Eu quero me trepar no pé de coco Eu quero me trepar pra tirar coco
Depois eu quero quebrar o coco Pra saber se o coco é oco Pra saber se o coco é oco
Tem gente dizendo que eu sou louco Que eu só falo em tirar coco
Realmente eu quero tirar o coco Pra depois quebrar o coco Pra saber se o coco é oco
Realmente eu quero tirar o coco Pra depois quebrar o coco Pra saber se o coco é oco.
Pra Tirar Coco Messias Holanda/ Hamilton Oliveira
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O Catador de Coco
É um tipo
brasileiro, característico do Nordeste, devido aos extensos coqueirais.
Trata-se de um
homem que, para pegar o coco, sobre bem alto nos coqueiros, utilizando uma
forma típica de amarrar as cordas e ir subindo. Leva um facão afiado nas mãos
ou uma foice. As vezes sobem utilizando somente os pés e as mãos, desprovidos
de qualquer instrumento.
Para ver como vão
longe, os coqueiros podem chegar a 30 metros de altura. Suas folhas podem
atingir até 3 metros de comprimento. Pode viver até 150 anos quando chega a ter
35 metros de altura.
Os cocos são os
frutos do coqueiro e se desenvolvem o ano todo, porém mais intensamente no
final do inverno e início do verão. Pode-se chamar o coco de coco-da-praia,
coco-da-índia, coco-da-baía.
Não se sabe bem a
origem do coqueiro. O que é conhecido é que o coco-da-baía (cocos Nucifera), chegou na Bahia em 1553
com os portugueses que vinham das Ilhas de Cabo Verde. Da Bahia o coco
espalhou-se por todo o litoral brasileiro, sendo suas sementes levadas pelo
mar.
Conta-se que os
índios que aqui habitavam, utilizavam a água do coco e a polpa fininha que o
coco verde tem. Somente com a chegada dos negros escravos vindos de Moçambique,
na África, aprenderam a fazer e tomar o leite de coco, muito utilizado na
cozinha afro brasileira.
O fato é que do
coco, nada se perde!
O leite de coco,
feito da moagem da poupa do coco maduro, é usado na Moqueca Baiana; no Vatapá; no
Caruru de Folha; no Xinxim de Galinha; no Arroz de Hauça; no Quindim; no Cuscuz
de Tapioca; na Baba de Moça; no Mingau de Milho ou Tapioca; na Canjica; no Mungunzá;
em Bolos e muitas outras receitas da culinária brasileira.
Além do leite de
coco, tomamos a água de coco quando verde. Rica em sais minerais, é tomada em
todo o litoral e cidades brasileiras.
Como os coqueiros
da Bahia são muito altos, a coleta dos cocos é dificultosa e arriscada. Muitas
plantações usa-se o coqueiro anão, vindo da Indonésia, que não chega a alcançar
10 metros. Mas os coqueiros naturais, são muito altos.
Usa-se uma
“peia”, uma peça feita de tiras de couro que ele usa para envolver o tronco
criando, assim, um suporte para ele ir ao topo do coqueiro. Ele abraça o
coqueiro com uma alça da peia, sobe um pouco, abraça com a outra alça e sobe
outro tanto, e assim vai, como se ele fosse subindo em degraus.
Os cocos são
retirados verdes e conforme o tempo passa, sua água vai secando, dando lugar a
uma polpa grossa, branca e gordurosa. Essa polpa é comestível e é com ela que
se faz o coco ralado que, assim como o leite de coco, é utilizado em inúmeras
receitas como o cuscuz doce de tapioca; as cocadas baianas; a bala de coco
baiana; a cocada de tabuleiro da Bahia; o beijinho; o beiju e tantas outras
delicias de nossa culinária.
Além disso, do
bagaço do coco, junto com toda a sua polpa, acrescido de outras matérias
orgânicas, produz-se o óleo de coco, o sabão de coco, velas e a manteiga de
coco. Da fibra de coco se fabrica capachos, broxas, redes, esteiras, artesanato.
O coco é um
alimento natural muito rico e que alimenta grande parte das comunidades
litorâneas.
O coco está
presente no mundo todo e formas tradicionais diversas de apanhá-lo, vão sendo
descobertas conforme vamos pesquisando. Na índia, por exemplo, os catadores sobem
nos altos coqueiros apenas com uma cinta feita de fibra, onde são encaixados as
mãos e os pés. A fita prende as mãos e os pés do catador no tronco. A sua
habilidade é soltar as mãos, encaixando-as mais acima do coqueiro e,
posteriormente, soltar os pés, afrouxando-os, para leva-los acima, juntos e
neste movimento ele vai subindo de forma ágil e rápida.
