pensamento.”

(O Homem de Couro, 1970)

Muitos deles mantem a tradição e se reúnem em missas que homenageiam vaqueiros.

Na cidade de Serrita, localizada a 535 quilômetros de Recife, capital do estado de Pernambuco, todos participam com fé e devoção da tradicional Missa do Vaqueiro. A missa acontece ao ar livre, no terceiro domingo do mês de julho e reúne vaqueiros de todas as partes do Brasil.  Criada em 1970, em homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó, primo de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, covardemente assassinado em 1954, acontece aos moldes de uma missa católica, porém, comungam, no lugar da hóstia, com comidas típicas como farinha de mandioca, rapadura e queijo, sempre montados a cavalo.



O vaqueiro morto tornou-se um ídolo, uma referência, um símbolo de força e poder para os vaqueiros.

O início da celebração acontece com uma procissão de mil vaqueiros que, a cavalo, levam, oferendas a Raimundo Jacó como chapéu de couro, chicotes e berrantes, deixando os objetos num altar de pedra rústica, em formato de ferradura. 

Raimundo Jacó era um vaqueiro muito destemido, invejado por ouros vaqueiros. Acabou sendo assassinato de forma brutal. A história conta que quem velou o corpo do vaqueiro foi seu fiel companheiro de aboiada, seu cachorro, que ficou junto ao corpo de seu dono até sua morte. O corpo do vaqueiro Raimundo Jacob, foi encontrado em Serrita, no sitio Lages, onde é celebrada a missa. 

Depois da labuta de sol a sol, o vaqueiro tem seu momento de festa e alegria, que encontram nos festejos, quando dançam o forró pé-de-serra, tão tradicional no sertão nordestino, tocado com sanfona, triângulo e zabumba.

O vaqueiro é um personagem da cultura brasileira, típico do sertão, nordestino autêntico, de raiz, forte, que tem um modo de ser, falar, dançar, rezar e viver tradicional. 

O Dia Nacional do Vaqueiro Nordestino é 20 de julho e sua festa mais importante é a vaquejada.


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Por Lu Paternostro
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Ilustração “Vendedores Ambulantes”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "Os Vendedores Ambulantes", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
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Venham sem demora 
Eu sou o cometa 
Que vai logo embora 

Eu sou o mascate 
Eu sou barateiro 
Vendo tudo a prazo 
Eu detesto dinheiro 

Minha Senhora, eis suas baixelas 
Diretamente de Bruxelas 
Senhorita, O Carmim da China 
Para ruborizar sua face de menina 

Eu sou o mascate 
Sou o mercador 
Renda pra Senhora 
Na renda do Senhor 

Três balaios de unguentos 
Carreteis de linhas, duzentos 
E uma caixinha de sombra chinesa 
Ali para a mocinha com cara de princesa 

Eu sou o mascate 
Sou bufarinheiro 
Compro até alfinete 
E vendo o mundo inteiro 

Pílulas lilases, baratas e eficazes 
E essências orientais 
Para vossos banhos semanais 

Eu sou o mascate 
Eu sou varejista 
Paguem quanto possam 
Que eu entrego a vista 

Façam vossas encomendas para o próximo trimestre 
Que por enquanto só existe transporte terrestre 
Deem-me vossas listas com qualquer pedido 
Que mulher não paga – só o marido 

Eu sou o mascate 
Eu já me vou 
E o que eu vendo aqui 

Me custou o dobro 
Em Roma e Madri 
Me custou o triplo 
In London e Parrí. 

O Mascate
Carlos Lyra

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Vendedores Ambulantes

São tipos humanos que encontramos pelas ruas, folclóricos pela forma de serem e exporem seus produtos. São encontrados por todo o canto, desde uma cidade grande até pequena, vilarejos e ilhas, no meio do mar, vendendo de tudo em seus carrinhos, tabuleiros, cestos, assadeiras, pendurado em suas costas!

Equilibram mercadorias na cabeça, as carregam em pedaços de paus nos ombros, penduram em cavalos, carregam nas mãos, montam tabuleiros em vários locais, apresentam seus produtos em lonas no chão, transportam barracas cheias de bugigangas sobre bicicletas, burros, penduram em cercas, penduram em si próprios.

São uma parte importante das cidades do mundo todo, tornando-se membro vital da vida social e econômica de uma cidade. São muito apreciados pelos turistas que podem usufruir de uma experiência autentica de contato com o povo e a cultura de um local. 