O buriti é outra espécie de palmeira, onde os catadores precisam ter muita habilidade para subir. No estado do Maranhão, os catadores utilizam uma espécie de andaime, feitos com paus e cordas. Não há equipamentos de segurança algum e a escalada é bastante alta, chegando a 16 metros. Aprendem o oficio desde crianças, com seus pais.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “O Gaúcho”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros” Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Brotei de um tempo onde
a pátria axucrada
Trouxe entonada na pua o timbre de galo
E à picumã eu retovei este galpão
Do coração pra ser portal de algum regalo
Minha raiz traduz na sua
própria estampa
Toda esta pampa que o gaúcho idolatra
Com meus pesuelos trago a saudade gaviona
Que repechona vem tropeando a culatra
(Dentro do peito
corcoveia uma doutrina
Estirpe e sina palanqueando a tradição
Sou como o rio, que vai legando mil caminhos
Tirando espinhos em cada aperto de mão)
De onde vim eu trouxe
herança galponeira
Velha bandeira de um atavismo curtido
Mesclando campo com o sabor desta querência
Reminiscência do meu pago mais querido
Os horizontes que eu repontei a cavalo Mastigam pealos deste amor que retempera Não tem um quera que more aqui no Rio Grande Que o seu sangue não valha a sua terra
Doutrina de Gaúcho Os Serranos
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Gaúchos
Gaúcho é uma denominação dada aos vaqueiros das regiões dos pampas da
Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai e Brasil. As características típicas do
seu modo de vida no campo, fizeram com que o gaúcho tivesse uma cultura própria
sua, derivada do amálgama da cultura ibérica, principalmente espanhóis, e
indígena. Usa-se, também, o termo para identificar os habitantes nascidos no
estado Rio Grande do Sul.
Pelo seu modo de
ser, falar e se vestir, o gaúcho forma um tipo folclórico que sintetiza um
conjunto de tradições. Por exemplo, sua maneira tradicional de se vestir é
bastante característica.
Grande parte da população gaúcha rural usa as
vestimentas tradicionais por serem adaptadas à vida campeira. Os avios do
chimarrão ou os apetrechos usados para a preparação e consumo da erva-mate, os
utensílios de encilha tradicionais para o cavalo, incluindo as esporas do
cavaleiro, junto com as vestimentas, fazem a definição de pilcha, o Gaúcho Pilchado,
montado com sua vestimenta típica.
Usam roupas de origem indígena como o poncho ou capa
campeira, vestimenta tradicional da América do Sul, usado para protege-los do
frio e do vento, usado sobre a vestimenta do dia a dia, normalmente feitos em
teares utilizando a lá da ovelha como matéria prima; o lenço colorado; a pala, também um tipo de poncho, de lá ou
de seda, utilizado para climas mais amenos; o chiripá, tecido que é
colocado em volta da cintura, formando um avental com uma amarração muito
bonita, hoje em dia usado
pelos grupos folclóricos de danças típicas; a guaiaca, termo de origem aimará (wayaqa), uma cinturão com bolsas, feitos de couro, propicio para guardar pequenos
objetos, como moedas, palhas e fumo e,
mais tarde, cédulas de dinheiro, relógio e até pistola.
Ainda em suas vestimentas típicas, porém com influência
europeia, encontramos a camisa de tecido; o
colete; a blusa campeira; o chapéu de copa baixa e abas largas; o lenço do pescoço atado por um nó
que pode ser feito de oito maneiras diferentes, sendo as cores branco e
vermelho as mais tradicionais; a bota
campeira e a bombacha.
A bombacha são as calças típicas usadas pelos gaúchos, largas em cima e abotoadas no
tornozelo. O nome foi adotado do termo espanhol “bombacho”, que significa
“calças largas” e pode ser feita de brim, linho, tergal, algodão ou de outros tecidos, em padrão liso,
listrado ou xadrez discreto. A bombacha é muito utilizada nas regiões da
campanha, da fronteira oeste e dos campos
de cima da serra. Porém, nas cidades maiores, ainda é possível perceber alguns
gaúchos pilchados ou montados com suas vestimentas típicas, gaúchos que
participam de grupos tradicionalistas ou simples mantenedores da cultura
tradicional.
A vestimenta feminina segue regras bem definidas pela
tradição gaúcha para seu uso. A prenda ou a mulher gaúcha, usa um vestido de uma peça inteira ou em duas
peças, saia e blusa, com ou sem um casaquinho, que pode ser usado pelas prendas
adultas e senhoras. As saias podem ser variadas, porém o comprimento delas não
ultrapassa o peito do pé. Suas vestimentas não podem ser pretas (luto) ou
brancas (noivas e debutantes), nem conter as cores da bandeira do estado do Rio
Grande do Sul. Devem ser discretas e simples, não podendo ser decotadas, expor
os ombros ou os seios. Podem apresentar enfeites de diversos tipos. A mangas não
podem ser bufantes e podem ser compridas ou até os cotovelos. Usa-se meias que
devem ser longas, brancas ou beges para as moças e as senhoras, e de
tonalidades escuras paras as mulheres idosas. Os sapatos podem ser pretos,
brancos ou beges e o salto 5 ou meio salto, com uma tira sobre o peito do pé e
que abotoe do lado de fora. Cabelo semi-presos, presos ou em trança, com algum
enfeito de flores bem discreto se a pessoa quiser.
O chimarrão ou mate, bebida característica do sul do
país, tomado em uma cuia feita de porongo, é amplamente consumido pelos gaúchos
em todas as estações do ano. Nos dias mais frios, não raro, se vê uma variedade
chamada “mate doce”, onde se usa mel e cascas de bergamota,
geralmente, para temperar o mate.
O fogo de chão é uma tradição entre os gaúchos, que se reúnem
e se aquecem em volta de fogueiras feitas no chão, passando o chimarrão de mão
em mão e contando suas histórias.