Os mascates transportam o mundo, se preciso for, para levar coisas dos mais diversos tipos para qualquer lugar onde tem gente. São comerciantes ativos, presentes, observadores e espertos. A alma do mascate habita uma pessoa que sabe o que quer para si.

Os mascates ou vendedores ambulantes são antigos no Brasil.

A origem do termo “mascate” vem do árabe El-Matrac. Chamado, também, de “turcos da lojinha”, pois muitos imigrantes árabes tornaram-se vendedores.

No final do século XIX, chegaram sírios, libaneses, palestinos que vinham não para trabalhar nas lavouras de café, mas para vender objetos para os moradores das roças e fazendas. Caminhavam de fazenda em fazenda. E vendiam. Com o tempo, os árabes foram ficando famosos e conhecidos como vendedores itinerantes, com grande predominância e relevância no comercio.

Mascate também foi o nome depreciativo que os portugueses, estabelecidos na cidade de Olinda, deram aos portugueses que estavam em Recife, de onde originou a Guerra dos Mascates, uma guerra de interesses políticos e econômicos, entre as duas cidades, em 1710.

Mas, o mascate, possivelmente, surgiu na Idade Média, com o desenvolvimento dos burgos. Seus apelidos são inúmeros como pano de linho, marinheiro, bufarinheiro, matraca, canastreiro, miçangueiro, barateiro, corneta, turco da prestação, gringo, pechilingueiro, russo ou judeu da prestação, contrabandista, italiano.

Também conhecidos por caixeiros viajantes, levam seus produtos de um local distante para outro, tornando-os acessível para as pessoas.  Inicialmente os mascates visitavam as cidades do interior e as fazendas de café, levando apenas miudezas e bijuterias. Com o tempo e o aumento do capital, começaram também a oferecer tecidos, roupas prontas e outros artigos.


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Um mundo de objetos é vendido pelos mascates: perfumes, frutas, ovos, verduras, potes plásticos, bijuterias, enfeites, panelas, chapéus, tapetes, tecidos, remédios, roupas, sonhos, até sonhos… e promessas, quantas promessas.

Os Lambe-lambes vendiam fotos, as ciganas liam as mãos e os pais de santo vendiam leitura de búzios…. Será que estes tipos são considerados mascates?

Encontramos citações destes personagens na literatura de Carlos Drummond de Andrade, nos romances de Jorge Amado, nos contos de Cornélio Pires.

Encontramos os mascates nas ruas, em praças, chamando as pessoas, pregando sobre seus produtos, benefícios, suas mágicas soluções. Caminham por ruelas, estradas. Vão de balsa, barco, ônibus, carro, pela praia, a pé, de bicicleta, patins, skate. Atinge o mundo das formas mais diversas apenas porque querem vender. Fazem teatro, usam bonecos, alegram as pessoas.

E com a entrada dos produtos chineses, então, vendem a mesma coisa em 100 ou mais barracas, valendo única e exclusivamente da empatia de cada um, da alegria inerente ao seu espirito! Hoje menos, mas antigamente, víamos nas saídas dos metrôs, inúmeras pequenas mesinhas, com uma pessoa em cada uma, vendendo passe de ônibus ou metrô, cartão ou fichas de telefone. Todas exatamente iguais, vendendo a mesma coisa. O que vale a venda é o olho no olho, aquela coisa bonita do “Seja bem-vindo!”. O vendedor que ama o que faz, tem esse brilho pronto em sua forma de ser. 

O mascate continua aí, nas ruas, agora como vendedores ambulantes, muitos deles preferindo o emprego informal e o ganho irregular, à prisão do emprego fixo e aos constantes desrespeitos que sofrem. São pessoas que valorizam a liberdade, a liberdade de estar na rua, em contato com o mundo, as pessoas, o dia, a noite, a vida que pulsa ao seu redor.



Infelizmente ainda a sociedade não percebe a importância que o vendedor ambulante exerce. Ele é parte importante da sociedade, pois cria seu próprio emprego reduzindo, dessa forma, a pobreza social e contribuindo para o crescimento econômico das cidades.