Na cidade de São Sepé, no estado do Rio Grande do Sul, está
localizada a fazenda Boqueirão onde a família mantém, desde o início do século
XIX, há 200 anos, um fogo de chão aceso, alimentado por toras de madeira de lei
chamadas guarda-fogo. A fazenda é um centro de romarias nativistas e tradicionalistas
que cultuam este fogo, que nunca se apaga.
Na culinária gaúcha, curiosamente, não existe relação
com a culinária de origem portuguesa, indígena ou castelhana. O forte vento
minuano que atravessa o estado do Rio Grande do Sul no inverno, chega ser tão
forte, que congela os pampas. Por conta do clima, a alimentação tradicional é
repleta de carnes gordas, sopas quentes que dão mais alegria para enfrentar o
frio. O churrasco e o arroz “carreteiro” são os pratos mais típicos do gaúcho.
Fazem parte da culinária rio-grandense o feijão mexido, feijão misturado
com farinha de mandioca; o quibebe, purê de abóbora moranga; a “roupa
velha”, prato feito com sobras de carnes e ovos mexidos; o feijão
campeiro; o charque com mandioca; a paçoca de pinhão com carne assada; a couve
refogada; o arroz com galinha; o “puchero”, um cozido de carne com
legumes e o peixe.
Dia 20 de setembro é comemorado o dia do Gaúcho. E durante todo o mês, os gaúchos comemoram a Semana Farroupilha, período em que a Província de São Pedro, atual estado do Rio Grande do Sul, declarou guerra contra o império por causa dos altos impostos cobrados pelo charque.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “Os Pantaneiros”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros” Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Meu coração pantaneiro
Onde pulsa a natureza
Sol nascente do desejo
Da paixão em correnteza
Comandante em meu cavalo
Nos caminhos boiadeiros
Navegante pelas águas
Desses rios canoeiros
Meu coração pantaneiro
Que o amor já fez morada
Dor de peão boiadeiro
Que procura sua amada
Uma garça majestosa
Flor campeira de mulher
Bate asas tão distante
Inda não sabe o que quer
Tuiuiú, ai tuiuiú
Voa, vai dizer a ela
Que a paixão é verdadeira
Diz que sou peão escravo
Dessa garça pantaneira
Tuiuiú, ai tuiuiú
Voa, vai dizer a ela
Que a paixão é verdadeira
Diz que sou peão escravo
Dessa garça pantaneira
E assim, eu vou levando
Essa dor apaixonada
Em coda ponto de estrela
Vejo o rosto dessa amada
Ponteando na viola
A esperança de um sinal
De poder em suas asas
Revoar o pantanal
Tuiuiú, ai tuiuiú Voa, vai dizer a ela Que a paixão é verdadeira Diz que sou peão escravo Dessa garça pantaneira
Coração Pantaneiro Sérgio Reis
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O Pantaneiro
O
Pantaneiro é o habitante tradicional da região do
ecossistema brasileiro chamado Pantanal. Muitos
os chamam de bugres.
As populações
tradicionais, entre elas os pantaneiros, foram reconhecidas pelo Decreto
Presidencial nº 6.040, assinado em 7 de fevereiro de 2007. Nele o governo
federal reconhece, pela primeira vez na história, a existência formal de todas
as chamadas populações tradicionais.
O
Pantanal é um mundo de águas, um paraíso grandioso. Em toda a sua área, um
pouco mais de 132 mil quilômetros quadrados de extensão, cabem quatro países
como a Holanda, Bélgica, Portugal e Israel.
O
Pantanal tem este nome quando da visita do Visconde de Taunay ao local, durante
a Guerra do Paraguai. Em seus livros descreveu essa imensa área alagada como
sendo um imenso pântano. Os pantaneiros vieram através do rio Tietê, Paraná e
Paraguai, desde o interior de São Paulo, em busca do ouro das minhas
localizadas na região de Cuiabá, no século XVIII. Também, os primeiros
criadores de gado que chegaram ao local, há mais de 250 anos, o chamaram de
pantanal. Quando esgotaram as minas, uns foram para outros garimpos e os
desiludidos com a atividade focaram para criar gado.
O
pantanal é uma planície, a maior, a mais rica e a mais bela extensão de área
alagada do planeta. Ele é dividido em 10 regiões diferentes, situados nos
estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, e em trechos da Bolívia
e do Paraguai.
O bioma
tem espécies de diferentes regiões com o mandacari da caatinga e o cambará da
Amazônia, que chegaram na região pelo vento. A paisagem muda conforme as águas
enchem ou abaixam. No Pantanal o homem convive com milhares de espécies da
fauna e da flora há muitos séculos. Há sítios arqueológicos ainda inexploráveis,
inscrições e desenhos em pedras. Restos de fogueiras e materiais em cerâmica
são objetos de estudo dos arqueólogos. Na região encontram-se 650 diferentes
espécies de aves, 262 de peixes, 1.100 de borboletas, 80 de mamíferos e 50 de
répteis e animais sob o risco de extinção, como onças-pintadas, jacarés,
veados, araras, quatis e outros. São mais de 1.700 diferentes espécies de
plantas.
O
pantanal é lugar de gente corajosa, que entende e acata com humildade os sinais
da natureza. O peão pantaneiro vive
nas condições oferecidas pela própria natureza, adaptando-se aos períodos das
chuvas, que alagam a região por longo tempo.