São parte integrante de nossa cultura, de nossa tradição. Por isso, ganhou seu dia: dia 14 de novembro é o dia internacional do vendedor(a) ambulante.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “O Caiçara”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "O Caiçara", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
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Na areia vejo um horizonte para o pai pensar 
Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Xotiando olhando as ondas a alegria é o mar

E bem na beira da costeira uma fogueira a armar
E o lual apenas está para começar
Lá vem a sanfona quero meu zabumba

Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Se vale a pena a vida no mar 

Na areia vejo um horizonte para o pai pensar 
Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
E as ondas quebrando na beira do mar

E a tarde caiu foi quando a lua surgiu
E no forró me envolvendo me perdendo no tempo
“Simbora” galera vamos forrozear

Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Se vale a pena a vida no mar 

Na areia vejo um horizonte para o pai pensar 
Se vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Xotiando olhando as ondas a alegria do mar

E a tarde caiu foi quando a lua surgiu
E no forró me envolvendo me perdendo no tempo
“Simbora” galera vamos forrozear

Sem vale a pena viver, se vale a pena sonhar
Se vale a pena a vida no mar 4x

Xote Caiçara
Kanaviá

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O Caiçara

O caiçara é o nome dado aos indivíduos que moram em comunidades e vilas, no litoral, principalmente o litoral do estado de São Paulo.

“Caiçara” provém do tupi-guarani, ka’aysá (ou ka’aysara), que designava uma cerca rústica ou armadilha, feitas de galhos de árvores, colocada ao mar para capturar peixes. 

As comunidades caiçaras nasceram a partir do século XVI e são uma mistura do índio das regiões litorâneas do estado de São Paulo e oeste fluminense, ou tupiniquins, dos brancos de origem portuguesa e de negros libertos, que se afastaram das influências das áreas urbanas. Se estabeleceram nas encostas, costões rochosos, restingas e mangues da Mata Atlântica.



Por sobreviverem entre a serra e o mar, gozam de uma cultura própria e diferenciada.

Alguns autores chamam de caiçaras as comunidades do litoral do estado do Paraná, algumas do litoral do estado de Santa Catarina e sul do estado do Rio de Janeiro que mantém as mesmas características de formação étnica e parâmetros culturais, que possibilitam a comparação. Porém, refere-se sempre a indivíduos que moram em zonas litorâneas.

Inicialmente designava apenas a indivíduos que viviam da pesca de subsistência, mas, posteriormente, o termo caiçara passou a designar diversos itens de cunho cultural no litoral brasileiro. Como a serra formava uma barreira natural, isolando o povo do planalto, essas comunidades se desenvolveram fazendo uso de seus recursos naturais ali encontrados. Turistas e visitantes destas regiões, travam contato, muitas vezes sem saber, com uma das mais antigas tradições brasileiras.

No interior desse espaço caiçara surgiram cidades como Parati, Santos, São Vicente, Iguape, Ubatuba, Ilhabela, São Sebastião, Antonina, Paranaguá, que em vários momentos da história colonial, funcionaram como importantes centros exportadores. Estas cidades ficavam em constante comunicação e mantinham um ativo intercâmbio social e econômico entre elas, provisionando umas às outras com a produção que vinha dos sítios e das praias.  Esta intercomunicação acontecia pelas estradas, pelos rios e pelo mar. As chamadas canoas de voga transportavam as comidas, produtos e aguardente para estas comunidades, pela água.

A canoa de voga, citada acima é feita a partir de um único tronco de árvore (geralmente cedro, jequitibá ou guapuruvu). Três são as ferramentas básicas para talhar uma canoa: o machado, a enxó (de cabo curto e lâmina curva) e plaina, para alisar a madeira.

A agricultura era a atividade primária da cultura caiçara, passando, em meados de 1960 a pesca ser a atividade mais importante, hoje a principal atividade do caiçara.


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Nas embarcações utiliza-se equipamentos de origem indígena e na pesca ou captura, utilizam técnicas e processos vindos da cultura dos portugueses. Por exemplo, a poita é uma ancora rustica, feita de pedra e pedaços de paus, utilizadas nas canoas. Portanto expressões utilizadas por ele como “canoa poitada”, “poitado na cama”, “saiu da poita”, significam estar firme, parar. Na comunidade caiçara utiliza-se técnicas de pesca artesanal. Em algumas delas a comunidade participa coletivamente, como no arrasto da tainha.

Hoje muitos trabalham para barcos grandes, ganhando uma porcentagem do que é pescado. Porém, muitos ainda mantem a forma de pescar na natureza. 

O sistema de cultivo da terra utilizado pelos caiçaras tem grande influência indígena. Chamadas de coivara ou roça de toco, intercalam período de cultivo e produção, onde derrubam e queimam o terreno, com o descanso da terra.

A forma de cultivo dos caiçaras é autossustentável. Embora a atividade da agricultura tenha diminuído, sendo substituída pela pesca e pela compra dos alimentos em mercados, costumavam plantar milho, cana, feijão, guandu (leguminosa arbustiva), inhame, mas o seu principal produto é a farinha de mandioca, que não pode faltar na mesa do caiçara.  Também conhecem bastante sobre as ervas medicinais, o que atraiu cientistas para estudar o saber desse povo.

A sua cultura alimentar vem da união das culturas indígenas, europeia e africanas, adaptadas ao rico ambiente natural entre a serra e o mar. Em sua alimentação respeitavam a sazonalidade dos alimentos na natureza. Mas em um ambiente rico caçavam, extraiam palmito, cultivavam a mandioca, o cará e o inhame. Com a farinha de mandioca, preparavam beijus ou tapioca (nome de origem tupi-guarani, também é conhecido como goma de tapioca, tapioca ou polvilho doce, uma iguaria típica do Nordeste Brasileiro), o cuscuz, pirões de peixe. Fazem a galinhada, um prato típico da roça. Trabalham na pesca e no cultivo de ostras e mariscos.  Consideram a influência das luas e das marés no uso dos recursos naturais.

“Em casa, minha mãe secava peixe no varal e preparava cozidos com banana verde para alimentar a família. Frutos do mar e taioba, verdura de folhas verde-escuras, estavam sempre presentes. Foi com essa comida que eu cresci. Com pratos de uma cozinha rústica, de técnicas culinárias simples e ingredientes locais, que a gente conhece como cozinha caiçara.”, relata Eudes Assis, chef, fala sobre a cozinha caiçara.

A receita mais característica é o peixe azul-marinho com banana verde, não madura. Depois de cozido e somente na panela de ferro, fica com um tom azulado, bem típico. Aproveitando o caldo, faz-se um pirão com farinha de mandioca. Outros pratos típicos que se come nesta região é o arroz lambe-lambe, um arroz que leva mariscos inteiros; bolinho frito de taioba, que descendem da culinária indígena, africana, portuguesa e espanhola; a casquinha de caranguejo; a lula recheada. Tem ainda a paçoca de banana, banana ouro ou da terra verde, cozida e amassada com toucinho frito e a tainha na brasa

Um prato muito apreciado que é o peixe na areia, peixe inteiro temperado com alho, limão, cheiro verde e sal, embrulhado na folha de bananeira. Enterra-se o peixe na areia da praia a vinte centímetros da superfície, acendendo uma fogueira por cima e, esperando assar por uma hora. 



Para os doces, s caiçaras oferecem o manuê de bacia, bolo feito de melado de cana; o massa pão, um pequeno bolo que é servido com canela e açúcar; o pé e moleque feito com gengibre e melado, cortado como cocada. 

Paras as bebidas encontramos o café com caldo de cana, onde se passa o caldo de cana fervido, misturado com um pouco de água, num coador com pó de café, são bem tradicionais também. Mas as mais tradicionais são as pingas. Na cidade de Ubatuba, no estado de São Paulo, encontra-se perdida nas festas tradicionais a “concertada”, de sabor mais suave que a cachaça, é uma bebida criada na cidade de Ubatuba para que as mulheres pudessem tomar e acompanhar seus maridos que, quando voltavam da pesca “matavam o bicho” o que significa tomar a pinga.



Cidades como Cananéia e São Sebastião, comemora-se o dia do caiçara no dia 15 de março, em homenagem ao Fandango Caiçara, considerado patrimônio cultural imaterial brasileiro, pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional.

Nasci à beira-mar, unindo os meus vagidos
Ao clamor das marés, nos dias de tormenta,
E adormecendo a ouvir os soluços perdidos
Das ondas mansas – voz que enternece e acalenta…

Rústica habitação, tive por agasalho;
Piso de chão batido e paredes barreadas,
Casa de pescador, sem forro, nem soalho,
Oculta entre o verdor de palmas e ramadas

Pobre, porém feliz, à sombra de meu teto
Muitos anos vivi, sempre ao meu lado tendo
Nos conselhos de um pai o dedicado afeto,
E um coração de mãe meu conforto tecendo!

O mar era-nos esplêndido celeiro
Que a provisão do lar, generoso, ajudava
Farta contribuição nos dando o ano inteiro,
Pródigo como quem não media o que dava!”

José Bento de Oliveira

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Lu Paternostro
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Ilustração “A Baiana do Acarajé”. Tipos Tradicionais Brasileiros. Série Traços do Brasil.