O
povo pantaneiro tem índio, espanhol, português, paraguaio, boliviano, árabes,
paulistas, mineiros e muitas outras descendências, mas tudo começou com os
índios.
Segundo
pesquisas arqueológicas feitas na região pantaneira, a ocupação humana do local
se deu há mais ou menos 8.500 anos. Grupos de nômades índios, migraram para a
região vindos do planalto central brasileiro, do charco paraguaio e da região
chiquitania da Bolívia.
Adaptaram-se
muito bem ao local e aqui viveram. Quando está seco, eles andam a cavalo o dia
todo. “Quando é na seca, nóis anda lá e não acha nem água pra bebê, mas quando
é nas água, é triste. O pantanal misterioso. Tem ano que enche muito, ano que
enche pouco..” depoimento de um velho pantaneiro.
As
decorações dos recipientes marcam a identidade do povo que há séculos estiveram
lá. No início do século 16 eram centenas de milhares de índios no local,
formando agrupamentos, as primeiras sociedades organizadas do pantanal. Hoje
são em muito poucos, aculturados, urbanizados. Doenças, principalmente as
trazidas pelos colonizadores, os trabalhos foçados e as guerras onde
participavam ativamente, provocou uma redução da população indígena.
Embora
reduzidas, muitas sociedades ainda preservam algum aspecto de suas culturas
tradicionais, como a tribo dos terenas. Lá as mulheres se dedicam ao trabalho
da casa e a produção de artesanatos em cerâmica e palha de taboca, uma espécie
de bambu, muito comum na região pantaneira. Já os homens cuidam de alimentar
suas famílias. São responsáveis pelas pequenas lavouras, pela pesca e caça. Estes
habitantes lutam para preservar suas tradições e história. Em Campo Grande,
capital do Mato Grosso do Sul, foi construída uma pequena vila para eles
morarem, com casas que se assemelham a ocas, porém em alvenaria. A conjunto se
chama Marsal de Souza, tem escola bilíngue e um memorial para preservar a
cultura indígena. São os homens também os principais atores de uma das mais
antigas manifestações culturais desta tribo indígena que existe até hoje: a
dança-do-bate-pau.
A
criação de gado no Pantanal se consolidou. O vaqueiro da região agora possui
traços inconfundíveis, um tipo brasileiro que já nasce sobre um cavalo, traz
nas expressões, na fala e nos hábitos alimentares todas estas culturas juntas.
O vaqueiro do pantanal parece ter sido forjado neste local.
Criou
suas próprias ferramentas com as matérias primas que tinha disponível, como o
couro. Pode-se encontrar artesanatos belíssimos feitos em couro, especialmente
para a montaria.
Sua
vestimenta se une à vestimenta do cavalo. O freio, o arreio, a sela, o estribo,
o laço, a baldrana, o pelego e ainda a calça de couro, a perneira, que vai
sobre a calça, para proteger o vaqueiro dos galhos das arvores secas e do
próprio pelo do cavalo.
Participam
das festas de laço, rodeios, rodas de tererê, bailões, regados a muita bebida. Tem
o chamamé, a polka paraguaia, a moda de viola e o vanerão. Toca-se o acordeom e
a viola.
Uma
nova cultura foi nascendo ao redor do vaqueiro do pantanal. Do português o
pantaneiro herdou as histórias para assustar as crianças. Dos índios, vem os
gritos e aboios, os traços fisionômicos, as novas comidas, o costume da sesta,
depois de comer. O gosto pela música veio dos paraguaios e bolivianos.
Sua
alimentação é baseada na farinha, carne, feijão, arroz e mandioca e em frutos,
raízes e legumes da região. Os peixes também integram a culinária, acompanhados
de arroz tropeiro, mandioca frita, e feijão e salada. Há ainda a paçoca, uma
farofa de carne-seca frita e moída no pilão com farinha; e o furrundu, um doce
feito de mamão verde e rapadura.
A cultura local e a natureza estão totalmente ameaçadas.
Temos o avanço agressivo da agricultura monoculturista do milho, soja e trigo,
que fez com que populações saíssem do lugar ou mesmo se acostumasse com um novo
estilo de vida, que foi se modificando nas próprias cidades. A falta de cultura
preservacionista deste agricultor contribuísse com este perigoso processo de
deterioração do meio ambiente. Com a divisão do Estado em 1971, o agronegócio e
os latifúndios entrarão com tudo na região. Aos poucos foram expulsando os
índios e os agricultores rurais de seus habitats.
Os
vaqueiros continuam com seu ritmo característico, com seus hábitos, seu
compromisso com a natureza, trabalhando nas fazendas, levando bois.
“O
homem do pantanal é uma continuação das águas. É um homem puro em todos os
sentidos e que tem uma vivencia muito diferente da do home de cidade. Ele tem
uma absoluta vivencia do pantanal e um absoluto respeito pela ecologia
pantaneira. O que nasceu lá, o pantaneiro, ele só caça para comer. Ele respeita
a natureza. Ele nasceu ali, gosta dali, tem um amor ali” Manoel de Barros
Viveram as belezas e adversidades da natureza, entre águas e seca, história presente nos sulcos de sua pele, escura, curtida, pantaneira. Guardiões da natureza viva do Pantanal.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “A Mulher Rendeira”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros” Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Olê muié rendera Olê muié rendá Tu me ensina a fazê renda Que eu te ensino a namorá
Lampião desceu a serra Deu um baile em Cajazeira Botou as moças donzelas Pra cantá muié rendera
As moças de Vila Bela Não têm mais ocupação Se que fica na janela Namorando Lampião
Mulher Rendeira Elba Ramalho De Zac do Norte, sobre motivo atribuído a Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião
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A Rendeira
A renda de bilro
vem de uma longa tradição, passada de mãe para filha. Chegaram no Brasil pelos portugueses do arquipélago de
Açores, em 1748. Ao virem para o Brasil os portugueses trouxeram a atividade da
renda para enfeitar trajes, toalhas, cortinas, lençóis e as peças de vestuário
da nobreza.