Ilustração "O Baiana do Acarajé", da série "Tipos Tradicionais Brasileiros"
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“… Dez horas da noite,
na rua deserta
A preta mercando
parece um lamento (…)

Na sua gamela
tem molho cheiroso
Pimenta da costa, tem acarajé
Hum, hum, hum
Hum, hum, hum
Ô, acarajé eco
Ô lá lá iê ô
Vem benzer, hem
Tá quentinho

Todo mundo gosta de acarajé
O trabalho que dá pra fazer
é que é …”

A preta do acarajé
Dorival Caymmi

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Baiana do Acarajé

A Baiana do Acarajé hoje, no Brasil, é um bem cultural de natureza imaterial, inscrito no Livro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e artístico Nacional, em 2005. Vai desde a produção até a venda, sempre em tabuleiros onde são expostas as chamadas comidas de baiana, geralmente feitas com azeite de dendê, ligadas ao culto dos orixás do Candomblé. Uma personagem típica da cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, em praças, ruas, feiras e outras celebrações que marcam a cultura da cidade.  

A culinária baiana é uma culinária forte e um tanto quanto exótica por conta da mistura. Ela recebe a influência do índio, do português e do negro da África. A junção deu para o povo baiano firmeza, força e sabedoria.



Dentre os quitutes da baiana o mais conhecido é o Acarajé, um bolinho feito de feijão fradinho, moído no pilão de pedra, a chamada pedra de acarajé, preparado de uma maneira artesanal. É uma comida sagrada e de ritual, oferecida a Iansã, deusa do vento, orixá da tempestade. Ela equilibra o mundo em cima do vento. Se numa casa tem devoção à Iansã, tem acarajé. Única festa que não leva o acarajé é a de culto a Oxalá.

Acarajé é uma palavra da língua ioruba que significa “acará”, ou bola de fogo, e “jé”, comer, ou seja, “comer bola de fogo”. Sua origem é explicada por um mito sobre a relação de Xangô com suas esposas, Oxum e Iansã. O bolinho se tornou, assim, uma oferenda a esses orixás.

A origem da receita do Acarajé está em Benin, cidade localizada na África Ocidental, trazida para o Brasil, pelos escravos.  Antigamente o acarajé era feito pelas filhas de santo. As filhas de Iansã tinham um grande papel que era, depois de estar na obrigação de orixá, no final da tarde – o sol teria de estar “frio” – vender o acarajé com pimenta. Por isso, o fazer do acarajé está todo envolto em tradições. Tem de ser feito com carinho, com amor. Aí sai um bom acarajé.

E a devoção ao Orixá, exige sacrifício. Moer o feijão na pedra é um ato de quebrar, desfazer. O ato de passar uma pedra no pilão de pedra moendo o grão, o movimento, dá um molejo para quem dança o Candomblé. Por tradição, as baianas acreditam que o acarajé mais gostoso e especial é aquele moído na pedra. A massa fica fofa e cresce. Enquanto se moi o feijão, se canta para o orixá. Para não ter tanto trabalho, muitas baianas, hoje em dia, utilizam o moinho, o liquidificador ou já compram o feijão quebrado e moído para fazer o acarajé.

A cebola é o fermento do acarajé. Com ela o acarajé cresce, adquire sabor. A cebola também é ralada na pedra.

O acarajé é frito no azeite de dendê, outro ingrediente importantíssimo na tradição. Acredita-se que o azeite de dendê, de vermelho forte, é a força da natureza, que gera energia. É o sabor, a vida. Ele enfeitiça a casa com seu cheiro. O azeite é retirado dos frutos do dendezeiro na raça, do trabalho no pilão. Leva a força do negro. Sem o dendê, não se está fazendo o Acarajé. Nos mercados dos grandes centros é comum encontrar o dendê misturado com óleo de oliva, não tão puro.  


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O molho que se colocava sobre o bolinho frito era escuro, forte e apimentado. Antigamente não se usava o vatapá, o caruru e camarão seco como recheio. Era somente o acarajé e o molho de comer. Também era miudinho, não grande como é hoje.

Antigamente as baianas levavam o acarajé pronto, em tabuleiros na cabeça, um habito típico do africano. Desta forma as mãos ficam livres para negociar, levar as mercadorias, conduzir as crianças e servir. Este costume de apresentar os quitutes no tabuleiro, onde se reúnem várias comidas, com o abará, a passarinha ou baço bovino frito, os mingaus, o bolinho estudante, as cocadas, pé de moleque e outros, remonta de um fenômeno mais recente.

A banca, o tabuleiro, onde se apresentam os quitutes, se organizou mesmo depois da segunda guerra mundial, com a cultura do sanduiche. Esta cultura tornou o acarajé um tipo de sanduiche que, maior, lembra um pão de hambúrguer. Tem gente que o chama de sanduiche nagô, perdendo assim as características típicas de sua origem e tradição.


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O traje da baiana vem do Candomblé, vem da África e tudo é cheio de significados. A cor é o branco, utilizado nos trajes de festa e de luto nos terreiros de Candomblé. O pano de cabeça, o turbante afro-brasileiro ou o ojá, é de influência afro-islâmica e tinha a função de proteger a cabeça do sol dos desertos ou de outras áreas tórridas do continente africano. Pode ser tecido em diferentes formatos, texturas e pode ser disposto de formas diferentes, conforme intenção social, religiosa, étnica, entre outras.

A cor branca é a cor da pureza, da paz. O camisu é feito com bordado rechilieu; a anágua, rigorosamente engomadas, armam a saia deixando a saia da baiana rodada. Diz a tradição que são necessárias sete anáguas. Sobre a anágua uma saia, a bata. Quanto ao pano da costa, se diz que quando a baiana tem 7 anos de santo de obrigação, ela tem de usar amarrado na cintura, sobre a saia. Antes deste período se usa o pano da costa no peito. Também com o nome de pano-de-alaká pode ser feito em tecido de tear manual, de visual semelhante ao das peças da África.

Os fios-de-contas, chamados de ilequê pelo povo de santo, especialmente os dos terreiros de candomblé Kêtu-Nagô, são distintivos de usos feminino e masculino, embora sua maior expressão e força estética estejam no domínio da mulher. Acrescenta-se aos fios-de contas uma infinidade de objetos, como figas e balangandãs, que buscam reforçar os sentidos simbólicos das cores e também dos materiais empregados. Usam também, pulseiras.



Muitas festas estão ligadas às Baianas como a Festa do Largo, que passam a acontecer no espaço profanos das ruas. Constituem um espaço simbólico representado por um conjunto de práticas e rituais que, ao associarem santos católicos a orixás, relacionam o catolicismo oficial ao Candomblé. Podemos citar, em Salvador, capital do estado da Bahia, as festas de largo de Nossa Senhora da Conceição, de Santa Luzia, a Festa de Santa Bárbara no Mercado de Santa Bárbara a Baixa do Sapateiro, Senhor dos Navegantes, da Lapinha de Reis, do Bonfim, de São Lázaro, de Iemanjá e de Santa Bárbara, que será ressaltada em função de se tratar da padroeira das baianas de acarajé, santa católica ligada a Iansã.



 “Quando se faz uma matança, de algum animal, seja de pena ou não, seja qual animal for, qualquer orixá, ou para exu, se canta para tudo. Se canta para a faca que corta, para o azeite, para o vinho, se for para exu, canta para a cachaça, para o meu, se canta até para as penas, para o sangue, canta pra tudo. Tem a cantiga que canta para o azeite também… e assim sucessivamente” Pai Leopoldo (1944 a 2006)

O dia da baiana de acarajé é comemorado em 25 de novembro.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “Forró”. Manifestações da Cultura Tradicional Brasileira. Série Traços do Brasil.

Ilustração “Forró Universitário" da série “Manifestações da Cultura Brasileira. 
Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Forró Universitário” da série “Manifestações da Cultura Brasileira. 
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O candeeiro se apagou 
O sanfoneiro cochilou 
A sanfona não parou 
E o forró continuou 

Meu amor não vá simbora 
Não vá simbora 
Fique mais um bucadinho 
Um bucadinho 

Se você for seu nego chora 
Seu nego chora 
Vamos dançar mais um tiquinho 
Mais um tiquinho 

Quando eu entro numa farra 
Num quero sair mais não 
Vou inté quebrar a barra 
E pegar o sol com a mão

Forró no Escuro
Luiz Gonzaga

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Forró

No começo do século XIX, em Pernambuco, os bailes populares nordestinos eram conhecidos como “forrobodó” ou “forrobodança”, onde eram executados vários ritmos como o xote, o xaxado, o chamego, o baião, sempre dançado em pares, com muito remelexo. 

Segundo Câmara Cascudo, forró vem de “forrobodó”, uma palavra de origem banto, (uma etnia africana vinda ao brasil pelos escravos) que significa pé-de-valsa, gafieira, arrasta-pé, farra, confusão. Uma curiosidade: no idioma húngaro, Forró significa “Quente”.