Característica de
Santa Catarina e Ceará, graças a maior concentração de açorianos, as rendeiras
executam os mais variados trabalhos em renda. As mulheres exercitavam a
criatividade inventando pontos como “maria morena” e “tramoia”, este
considerado típico da Ilha de Santa Catarina. Hoje a cidade de Florianópolis,
que reúne o maior número de rendeiras do sul do Brasil, se orgulha ter o bilro
como referência cultural associada ao município.
As rendeiras
trabalham tecendo suas rendas sobre uma almofada cilíndrica feita de pano
grosso, dura, recheada de ‘barba de velho’, capim de colchão, palha de
bananeira, serragem, ou, ainda, esponja sintética, também denominada de espuma,
misturada com estopa. Chama-se rebolo,
nome dado à mesma almofada em Portugal. O rebolo é posicionado sobre as cangalhas, um tipo de caixote desmontável,
em madeira, que segura a almofada. Sobre o rebolo é colocado o desenho, um
cartão de papel com desenhos perfurados chamado pique. Nestes furinhos, a
renderia espeta os alfinetes que seguram os fios. Pode-se usar também espinho
de laranjeira ou espeto de jurumbeva, palavra
tupi-guarani para designar espécie de cacto, também chamado de jurumbeba,
urumbeba, urubeba, entre outros. Os
fios são manipulados através dos bilros ou birros, pequenas peças de madeira esculpida,
que variam em formato e tamanho. Servem para enrolar a linha que a rendeira usa
para tecer, como carreteis.
Os bilros
são pequenas bobinas de madeira, geralmente preparadas e torneadas pelos
maridos ou por parentes das rendeiras. A madeira mais empregada para sua
confecção é a rabo de macaco (Melaxonylon brauba). Os bilros são manejados aos
pares pela rendeira, em movimento rotativo. A linha preferida das rendeiras é a de puro algodão, de
diversas espessuras. Empregam tipicamente as cores branca e bege, embora
encontremos linhas coloridas.
A rendeira mexe com os bilros aos pares, em movimentos muito
rápidos, quase imperceptíveis, executando os pontos no ar, prendendo-os, nas
suas extremidades, pelos alfinetes fincados no pique que está sobre a almofada.
Há vários tipos de trançados ou pontos.
A atividade exige
habilidade, concentração e calculo matemático.
A renda de bilro foi
a principal atividade exercida pelas mulheres de pescadores no século passado.
Por isso o ditado “onde há rede, há renda”. Sentadas em cadeiras embaixo da
sombra de grandes árvores, teciam as rendas, conversavam, cantavam, diziam
versos. A maioria não sabia ler ou escrever e algumas fumavam cachimbo. A
atividade da renda e do pescado eram responsáveis pelo sustento das comunidades
litorâneas de vários estados do Brasil. As rendeiras são mulheres carinhosas e
atenciosas, demonstrando o orgulho que têm por exercer uma atividade
tradicional.
Encontramos rendeiras o município de Raposa, uma das
maiores colônias de pescadores do estado do Maranhão, na ilha de São Luís. A
cidade vive da pesca e do artesanato da renda de bilro. As rendeiras chegaram
ao local na década de 1950 – 1960, vindos do município de Acaraú, estado do
Ceará. Na cidade até as crianças fazem a renda. As rendeiras utilizam os
espinhos de mandacaru no lugar dos alfinetes. O corredor das rendeiras é a via
principal para se conhecer o trabalho destas artesãs.
A tendência desse tipo de artesanato é desaparecer, pois
as novas gerações não estão tão interessadas em tecer e, compradores, em
comprar. A renda é uma profissão de fé e amor pelo ato de fazer. Infelizmente
está se perdendo a esperança de se viver da renda. Elas dizem que fazer a renda
é um bom antidepressivo para suas vidas.
“Se eu deixar de fazer renda, vou pegar uma depressão que
vou morrer, porque quando eu estou fazendo renda, escutando rádio, eu não estou
botando coisa ruim na minha cabeça. A doença mais triste do mundo é a
depressão”, afirma Dona Delgícia Amélia Góes, que vive na Costa da Lagoa,
região de rendeiras da cidade de Florianópolis, capital do estado de Santa
Catarina.