De nome de baile, passou a tornar-se um gênero musical, difundindo-se pelo Brasil inteiro. O forró é uma das maiores manifestações musicais do Nordeste.  

Nos anos 1950, com a grande migração de nordestinos para o Sudeste e também para a construção de Brasília, os bailes de forró foram se espalhando pelo País a fora. Nesta época o cantor e compositor Luiz Gonzaga levou o forró do Nordeste para outras regiões do Brasil, popularizando o gênero musical, cantando a vida sofrida e pobre do Nordestino, as vezes em composições mais tristes, mas de forma geral suas músicas são alegres, divertidas, dançantes.

Nos anos de 1970, os bailes de forró tornaram-se uma espécie de resistência para a chamada música brasileira autêntica, recebendo grande afluência de estudantes universitários. Nesta época surgiram compositores e interpretes nordestinos que ficaram famosos, e que contribuíram para fazer com que o forró fosse amado e admirado pelos brasileiros. Dentre eles o próprio Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Elba Ramalho, Alceu Valença, Trio Nordestino, Jackson do Pandeiro.



Nos anos 1980, com o crescimento do rock brasileiro, o forró perde sua fama, mas volta “repaginado” no final dos anos 1990, fixando uma nova tendência, o chamado “Forró Universitário” ou “Forró-Pé-de-Serra”, onde foram inseridos novos instrumentos como o teclado elétrico e a guitarra e novas coreografias, mais complicadas

Essa mudança abriu passagem para entrar em cena grupos tradicionais de forró, reinserindo o gênero musical no gosto do brasileiro. Hoje o ritmo é cultuado nas cidades nordestinas como Recife, Caruaru e Campina Grande.

Tradicionalmente o forró era tocado por trios composto por sanfoneiro, zabumbeiro, que toca a zabumba, instrumento de percussão em formato cilíndrico, com membranas dos dois lados, tocado normalmente na vertical ou inclinado, pendurado por uma alça no ombro do tocador, e o triangueiro, ou o tocador de triângulo, um instrumento de metal em forma de um triangulo, também chamado de “tengo-lengo”, percutido por um pequeno pedaço de metal. Todos os instrumentos vêm da música tradicional portuguesa.  No forró-pé-de-serra já encontramos instrumentos eletrônicos como guitarra e o teclado.  

O forró nordestino ou “tradicional”, é diferente do forró-pé-de-serra na forma de se dançar também. No nordestino há mais malícia, sensualidade e envolvimento entre os parceiros. No universitário são feitas revoluções coreográficas mais complexas. A dança é feita em pares, onde o homem e mulher se movimentam agarradinhos, sendo alguns movimentos separados, sempre com muita ginga e molejo.


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Cidades brasileiras que por tradição dançam e difundem o forró: Caruaru (PE), Caicó (RN), Fortaleza (CE), Quixeramobim (CE), Capela (SE), Aracaju (SE), Gravatá (PE), Mossoró (RN), Juazeiro do Norte (CE), João Pessoa (PB) Natal (RN), Maceió (AL), Recife (PE), São Luis (MA), Terezina (PI). Nestas cidades, por ocasião das festas juninas, são promovidas grandes festas como o Forricó, na cidade de Icó (CE), Igatu Festeiro na cidade de Igatu (CE), Expocrato na cidade de Crato (CE), a Vaquejada de Itapebuçu (CE), que é uma das maiores festas do Brasil.

Em Campina Grande (PB) acontece o maior São João do Mundo onde, durante um mês, verdadeiros espetáculos pirotécnicos de quadrilhas hiper coloridas e dançantes majestosamente paramentados, atraem o olhar de pessoas do planeta todo.

Embora típico das festas juninas, o forró acontece por todo o Brasil, por todo o ano.

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Por Lu Paternostro
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Ilustração “Ticumbi”. Manifestações da Cultura Tradicional Brasileira. Série Traços do Brasil.

Ilustração "Ticumbi", da série "Manifestações da Cultura Brasileira. 
 Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Ilustração “Ticumbi”, da série “Manifestações da Cultura Brasileira.
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Entre serra e mar,
Das tardes num rio a se banhar,
Os pensamentos vagueiam num dourado céu de acolá.
Vales e montanhas, verde e azul de uma terra ao léu…
Dorme um sonho de quem acredita naquele lugar.
Em roda da pedra ou na Barra
Um congo a cantarolar, a dançar…

Ticumbí nas dunas,
Jongo e Folia vêm lá.
Gente que planta a semente,
Sopro de vida de um ser maior…
Cala a palavra e o que fala é a vida ao luar
Em roda da pedra…
Entre serra e mar…

Mar e Montanha
Grupo Moxuara

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Ticumbi

O ticumbi é um baile de congos, típico do norte do Estado do Espírito Santo, encontrado no Vale do Cricaré, região entre as cidades de Conceição da Barra e São Mateus. Trata-se de um folguedo tradicional que acontece no começo do ano, encenado para homenagear São Benedito, padroeiro dos negros, pobres e oprimidos, e São Sebastião.

A procissão leva a imagem de São Benedito do Córrego das Piabas, no distrito de Meleiras até a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, no centro da cidade, onde os membros do Ticumbi se apresentam, iniciando o primeiro mês do ano. A festa continua no Baile de São Benedito e São Sebastião, na segunda semana de janeiro. 

Trata-se de uma dança coreografada, com enredo onde, conta a história, que o “Rei de Congo”, cristão, queria fazer a festa de São Benedito sozinho, separado do “Rei de Bamba”, pagão. Como não há acordo entre as duas nações, a guerra é travada e seus secretários se desafiam fazendo embaixadas, em coreografias agitadas, na forma de uma luta bailada. Essa guerra inicial é denominada “primeira guerra de reis congo” ou “guerra sem travá”. Quando os reis entram para guerrear, realiza-se a “guerra travada”, onde os reis batem as espadas junto com seus secretários.

Os personagens que fazem parte do folguedo são o Rei de Congo, os Rei de Bamba, seus secretários próprios, e o corpo de dança de cada nação, composto por dois guias, dois contra guias e um número de congos que pode variar, representando os guerreiros das duas nações. Há ainda o violeiro, que participa das encenações.



O Ticumbi tem uma característica própria muito interessante: cada ano os versos são alterados para contar algum fato novo que aconteceu ou alguma história local, nacional ou internacional, que acaba marcando a história da cidade. São cantados na praça, um local público.

Suas vestimentas são bem característica, formadas por longas batas brancas rendadas, calça branca larga com um friso de fita ao lado das pernas, duas fitas trançadas no peito, espadas e na cabeça um chapéu cheio de flores com fitas longas, tudo muito colorido. Os reis aparecem com coroas de papelão, enfeitadas com papel dourado ou prateado, peitoral de espelhinhos e flores de papel, uma capa comprida e, nas mãos ou na cintura, uma longa espada.

Os instrumentos que fazem o ritmo são os pandeiros e os “Ganzás” ou “Canzás”, chocalhos feitos de latas. A viola entra junto com os participantes sendo a vestimenta do violeiro bem parecida com a dos dançantes.

A encenação acontece na frente da igreja de Itaúnas.

A vila de Itaúnas, distrito de Conceição da Barra, localiza-se no extremo norte do estado do Espirito Santo, pertinho da divisa com o estado da Bahia. É um vilarejo simpático, rustico e bucólico, de terra batida, onde vive um pouco mais de 2.000 pessoas.

Na vila reinam a diversidade de manifestações de cultura tradicional que vão das danças e folguedos, até ritmos, formas de fazer objetos utilitários, barcos, artesanato, gastronomia.

A vila antiga, sumiu sob as areias que foram se instalando aos poucos, num processo longo mas constate. A igreja e o cemitério sumiram em primeiro lugar. Mas, por amor de seu povo, ela foi sendo reconstruída, aos pouquinhos, buscando-se a semelhança com a anterior, mas atravessando lentamente o rio Itaúnas, indo parar na sua margem oposta.


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No começo de todos os anos, os moradores comemoram o dia de São Benedito e São Sebastião, presentes também no calendário anual de Conceição da Barra e do estado do Espírito Santo. Nos meses de outubro e novembro, começam os ensaios dos grupos de ticumbi nas roças, para a encenação em homenagem a São Benedito.

O ticumbi, encenado nas homenagens aos santos, é um registro vivo das histórias contadas pelos seus moradores antigos. Na forma da dança e das letras estas historias passam de pai para filho.

“De acordo com alguns relatos, o ticumbi é criação de Silvestre Nagô, negro escravo que, para animar seus pares, inventou os folguedos, rapidamente transformados em modo de lembrar e reviver o passado, fortalecer laços e identidades, manter e reconstruir memórias e de mobilização da própria comunidade que o produzia. ” (ALVARENGA, 2011)

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Por Lu Paternostro
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