Em homenagem a esse fazer artesanal tão ligado à cena cotidiana, no calendário de Florianópolis, o dia 21 de outubro consta como o Dia Municipal da Rendeira, instituído pela Lei no 8030/2009.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “O Sanfoneiro”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros” Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
O candeeiro se apagou
O sanfoneiro cochilou
A sanfona não parou
E o forró continuou
Meu amor não vá simbora
Não vá simbora
Fique mais um bucadinho
Um bucadinho
Se você for seu nego chora
Seu nego chora
Vamos dançar mais um tiquinho
Mais um tiquinho
Quando eu entro numa farra
Num quero sair mais não
Vou inté quebrar a barra
E pegar o sol com a mão
Forró no Escuro Luiz Gonzaga
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Sanfoneiro
O sanfoneiro é uma figura típica,
um personagem que não pode faltar nas festas populares seja forrós, quadrilhas,
festas de imigrantes e tantas outras. O sanfoneiro toca o ano todo, em todo o
Brasil. Inúmeras canções populares cantam o sanfoneiro como a figura
responsável pela alegria e ritmo destas festas. Junto a ele, a sanfona foi ganhando espaço em todo o país,
“Acordeão” é a corruptela de
acordeom, e vêm do alemão “akkordium”, pelo francês
“accordéon”. “Sanfona” vem do grego
“symphonía”, pelo latim
“symphonia” e pelo latim vulgar “sumphonia”. Significam o mesmo
objeto, mas o nome sanfona é mais popular, pois já nasceu voltada para as
canções folclóricas, para atender à alma do povo.
Pode ser chamada de acordeão, fole ou
sanfona, o fato é que seu sucesso é garantido, crescendo a cada ano o gosto do
brasileiro pelo instrumento.
A sanfona é um instrumento musical tocado
no mundo todo, trazido para o Brasil através dos imigrantes italianos e
alemães. É formada pelo teclado, que pode representar até acordes mais
sofisticados; pelo fole, responsável pela passagem de ar que resulta na
liberação do som; pelas caixas harmônicas de madeira e pelos baixos, que são os
botões tocados pela mão esquerda e responsáveis pelas notas mais graves,
determinando o ritmo.
Uma sanfona pode pesar de 9 a 13 quilos
e ter cerca de 15.000 peças. Seu processo de produção é artesanal, por isso uma
sanfona pode chegar a valores bem altos.
Toca-se, também, a concertina, ou
acordeão diatônico. A concertina foi trazida pelos imigrantes alemães quando
estes vieram para o Brasil a procura de melhores condições de vida. Tocar a
concertina lhes proporcionava alegria e distração, pois viveram em péssimas
condições aqui, no início dessa nova morada. Foi sendo passada de pai para
filho até hoje, sendo um traço cultural muito forte dos descendentes dos
Alemães.
No estado do Espirito Santo, diversas
cidades promovem festivais de tocadores de concertina como Santa Maria do
Jetibá, Linhares, Santa Tereza, Colatina, Laranja da Terra, Itarana, Afonso
Claudio, dentre outras.
Os tocadores de sanfona ou sanfoneiros,
são amantes da arte de um instrumento considerado complexo. A relação que o sanfoneiro tem com sua
sanfona é praticamente simbiótica, como se um não vivesse sem o outro. Muitos aprenderam
sozinhos, sem professor, ouvindo e observando seus pais ou os tocadores das
festas populares. Pegaram a sanfona, se arriscaram a tocar e tocam muito bem, incentivados
pelo ritmo alegre que ela proporciona. É mais comum vermos homens tocando
sanfona, mas as mulheres sanfoneiras estão em franco crescimento aqui no país.
No Brasil muitos sanfoneiros foram
eternizados, como é o caso do consagrado Luiz Gonzaga, “O Rei do Baião”, Dominguinhos, Hermeto Pascoal, Sivuca, o Camarão, Caçulinha,
Renato Borghetti, Zé Calixto, músicos que levam a sanfona brasileira para
outros países.
A
riqueza de ritmos e expressões que a sanfona adquire pelo Brasil e pelo mundo é
impressionante!
A sanfona é um símbolo da cultura do
Nordeste, onde encontramos ilustres
sanfoneiros tocadores de xote, xaxado, baião e forró, forró-pé-serra e tantos
outros ritmos regionais. São tocadas nas festas juninas, as festas dos santos do
mês de junho, dando o ritmo para as quadrilhas, mas estão presentes mesmo não
jeito divertido e alegre de tocar do nordestino.
No
Brasil Central, encontramos a sanfona liderando os chamanés pantaneiros, os
arrasta-pé, os bailões e as canções do interior de Goiás.
A
sanfona adquire novos ritmos no estado do Rio Grande do Sul, como fandango, o
bugio, a milonga, o vanerão, a polca gaúcha e inúmeros outros!
Existem
algumas fabricas de sanfona no Brasil: em Araraquara e Jaú, no estado de São
Paulo; na cidade de Campina Grande no estado da Paraíba; em Iúna, no estado do
Espirito Santo e Porto Alegre no estado do Rio Grande do Sul.
São Pedro do Itabapoana, localizado na cidade de Mimoso
do Sul, no estado do Espirito Santo, tornou-se uma referência nacional na
música de raiz, promovendo há mais de 16 anos o Festival de Inverno Sanfona e
Viola. Na cidade acontece também o encontro de violeiros e sanfoneiros de
Folias de Reis. No local pode-se conhecer o Núcleo de Formação em Sanfona e
Viola. Para saber, São Pedro do Itabapoana é um sítio histórico com 41 imóveis
residenciais, tombados pelo Conselho Estadual de Cultura em 1987.
Já no estado da Paraíba, existe uma
rica diversidade desses músicos, seja nas bandas de forró, em carreira solo,
nas orquestras ou nas palhoças, espalhados por toda a região.
Inicialmente sendo inserida no baião,
que até então era tocado apenas com o violão, a sanfona passa a reconfigurar e
criar ritmos, tornando-se popular e representando, através da sua musicalidade,
diversos momentos tradicionais da história.
Embora não exista ainda no Brasil um dia que homenageie o sanfoneiro, este personagem continua fazendo a alegria sem fim do povo brasileiro, em todos os cantos de todo o país.
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Por Lu Paternostro NOTA LEGAL: Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização expressa dos autores
Ilustração “O Seringueiro”, da série “Tipos Tradicionais Brasileiros” Copyright Lu Paternostro. Proibida cópia, uso ou reprodução desta imagem sem a autorização da artista.
Chico
Onde houver uma vida
Sua voz será ouvida
Como força de oração
Do amor pela terra
Que não se encerra num coração
Sou mais um nessa guerra
Quebrando a serra da devastação
Me abraço à natureza
E a Deus peço axé
Em louvor a Chico Mendes
Sua luta, sua fé
Homem simples, seringueiro
Um valente brasileiro
Homem simples seringueiro
Um valente brasileiro
Que ao mundo fez seu manifesto
Um protesto à crueldade e à tirania
Das derrubadas, das queimadas
É a Amazônia em agonia
E hoje chora a saudade
De Nova York a Xapuri ô ô
Do Oiapoque ao Chuí, xi!
Será que as coisas mudam por aqui?
Na Amazônia
A Amazônia tá virando zona de liquidação
Sem cerimônia, matam e metem a mão
Na Amazônia
A Amazônia tá virando zona de liquidação
Sem cerimônia, matam sem perdão
Um líder, Chico
Onde houver uma vida
Sua voz será ouvida
Como força de oração
Do amor pela terra
Que não se encerra num coração
Sou mais um nessa guerra
Quebrando a serra da devastação
Ah, meu verde Meu verde não é rabo de foguete Vai tacar fogo no cacete Ah, meu verde Meu verde não é rabo de foguete Vai tacar fogo no cacete
Louvor a Chico Mendes De Almir De Araújo / Marquinho Lessa
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Seringueiro
O seringueiro é o personagem
característico da região Norte e Centro Oeste do Brasil, responsável pelo
oficio de coleta do látex da árvore da seringueira (Hevea brasiliensis) e a preparação das pelas para venda. O látex é a
matéria prima da borracha.
O Ciclo da Borracha foi um momento
importante na economia do Brasil. Teve o seu centro de desenvolvimento na
região Amazônica. A borracha era chamada de ouro negro e foi responsável pelo
crescimento de cidades como Manaus, capital do estado do Amazonas, Porto Velho,
capital do estado de Rondônia e Belém capital do estado do Pará. Uma das
expressões da riqueza da borracha, na época, é o Teatro Amazonas, em 1896. Rico
e suntuoso, o calçamento do seu entorno foi coberto com a borracha, para que as
carruagens que por ali passassem, não perturbassem os espetáculos. O ciclo da
borracha viveu seu auge entre 1879 e 1912, tendo experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945, durante a II Guerra
Mundial, que foi de 1939-1945.
O látex é recolhido das árvores
através de incisões feitas nos caules, em cortes feitos em forma de espinha de
peixe. No final do sulco central, um pequeno baldinho coletor de metal, ou uma
cuia de cabaça, é posicionado para recolher o látex. Esta etapa tem o nome de
sangria do látex. Cada árvore produz uma média de doze litros por ano, ou um
litro por mês. As seringueiras vivem até cinquenta anos, mas produzem o látex
somente a partir dos sete anos.
O látex é uma secreção geralmente esbranquiçada,
produzida por algumas plantas como a papoula, a seringueira, o mamoeiro e o
caucho (Castiloa ulei), produz um
tipo de látex que coagula muito rápido exigindo, para sua retirada, outro tipo
de processo, diferente do descrito abaixo. O látex é uma reação ao ferimento
provocado à planta, um processo químico com o objetivo de cicatrização.
A vida dos seringueiros artesanais requer
uma rotina dura, ligada às necessidades da natureza: todos os dias acordam
cedo, caminham longe pelas estradas das reservas, colocando as tigelinhas nas
árvores para coletar o látex. Depois de umas cinco horas, passam retirando o
látex e colocando em algum recipiente maior. Com este material, dirigem-se até
o tapiri, um local coberto com folhas de sapé, onde localiza-se o forno para
fazer a defumação do látex.
O fogo é feito em baixo da terra.
Na altura do chão há um forno de barro, em formato de um cone, com um buraco em
cima, por onde sai a fumaça que vai defumar o látex e formar a pela. Usa-se o
coco de babaçu para a melhor queima. A pela é uma bola de borracha, o material
que é vendido, podendo chegar a cinquenta quilos. Fica posicionada no meio de
uma vara de 1,50 m. Esta vara tem o nome de “cavador”.
O seringueiro posiciona uma pequena
bolinha de goma coagulada no centro do cavador, posiciona a bolinha sobre a
fumaça que sai do forno e começa a derramar o látex que acabou de coletar, sobre
ela. Conforme vai girando a bola, a peia, aos poucos ela vai crescendo com o
acumulo e a coagulação do látex. O trabalho é lento e que demora muitos dias.
O seringueiro fica no trabalho da
defumação, cerca de duas horas e, embora o ambiente seja aberto, a fumaça vai diretamente
para seus olhos e pulmões. Trata-se de um oficio desgastante, mas sustentável,
de muito pouco impacto para a natureza. Por isso o oficio do seringueiro
tradicional goza de muito valor e importância.
A borracha chamada “borracha em
bruto”, é deformável e passa por mais uma série de processos para adquirir
propriedades diversas como variação na elasticidade, na dureza, resistência e
outros, tornando-a um produto largamente usado na indústria.
Outro aspecto é que as comunidades
localizadas nos seringais e entorno, também se beneficiam do trabalho do
seringueiro.
Um exemplo são os sacos
encauchados, sacos de tecidos impermeabilizados com látex, decorados, utilizados
como malas para viagens e para carregamento de mercadorias pelos caboclos e
índios da selva.
O encauchado tem origem nos índios
da Amazônia e, mais antigos ainda, índios da Colômbia. Trata-se de uma técnica
de impermeabilização de tecidos utilizando-se o látex. Os sacos encauchados
eram utilizados também para o transporte do próprio látex, levado nas costas do
seringueiro.
A criatividade do povo da Amazônia,
ampliou a transformação do látex para a produção de objetos de decoração,
artesanato, utilitários, objetos de uso pessoal, tecidos ecológicos e couro
vegetal.
O mundo da economia criativa, seja
moda, movelaria, etc, exige que os produtos tenham cada vez mais criatividade,
qualidade e originalidade.
O couro vegetal da Amazônia é um
exemplo que atende a esta demanda.
O couro vegetal é um produto obtido
de um processo ecologicamente correto, originário de tradições dos índios e seringueiros:
eles banham tecidos de algodão com o látex, derramando-o cuidadosamente sobre o
tecido, estendido sobre um esquadro de madeira. Ao látex é acrescentado alguns
produtos que dão durabilidade e qualidade ao produto final.
O próximo passo é a defumação do tecido no esquadro: o seringueiro vai
passando-o sobre a fumaça do forno defumador. Depois disso, leva-se ao sol,
para finalizar a secagem.
Na cidade de Machadinho D´Oeste,
localizada a 400 km de Porto Velho, capital do estado de Rondônia, existem 12
reservas extrativistas, sendo 8 ativas. Em uma delas, a Quariquara, moram 38
famílias. Eles transformaram o látex em um tecido ecologicamente correto e de
produção sustentável com a finalidade de se produzir pastas, bolsas e mochilas. O processo acontece na hora da
defumação, onde o látex é defumando sobre uma manta de algodão. A comunidade
aprendeu a costurar e com este tecido da floresta e produz bolsas que são
vendidas em lojas de vários estados brasileiros.
Para uma produção maior se usa uma
estufa. Com mistura de pigmentos, pode-se fazer uma gama imensa de cores.
A produção sustentável da borracha
para a confecção de artesanato, couro vegetal e outros produtos que une design
e sustentabilidade, atraem o interesse de indústrias do mundo todo. O incentivo
das instituições brasileiras na exploração sustentável do látex, tem levado ao
aumento da renda às comunidades de seringueiros do Norte do Brasil.
Tembém o artesanato típico tem sua
expressão nas figuras feitas em Balata da Amazônia, um tipo de látex elástico,
proveniente de uma árvore chamada balateira, também conhecida como maparajuba (Manilkara bidentata). Nas cidades de
Monte Alegre, Alenquer, Santarém e Belém, no estado do Pará, as figuras típicas
da mata como a onça, o índio, o pescador, o barqueiro, são moldados com a
balata como matéria prima.
A balata era exportada, nas décadas
de 1930 e 1970, onde era utilizada para a produção de correias de transmissão,
cabos telefônicos, válvulas mecânicas, materiais telegráficos e odontológicos,
entre outros produtos. Estes produtos acabaram sendo substituídos pelo petróleo
e por outros tipos de látex. Então, com a queda da demanda internacional pelo
produto, alguns artesãos aproveitaram o látex que estava estragando, para
transformá-lo em artesanato.
Outro personagem importante para a
história do país foi Chico Mendes, grande líder dos seringueiros, sindicalista
e ativista ambiental, que se destacou nacional e internacionalmente na luta
pela preservação do modo de vida dos seringueiros na selva, sempre buscando,
através da União dos Povos da Floresta em defesa da Floresta Amazônica, unir os
interesses de índios, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores,
quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da
criação de reservas extrativistas.
As reservas extrativistas surgiram
como alternativa para o desenvolvimento sustentável para a Amazônia. No estado
do Acre, existem 5 reservas, entre ela a Reserva Extrativista de Xapuri, criada
em 1990 por Chico Mendes. Nela vivem cerca de duas mil famílias, que tem como
principal fonte de renda a extração da castanha do Brasil e da borracha.
Também no estado do Acre podemos
encontrar o parque Urbano Capitão Ciríaco, um antigo seringal, propriedade de
Ciríaco Joaquim de Oliveira (1858-1938). Localizado no centro da capital, Rio
Branco, o parque é considerado o único seringal urbano do mundo, conta com
cerca de 360 seringueiras e um seringueiro que produz a borracha de forma
tradicional.
O oficio do seringueiro permanece vivo, passando de geração para geração. O dia 3 de março é comemorado o dia do seringueiro.
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